Surpreendem-me os argumentos do designado "debate das esquerdas" neste final de 2008, depois de mais de 30 anos de democracia em Portugal. Primeiro, porque nunca pensei ser necessário usar no plural o conceito político de Esquerda que, per si, integra a pluralidade de tendências e a diversidade de opiniões; depois, porque, para mim, pelo menos desde os meus 6 anos de idade, Esquerda significa aquilo que hoje sei serem princípios éticos irresgatáveis: a liberdade, a igualdade, a justiça (enquanto rectidão e justeza) e a solidariedade... e digo Éticos referindo-me ao seu sentido mais literal: éticos porque implicam um elevado sentido de responsabilidade social, dadas as implicações económicas que a acção política arrasta, condiciona e determina. O bem-comum, o direito à paz e ao pão, ao trabalho, à saúde, à habitação, à educação e à cultura, sem qualquer discriminação resultante do estatuto económico, da idade, do sexo, da etnia, da deficiência, da religião ou da orientação sexual são hoje os princípios pelos quais zela, vigilante, a postura de uma Esquerda séria e responsável... incapaz de fomentar uma desordem social gratuita capaz de criar condições para se devolver o poder aos que não assumem estes princípios como inegociáveis ou de destroçar a economia real, por meros acessos de sede de poder... porque está em causa a Vida e a Existência Social das populações já de si tão sacrificadas! Por isso, não acredito que a credibilidade política se imponha pelo grau de divertimento das campanhas ou pelo negativismo radical perante as formas de organização económica, social e financeira das sociedades contemporâneas. É neste mundo que vivemos... podemos aperfeiçoá-lo mas, não temos o direito de tudo destruir em nome das convicções voluntaristas e arrebatadas da inconsciência e da irresponsabilidade política. A responsabilidade social da Esquerda é encontrar respostas alternativas às crises económicas e financeiras do nosso tempo e encontrar formas de gestão política dos sistemas sociais e culturais que garantam o exercício dos princípios que a caracterizam de forma eficaz, isto é, segundo modelos estruturais viáveis e sustentados.
Você é uma pessoa muito sólida nas suas reflexões...por isso tem dificuldade em aceitar o verbalismo radical de matriz protestatária...como diria o outro "é a vida".
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