As linhas e as formas que contam
as Viagens e a atracção do Grande Sul
-"Pelas terras mais longínquas onde andei em inúmeras comissões de serviço e nos lugares mais oblíquos do mundo, encontrei sempre um forte português", contou-me um dia no Cairo um velho coronel inglês do antigo Exército da Índias.
Com efeito, olhando para um mapa mundi podemos vislumbrar uma verdadeira world wide net que une uma imensidão de portos, ilhas e cidades onde se erguem fortificações cuja morfologia atesta uma origem comum. Essa gigantesca pista de monumentos é um ciclópico fio de Ariadne talhado em pedra que nos permite sair de Portugal, dar a volta ao mundo e regressar sem nos perdermos.
De Lisboa a Manaus, passando por Alcacer-Ceguer e Socotorá, podemos passar por Timor ou Macau. Partindo de Gale, no Srilanka, é possível subir até Calecute, Goa, Ormuz e Mascate, seguindo depois até Gondar, por Mombaça e Zanzibar. De Tânger até S. Jorge da Mina, esse fio leva-nos por Arzila, Safim, Mazagão, Mogador e Uadane, passando pela Torre do Rio do Ouro e por Arguim.
Património inesgotável, essas fortalezas, "mais do que enclaves imperialistas, foram lugares de secular convívio entre povos diferentes e focos de intensa aculturação", afirma o arquitecto Rafael Moreira que prossegue: "O fazer fortaleza, que as crónicas obsessivamente repetem, era uma prova de força por vezes gratuita e violenta mas também uma demonstração de ciência e de fixação na terra. Só isto fez com que o império colonial português não fosse uma simples cadeia de entrepostos como o dos fenícios ou dos genoveses, uma talassocracia a mais, e sim uma construção duradoura que mudou a face do mundo."
Se alguns destes monumentos estão hoje abandonados e se vão desmoronando na espuma dos oceanos, outros são considerados monumentos nacionais pelos povos dos países onde estão implantados. Muitos desses fortes e castelos são hoje palácios dos governantes, museus ou centros culturais.
Todos diferentes mas, com evidentes "traços de família", cada um marca uma etapa da Grande Viagem de deslumbramento pelos espaços exóticos e do encontro com a diferença do outro lado do mundo. Em volta das suas muralhas, baluartes e torreões pairam as pequenas estórias que fazem a grande História e que nos propomos contar.
Fernanda Durão.
as Viagens e a atracção do Grande Sul
-"Pelas terras mais longínquas onde andei em inúmeras comissões de serviço e nos lugares mais oblíquos do mundo, encontrei sempre um forte português", contou-me um dia no Cairo um velho coronel inglês do antigo Exército da Índias.
Com efeito, olhando para um mapa mundi podemos vislumbrar uma verdadeira world wide net que une uma imensidão de portos, ilhas e cidades onde se erguem fortificações cuja morfologia atesta uma origem comum. Essa gigantesca pista de monumentos é um ciclópico fio de Ariadne talhado em pedra que nos permite sair de Portugal, dar a volta ao mundo e regressar sem nos perdermos.
De Lisboa a Manaus, passando por Alcacer-Ceguer e Socotorá, podemos passar por Timor ou Macau. Partindo de Gale, no Srilanka, é possível subir até Calecute, Goa, Ormuz e Mascate, seguindo depois até Gondar, por Mombaça e Zanzibar. De Tânger até S. Jorge da Mina, esse fio leva-nos por Arzila, Safim, Mazagão, Mogador e Uadane, passando pela Torre do Rio do Ouro e por Arguim.
Património inesgotável, essas fortalezas, "mais do que enclaves imperialistas, foram lugares de secular convívio entre povos diferentes e focos de intensa aculturação", afirma o arquitecto Rafael Moreira que prossegue: "O fazer fortaleza, que as crónicas obsessivamente repetem, era uma prova de força por vezes gratuita e violenta mas também uma demonstração de ciência e de fixação na terra. Só isto fez com que o império colonial português não fosse uma simples cadeia de entrepostos como o dos fenícios ou dos genoveses, uma talassocracia a mais, e sim uma construção duradoura que mudou a face do mundo."
Se alguns destes monumentos estão hoje abandonados e se vão desmoronando na espuma dos oceanos, outros são considerados monumentos nacionais pelos povos dos países onde estão implantados. Muitos desses fortes e castelos são hoje palácios dos governantes, museus ou centros culturais.
Todos diferentes mas, com evidentes "traços de família", cada um marca uma etapa da Grande Viagem de deslumbramento pelos espaços exóticos e do encontro com a diferença do outro lado do mundo. Em volta das suas muralhas, baluartes e torreões pairam as pequenas estórias que fazem a grande História e que nos propomos contar.
Fernanda Durão.
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