O Natal é, supostamente, um tempo de conciliação... e, apesar dos valores que se lhe associam por serem universais no que respeita à paz, à igualdade, à fraternidade e à não-discriminação, a religião cristã apresenta este tempo de celebração da harmonia e da boa-vontade como coincidente com a sua mensagem... disso faz eco mediático a própria Igreja Católica cujo Papa discursa publicamente com a intenção explícita de se dirigir aos seus fiéis no dia em que se assinala, simbolicamente, o nascimento de Jesus Cristo. A responsabilidade cívica de uma intervenção desta natureza, dada a dimensão quantitativa do público a que se dirige, bem como a sua dimensão qualitativa relativa à questão da ética e dos valores que subjazem aos comportamentos sociais, é, reconhecidamente, notória e o seu significado não pode ser ignorado dado o impacto social que, efectivamente, pretende e realiza. Por isso, não é aceitável, nos tempos que correm, que o responsável por uma instituição desta natureza promova a discriminação social seja em função do sexo, da etnia, da idade, da deficiência, da religião ou da orientação sexual. Porém, contrariando os pressupostos dos princípios conceptuais da paz, da conciliação e da coexistência pacífica próprios do Natal, a mensagem do Pontífice foi, este ano, reforçadora da homofobia. Se a discriminação, enquanto tal, é absolutamente condenável, mais condenável é a sua propaganda num tempo em que os cidadãos se encontram psicológica e colectivamente preparados para ouvir e aceitar opiniões sobre os valores, a moral e a ética... a irresponsabilidade social que arrasta um tipo de atitude como esta, a par de outras como é o caso da condenação do uso do preservativos, retiram credibilidade à Igreja e justificam, cada vez mais, a urgência do debate sobre o papel pedagógico que é indispensável divulgar sobre a importância da laicização da sociedade... nas escolas, na comunicação social, no espaço público e na cultura. Incentivar e apoiar formas de discriminação é uma forma de atear e fomentar conflitos e, consequentemente, um atentado contra a promoção da Paz.
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