segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Guerra: entre o dinheiro e a ausência de coragem política


As pescadinhas não nascem com o rabo na boca - esta foi uma das coisas que me surpreendeu quando, criancinha, vi pela primeira vez um destes peixinhos em tão estranha apresentação! Ocorreu-me a lembrança à memória quando pensava num tema que já aqui aflorei: o da raiz financeira da violência. Na realidade, a associação de ideias, como factor de intervenção na própria produção do pensamento, tem destas coisas... e as pescadinhas surgiram quando tentava pensar em formas de intervir na eclosão das guerras e dos conflitos sangrentos que, com desmedida violência, vêm caracterizando estes dias e massacrando a martirizada população palestiniana. O armamento, seja da guerrilha ou do Estado, no que respeita ao seu financiamento, pode ser conhecido através dos circuitos de produção, comercialização e distribuição detectáveis desde que o investimento na sua pesquisa seja efectivo, técnica e politicamente... tal como a produção, comercialização e distribuição de droga ou as redes de tráfico de pessoas... os tráficos, geralmente associados de uma ou de outra forma, assumem sempre formas económicas susceptíveis de serem conhecidas... e o sistema financeiro de circulação de capitais oferece os meios adequados, designadamente a partir dos movimentos bancários internacionais... é, por isso, indefensável a ideia de que todos os bancos, vítimas da crise, justificam intervenções públicas... contudo, as intervenções públicas em instituições bancárias têm vindo a acontecer em grande parte dos países apresentados como modelos de desenvolvimento sem que, pelo menos no que ao conhecimento da opinião pública diz respeito, tenha sido considerada, a priori e com rigor, aquela possibilidade... a globalização e internacionalização dos movimentos de capitais viabiliza o armamento e banaliza o recurso à violência... assim, à cidadania urge também a tarefa de exigir uma legislação e fiscalização política internacional e nacional eficaz... porque a análise do problema da violência, remetendo também para uma dimensão psicológica e cultural das formas de resolução de conflitos subjacente às determinações políticas e ideológicas, requer, necessariamente, uma profunda alteração da economia internacional e dos sistemas financeiros que lhe estão associados... disso são conscientes, além de muitos históricos pensadores, intelectuais e políticos, alguns Prémios Nobel da Economia, nomeadamente desde a passada década de 90... mais uma vez, o que falta é agir em conformidade com esta consciência... poderiam ser dados exemplos óbvios para transmitir a ideia da eficácia que estes procedimentos teriam na prática mas, dada a actualidade, limito-me a referir os EUA e a UE que, agindo nos contextos comercial e financeiro relativamente a Israel, alcançariam, seguramente, resultados que, face aos massacres, valeriam sempre a pena... porém, enquanto os protagonistas do poder adiam ou contornam decisivas decisões económico-políticas, morrem e sofrem pessoas, suas iguais, por todo o planeta... em nome de argumentos cuja consistência se esboroa diante do sangue e da dôr de cada vítima da guerra, da miséria e do terror...

2 comentários:

  1. Quando li este post lembrei-me logo da palavra inglesa backbone: falta espinha dorsal, verticalidade digamos, aos dirigentes políticos. Uns adiam, contornam ou evitam de todo sequer "roçar", nem que seja levemente, nesta questão, quanto mais agir. Outros têm uma atitude ainda mais vil, no meu entender - que me traz à memória uma expressão tipicamente americana-, pois falam, falam, falam e... Ah! A expressão americana: put your money where your mouth is.

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  2. Não ser cúmplice nem sequer com o silêncio... "O que me preocupa não são os gritos dos maus mas o silêncio dos bons" - disse um dia Martin Luther King...

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