Talvez Dostoiewski me tenha ensinado, nos muros densos das personagens de um S.Petersburgo feito da intensidade dos seus mundos interiores, externos ao tempo e encerrados nas suas próprias histórias, o desfasamento entre a realidade, a sua representação e a sua vivência... eis como a Literatura pode ajudar, de facto!, o entendimento da vida. E foi provavelmente uma outra face desta aprendizagem que ensinou a Italo Calvino a percepção arquitectónica que justifica a expressão "cidades invisíveis" e que permitiu a Marc Chagall a construção da obra "Eu e a Aldeia"... Daqui à Rússia e à Itália foi sempre um passo... o passo da nossa inteligência emocional, configurada pela cultura do espaço que a globalização mais não faz do que exibir nos seus mais insignificantes detalhes - aqueles que ao olhar da distância física se não revelam e que, revelados!, pouco mais acrescentam do que a confirmação de uma mesma tragédia humana.
Dostoiévski é bem o microscópio de observação da vida humana, presidiada nas cidades... Curiosamente, aquela foto de prédio de S.Petersburgo parece uma réplica de um outro que existe no Porto. E talvez não fique por aí a semelhança entre as almas dos dois povos... :)
ResponderEliminarCaro Vasco :)
ResponderEliminarQue belo comentário aqui partilha... porque se, por um lado, a expressão com que caracteriza a obra de Dostoiewski é profundamente feliz, por outro lado, a observação comparativa com o Porto nunca me ocorrera apesar de fazer tanto sentido! Obrigado por me ter surpreendido e, principalmente, por ter enriquecido tão substancialmente este apontamento :))
Um abraço.
Caríssima Amiga Ana Paula Fitas,
ResponderEliminarA Alma Europeia anseia por uma outra Globalização. Como a Ana nos diz, de forma bastante pertinente, esta nova Globalização tem de alavancar-se em ensinamentos Humanistas, compatibilizando o progresso com o bem-estar individual e colectivo, pois só esta opção construtiva, que tenha em conta a natureza humana, na sua imensa complexidade, permitirá ao mundo ultrapassar as consecutivas crises a que este modelo de desenvolvimento nos conduziu.
Foram estes Mestres da Literatura e da Arte, em especial, para mim, Italo Calvino que muito admiro em toda a sua obra, que redimensionaram a percepção do Ser Humano como um "animal racional", emerso em emoções, antecipando historicamente a noção de inteligência emocional.
Saudações cordiais, Nuno Sotto Mayor Ferrão
www.cronicasdoprofessorferrao.blogs.sapo.pt
… hoje, mais um lindo entardecer!!!.
ResponderEliminarENTRE PARTIR E FICAR
Entre partir e ficar hesita o dia,
enamorado de sua transparência.
A tarde circular é uma baía:
em seu quieto vai e vem se move o mundo.
Tudo é visível e tudo é ilusório,
tudo está perto e tudo é intocável.
Os papéis, o livro, o vaso, o lápis
repousam à sombra de seus nomes.
Pulsar do tempo que em minha têmpora repete
a mesma e insistente sílaba de sangue.
A luz faz do muro indiferente
Um espectral teatro de reflexos.
No centro de um olho me descubro;
Não me vê, não me vejo em seu olhar.
Dissipa-se o instante. Sem mover-me,
eu permaneço e parto: sou uma pausa
Octávio Paz
M.José
Carissimo amigo Nuno Sotto Mayor Ferrão,
ResponderEliminar... o que posso eu acrescentar às suas justas palavras para além de agradecer a perfeita sintonia?
Bem-haja!...
As melhores saudações...
Minha amiga,
ResponderEliminar... que magnífica pausa, esta em que podemos apreciar o entardecer e deixar o olhar apreciar e ler o mundo... e que gratificante o poema de Octávio Paz que aqui partilhas! Obrigado :))
Abraço envolto na poesia com que colorimos os dias :)