domingo, 8 de maio de 2011

Breves mas Relevantes - Contributos para o Esboço do Paradoxo como Paradigma Contemporâneo




* Apesar de Fukushima e da manifestação cívica em Tóquio contra a política energética do Japão, o governo japonês afirma que continuará a investir na opção nuclear (mesmo quando outros seus parceiros de causa estão dispostos a desistir - é o caso da Alemanha);


* Apesar dos EUA terem dito, a propósito das questões recorrentes sobre a morte de bin Laden e a Al-Qaeda, que não iriam armar os revoltosos líbios por considerarem que a emergência desta organização decorreu do armamento dos revoltosos no Afeganistão, a Itália anunciou que vai armar os revoltosos líbios;


* Apesar do carácter bem-intencionado das revoltas árabes que marcaram o princípio de 2011 e de que El Baradei, há dias, no Estoril, disse serem movimentos sociais de jovens que lutam pelo respeito pelos direitos, liberdades e garantias de um regime democrático, contra as ditaduras e por melhores condições de vida, os confrontos sangrentos continuam na Síria e surgem também no Egipto incidentes gravosos que tornam mais complexo o juízo, cada vez mais perplexo e preocupado...


Entretanto, por cá:


* Enquanto Maria João Rodrigues diz que o Acordo com a Troika conseguiu proteger a classe média baixa e os mais desprotegidos, independentemente do grau de sacrifícios que vai exigir ao país (leia-se aqui a versão portuguesa do Memorando que o Aventar disponibilizou, prestando um verdadeiro serviço público aos cidadãos), Mário Soares afirma que o Acordo é melhor do que se esperaria e do que a Grécia conseguiu negociar e Mira Amaral considera que o Acordo é um "trabalho tão bem feito" sobre a economia nacional que, na sua opinião, estava a ser preparado há muito tempo, não tendo resultado apenas da estadia dos especialistas do FMI, da CE e do BCE em Portugal;


* Enquanto Nuno Serra no Ladrões de Bicicletas nos relembra o protagonismo português da grande defesa do que designa por "economia do endividamento", Vega 9000 apresenta no Aspirina B, uma reflexão sobre a dívida da Grécia à banca internacional no contexto de uma reflexão sobre o Euro que urge ser levada a sério e José Simões chama a atenção para um pormenor produtivo (??) que não é irrelevante, sem detrimento da graça e do impacto da produção, no Der Terrorist.


... pois... para exemplificar o paradoxo como paradigma da relação entre a política e a sociedade, chega!... por ora, claro!

12 comentários:

  1. A sociedade contemporânea está repleta de paradoxos como os que refere e outros... mediante este novo paradigma, é surpreendente que não sejamos todos esquizofrénicos sociais (inventei esta agora...), resultado de linguagens e mensagens contraditórias... ou seremos? Tenho dúvidas... quando nos vejo a preferir muitas vezes viver numa espécie de Matrix da nossa vidinha formatada, do que activamente participar na mudança da sociedade que sabemos ser injusta... o nosso discurso, também não coincide com as nossas acções (ou falta deles...) divaguei, :) mas nem tanto assim! :)) Bom Domingo!

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  2. Ana Paula,

    Como sabe, tenho grande respeito por si. O que não impede de, por vezes, divergir. A paradoxal Maria João Rodrigues, socióloga formada no ISCTE, foi uma Ministra do Trabalho falhada que Guterres afastou e sugere-me a seguinte interrogação: "Como é que ainda consegue ser ouvida?".
    Quando ela diz que o acordo é 'protector da classe média baixa', que tipo de parãmetros conceptuais utiliza? Os cidadãos da classe média que não têm mais de 1,55 m de altura? Ela, o Dr. Soares e o Eng.º Mira são precisamente três dos exemplos de capacioso oportunismo de viver muito bem à custa do Estado, mas também do exercício do tipo de cidadania abjecta que tem nutrido há mais de 30 anos a sociedade injusta, corrupta e socialmente disfuncional em que nos convertemos.
    Agora, corremos o risco de passar à fase Passos Coelho, com o aval do Dr. Soares e do seu amigo Nobre que não é propriamente o benemérito que as pessoas pensam (veja-se organograma e contas da AMI, com olhos de ver).
    Com frontalidade, mas, como sempre, com muita amizade,
    Carlos Fonseca

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  3. Eva :)
    Obrigado pela saudável "divagação" :)))
    Bom domingo :))

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  4. Carlos,
    Obrigado pelo comentário que, como sempre, recebo com apreço e consideração... quanto mais não constando nele qualquer divergência essencial :))
    Um abraço, com a sinceridade e a amizade de sempre.

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  5. Posso contribuir?
    Cá vai, então

    Depois do "bom acordo" do memorando assinado parece paradoxal que "O risco de incumprimento da dívida soberana portuguesa subiu para perto dos 42%, ultrapassando o risco atribuído ao Paquistão. Portugal regressa, assim, ao 4º lugar no "clube" dos 10 de maior risco à escala mundial", (segundo o monitor de probabilidade de incumprimento da CMA Datavision) e que os "Juros da dívida pública portuguesa renovam máximos - Os juros exigidos pelos investidores para comprar dívida soberana portuguesa com maturidade a dez anos estavam a ser negociados, na manhã desta sexta-feira, nos 9,715 por cento, atingindo um novo máximo histórico", (segundo a Bloomberg)...

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  6. Olá Rogério,
    Obrigado pelo contributo até porque, apesar de tudo!, o acordo foi o melhor que, no quadro das possibilidades plausíveis em termos de viabilidade nos termos do contexto em que nos inserimos, podiamos ter conseguido - exactamente pelas razões que aqui expõe já que, sem o dito acordo (seguramente segundo nos é possível perceber pela lógica dos mercados financeiros), a nossa imagem em termos de crédito de confiança destes mesmos mercados, não estaria melhor... o paradoxo está, na minha opinião, no facto de continuar vigente esta lógica cujo preço é a economia e a independência dos países e a sobrevivência dos cidadãos, ao invés de se alterarem regras, critérios e indicadores de ponderação e avaliação... e esse é um paradoxo internacional que, por isso mesmo, corre bem o risco de se tornar o paradigma da contemporaneidade.
    Um abraço.

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  7. Amiga ,

    ... aos apressados e barulhentos direi com Nietzsche «o futuro chega com passinhos de pomba» e, com a sabedoria popular acrescentarei «vamos lá separar o trigo do joio» e escutar com atenção, o que importa no presente.

    Abraço em jeito de pomba
    M.José

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  8. Minha Amiga Em Jeito de Pomba,
    Obrigado por teres vindo até aqui e enchido de luz com a tua claridade, este espaço que tenta proceder exactamente como bem dizem as tuas palavras: "«vamos lá separar o trigo do joio» e escutar com atenção o que importa no presente."
    Um beijo no voo de uma branca pomba - exactamente aquela que leva no seu bico o raminho de oliveira...

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  9. Cara Ana Paula Fitas, Desculpe a insistência. Mas eu quis (e quero) alertar para o paradoxo da falta (?) de eficância de um acordo que não repõem a confiança dos mercados (conforme as citaçoes, que acima lhe fiz, da imprensa de ontem e de hoje). A questão é (parece ser) a de que os sacrificios não sendo os que temiamos são contudo insuficientes para nos dar a tranquilidade requerida. Será esta a nossa vida?

    Sabe certamente que há sectores (Prof. Jacinto Nunes, Silva Lopes, entre outros) que acham que o que foi acordado não vai funcionar, por incidir apenas numa pequena parte da divida (será quanto, o total?) ou porque o primeiro semestre, por não ser a doer, não trará a dinâmica necessária às mudanças que foram acordadas... Acho que há razões para estar preocupado, já para não falar da situação, incrivel, que é ver a CE a pressionar para o parlamento (que por falta de legitimidade não festejou o 25 de Abril) ter de reunir e aprovar o acordo. Espero que tal não se confirme...

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  10. Caro Rogério,
    Tem toda a razão em recear o que receia... esse é, aliás, o meu próprio receio na medida em que, a não existir uma alteração estrutural da forma de gestão económico-financeira da Europa nenhum país está, digamos assim, "a salvo" dos efeitos das crises provocadas pelos imprevistos que são muitos e, muito provavelmente, cada vez mais uma vez que essa é a melhor arma do controle político e da influência eficaz na correlação de forças entre os poderosos grupos financeiros que se defrontam na arena dos mercados, sem olhar aos cidadãos que afectam... A total desumanização e o anonimato perverso desta economia são a máscara que permite a continuidade do sistema, tornando-o sem rosto e relativizando as culpas... Porém, a questão que se me coloca é, se assim quiser, de natureza pragmática: se nada aceitarmos neste jogo, estaremos a condenar à pobreza mais pessoas mais depressa... podemos fazê-lo em nome da nossa consciência política e ideológica?
    Abraço.

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  11. Um post que merceia um comentário extenso, mas que seria de absoluta consonância com o que a Ana Paula escreve.
    Confesso que me vai ser muito difícil fazer uma escolha consciente no dia 5 de Junho mas,sei que o meu voto será sempre um paradoxo. Votar à esquerda (por razões que há dias expliquei no CR) é um imperativo do coração, mas dada a responsabilidade da esquerda na crise e a certeza de que nada de assertivo nos pode oferecer, parece-me que não é solução. Na situação actual não há espaço para votos de protesto.
    Votar na continuidade pode ser um aval à continuidade de uma política que venho criticando há anos, mas olhando para o lado vejo o que PPC nos promete e eriçam-se-me os cabelos.
    Ainda não percebi o que a esquerda pretende depois de se aliar à direita para chumbar o PEC.
    Por isso, talvez vote a pensar nas palavras de Álvaro Cunhal na segunda volta das presidenciais de 1986. Um aparadoxo? Certamente que sim, mas como ele dizia, às vezes é preciso engolir um sapo, para evitar um mal maior.

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  12. Caro Carlos Barbosa de Oliveira,
    ... subscrevo todas as suas palavras... de facto, há momentos em que, de facto!, o interesse colectivo se sobrepõe à opinião individual... e são esses momentos que nos fazem sentir "na pele" a natureza complexa do que entendemos por "paradoxo"...
    Um grande abraço.

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