* Apesar de Fukushima e da manifestação cívica em Tóquio contra a política energética do Japão, o governo japonês afirma que continuará a investir na opção nuclear (mesmo quando outros seus parceiros de causa estão dispostos a desistir - é o caso da Alemanha);
* Apesar dos EUA terem dito, a propósito das questões recorrentes sobre a morte de bin Laden e a Al-Qaeda, que não iriam armar os revoltosos líbios por considerarem que a emergência desta organização decorreu do armamento dos revoltosos no Afeganistão, a Itália anunciou que vai armar os revoltosos líbios;
* Apesar do carácter bem-intencionado das revoltas árabes que marcaram o princípio de 2011 e de que El Baradei, há dias, no Estoril, disse serem movimentos sociais de jovens que lutam pelo respeito pelos direitos, liberdades e garantias de um regime democrático, contra as ditaduras e por melhores condições de vida, os confrontos sangrentos continuam na Síria e surgem também no Egipto incidentes gravosos que tornam mais complexo o juízo, cada vez mais perplexo e preocupado...
Entretanto, por cá:
* Enquanto Maria João Rodrigues diz que o Acordo com a Troika conseguiu proteger a classe média baixa e os mais desprotegidos, independentemente do grau de sacrifícios que vai exigir ao país (leia-se aqui a versão portuguesa do Memorando que o Aventar disponibilizou, prestando um verdadeiro serviço público aos cidadãos), Mário Soares afirma que o Acordo é melhor do que se esperaria e do que a Grécia conseguiu negociar e Mira Amaral considera que o Acordo é um "trabalho tão bem feito" sobre a economia nacional que, na sua opinião, estava a ser preparado há muito tempo, não tendo resultado apenas da estadia dos especialistas do FMI, da CE e do BCE em Portugal;
* Enquanto Nuno Serra no Ladrões de Bicicletas nos relembra o protagonismo português da grande defesa do que designa por "economia do endividamento", Vega 9000 apresenta no Aspirina B, uma reflexão sobre a dívida da Grécia à banca internacional no contexto de uma reflexão sobre o Euro que urge ser levada a sério e José Simões chama a atenção para um pormenor produtivo (??) que não é irrelevante, sem detrimento da graça e do impacto da produção, no Der Terrorist.
... pois... para exemplificar o paradoxo como paradigma da relação entre a política e a sociedade, chega!... por ora, claro!
A sociedade contemporânea está repleta de paradoxos como os que refere e outros... mediante este novo paradigma, é surpreendente que não sejamos todos esquizofrénicos sociais (inventei esta agora...), resultado de linguagens e mensagens contraditórias... ou seremos? Tenho dúvidas... quando nos vejo a preferir muitas vezes viver numa espécie de Matrix da nossa vidinha formatada, do que activamente participar na mudança da sociedade que sabemos ser injusta... o nosso discurso, também não coincide com as nossas acções (ou falta deles...) divaguei, :) mas nem tanto assim! :)) Bom Domingo!
ResponderEliminarAna Paula,
ResponderEliminarComo sabe, tenho grande respeito por si. O que não impede de, por vezes, divergir. A paradoxal Maria João Rodrigues, socióloga formada no ISCTE, foi uma Ministra do Trabalho falhada que Guterres afastou e sugere-me a seguinte interrogação: "Como é que ainda consegue ser ouvida?".
Quando ela diz que o acordo é 'protector da classe média baixa', que tipo de parãmetros conceptuais utiliza? Os cidadãos da classe média que não têm mais de 1,55 m de altura? Ela, o Dr. Soares e o Eng.º Mira são precisamente três dos exemplos de capacioso oportunismo de viver muito bem à custa do Estado, mas também do exercício do tipo de cidadania abjecta que tem nutrido há mais de 30 anos a sociedade injusta, corrupta e socialmente disfuncional em que nos convertemos.
Agora, corremos o risco de passar à fase Passos Coelho, com o aval do Dr. Soares e do seu amigo Nobre que não é propriamente o benemérito que as pessoas pensam (veja-se organograma e contas da AMI, com olhos de ver).
Com frontalidade, mas, como sempre, com muita amizade,
Carlos Fonseca
Eva :)
ResponderEliminarObrigado pela saudável "divagação" :)))
Bom domingo :))
Carlos,
ResponderEliminarObrigado pelo comentário que, como sempre, recebo com apreço e consideração... quanto mais não constando nele qualquer divergência essencial :))
Um abraço, com a sinceridade e a amizade de sempre.
Posso contribuir?
ResponderEliminarCá vai, então
Depois do "bom acordo" do memorando assinado parece paradoxal que "O risco de incumprimento da dívida soberana portuguesa subiu para perto dos 42%, ultrapassando o risco atribuído ao Paquistão. Portugal regressa, assim, ao 4º lugar no "clube" dos 10 de maior risco à escala mundial", (segundo o monitor de probabilidade de incumprimento da CMA Datavision) e que os "Juros da dívida pública portuguesa renovam máximos - Os juros exigidos pelos investidores para comprar dívida soberana portuguesa com maturidade a dez anos estavam a ser negociados, na manhã desta sexta-feira, nos 9,715 por cento, atingindo um novo máximo histórico", (segundo a Bloomberg)...
Olá Rogério,
ResponderEliminarObrigado pelo contributo até porque, apesar de tudo!, o acordo foi o melhor que, no quadro das possibilidades plausíveis em termos de viabilidade nos termos do contexto em que nos inserimos, podiamos ter conseguido - exactamente pelas razões que aqui expõe já que, sem o dito acordo (seguramente segundo nos é possível perceber pela lógica dos mercados financeiros), a nossa imagem em termos de crédito de confiança destes mesmos mercados, não estaria melhor... o paradoxo está, na minha opinião, no facto de continuar vigente esta lógica cujo preço é a economia e a independência dos países e a sobrevivência dos cidadãos, ao invés de se alterarem regras, critérios e indicadores de ponderação e avaliação... e esse é um paradoxo internacional que, por isso mesmo, corre bem o risco de se tornar o paradigma da contemporaneidade.
Um abraço.
Amiga ,
ResponderEliminar... aos apressados e barulhentos direi com Nietzsche «o futuro chega com passinhos de pomba» e, com a sabedoria popular acrescentarei «vamos lá separar o trigo do joio» e escutar com atenção, o que importa no presente.
Abraço em jeito de pomba
M.José
Minha Amiga Em Jeito de Pomba,
ResponderEliminarObrigado por teres vindo até aqui e enchido de luz com a tua claridade, este espaço que tenta proceder exactamente como bem dizem as tuas palavras: "«vamos lá separar o trigo do joio» e escutar com atenção o que importa no presente."
Um beijo no voo de uma branca pomba - exactamente aquela que leva no seu bico o raminho de oliveira...
Cara Ana Paula Fitas, Desculpe a insistência. Mas eu quis (e quero) alertar para o paradoxo da falta (?) de eficância de um acordo que não repõem a confiança dos mercados (conforme as citaçoes, que acima lhe fiz, da imprensa de ontem e de hoje). A questão é (parece ser) a de que os sacrificios não sendo os que temiamos são contudo insuficientes para nos dar a tranquilidade requerida. Será esta a nossa vida?
ResponderEliminarSabe certamente que há sectores (Prof. Jacinto Nunes, Silva Lopes, entre outros) que acham que o que foi acordado não vai funcionar, por incidir apenas numa pequena parte da divida (será quanto, o total?) ou porque o primeiro semestre, por não ser a doer, não trará a dinâmica necessária às mudanças que foram acordadas... Acho que há razões para estar preocupado, já para não falar da situação, incrivel, que é ver a CE a pressionar para o parlamento (que por falta de legitimidade não festejou o 25 de Abril) ter de reunir e aprovar o acordo. Espero que tal não se confirme...
Caro Rogério,
ResponderEliminarTem toda a razão em recear o que receia... esse é, aliás, o meu próprio receio na medida em que, a não existir uma alteração estrutural da forma de gestão económico-financeira da Europa nenhum país está, digamos assim, "a salvo" dos efeitos das crises provocadas pelos imprevistos que são muitos e, muito provavelmente, cada vez mais uma vez que essa é a melhor arma do controle político e da influência eficaz na correlação de forças entre os poderosos grupos financeiros que se defrontam na arena dos mercados, sem olhar aos cidadãos que afectam... A total desumanização e o anonimato perverso desta economia são a máscara que permite a continuidade do sistema, tornando-o sem rosto e relativizando as culpas... Porém, a questão que se me coloca é, se assim quiser, de natureza pragmática: se nada aceitarmos neste jogo, estaremos a condenar à pobreza mais pessoas mais depressa... podemos fazê-lo em nome da nossa consciência política e ideológica?
Abraço.
Um post que merceia um comentário extenso, mas que seria de absoluta consonância com o que a Ana Paula escreve.
ResponderEliminarConfesso que me vai ser muito difícil fazer uma escolha consciente no dia 5 de Junho mas,sei que o meu voto será sempre um paradoxo. Votar à esquerda (por razões que há dias expliquei no CR) é um imperativo do coração, mas dada a responsabilidade da esquerda na crise e a certeza de que nada de assertivo nos pode oferecer, parece-me que não é solução. Na situação actual não há espaço para votos de protesto.
Votar na continuidade pode ser um aval à continuidade de uma política que venho criticando há anos, mas olhando para o lado vejo o que PPC nos promete e eriçam-se-me os cabelos.
Ainda não percebi o que a esquerda pretende depois de se aliar à direita para chumbar o PEC.
Por isso, talvez vote a pensar nas palavras de Álvaro Cunhal na segunda volta das presidenciais de 1986. Um aparadoxo? Certamente que sim, mas como ele dizia, às vezes é preciso engolir um sapo, para evitar um mal maior.
Caro Carlos Barbosa de Oliveira,
ResponderEliminar... subscrevo todas as suas palavras... de facto, há momentos em que, de facto!, o interesse colectivo se sobrepõe à opinião individual... e são esses momentos que nos fazem sentir "na pele" a natureza complexa do que entendemos por "paradoxo"...
Um grande abraço.