segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Georges Soros ou a perigosa cegueira de uma certa economia política...

George Soros, o multimilionário que se tem destacado pela análise económica com que tem acompanhado a dinâmica dos mercados, defende a saída "ordeira" do euro por parte de Portugal e da Grécia, por considerar que as dívidas soberanas destes países estão a promover a instabilidade económico-financeira da UE (ler aqui).. a proposta, decorrente da convicção de G.Soros de que esta possibilidade permitiria a sobrevivência da União, feita (não nos esqueçamos!) por um investidor com interesses publicamente conhecidos nos mercados, não é inocente - nomeadamente quando se constata que coincide com as declarações do Banco Mundial que afirma a dimensão inédita de uma nova e perigosa crise na economia mundial, provocada pela crise europeia. Porém, para além de não ser inocente, esta proposta é completamente destituída de sentido de responsabilidade política! É verdade que Georges Soros não é um político (?!) e que a saída do euro poderia ser útil a muitas economias nacionais - se - e apenas se!!- fosse acompanhada de programas de recuperação económica capazes de promoverem autonomamente e sem restrições os aparelhos produtivos de cada país, por um lado, criando emprego e aumentando o ritmo de crescimento da riqueza e, por outro lado, desenvolvendo as políticas externas capazes de rentabilizar as exportações a preços altamente competitivos! Contudo, sem dinheiro e sem investimentos, as economias que ficassem fora do euro dificilmente encontrariam condições financeiras para que tais programas fossem levados à prática com sucesso, representando a saída da "moeda única", no actual enquadramento europeu, a condenação de Portugal e da Grécia à pobreza e à miséria. Além disso e com particular pertinência para a ausência de pensamento político de G.Soros (?!) e ao seu total distanciamento dos valores em que assentou o espírito da construção da UE afecto aos  princípios da solidariedade e da subsidiariedade entre Estados-membros, nada -mas mesmo absolutamente nada!- garante que a saída de Portugal e da Grécia permitiria à União Europeia sair da crise em que se encontra e evitar novos cataclismos económico-financeiros... porque, se a UE, enquanto organização regional à escala mundial, não tem capacidade para ultrapassar conjuntamente as contrariedades de crescimento de duas das mais pequenas economias que a integram, não terá capacidade para sobreviver à medida que se fortalecem as economias dos chamados "países emergentes" que, cada vez mais, ameaçam a tradicional representação do domínio norte-americano e europeu dos mercados. Não considero, por tudo isto e pelo que lhe é recorrente, que a proposta de G.Soros responda à exigência da sustentabilidade política e de eficácia económica de que a Europa precisa... mas, como é óbvio, na sua qualidade de investidor, a G.Soros convém "ganhar tempo" porque "tempo é dinheiro" e aos investidores preocupa-os a instabilidade e o prejuízo imediato que o curso das decisões políticas pode implicar, designadamente quando pensamos na tendência franco-germânica e, previsivelmente, inglesa (vale a pena ler a entrevista do General Loureiro dos Santos ao Jornal i) que aproxima a UE que conhecemos do que, desde o final da II Guerra Mundial, com a Declaração dos Direitos Humanos, andamos a tentar evitar...     

8 comentários:

  1. ...e não é necessário dizer mais nada.
    Um abraço, Ana Paula

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  2. Obrigado, Miguel... aproveito para o saudar pelos seus mais recentes textos :)
    Um abraço.

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  3. Portugal e Grécia fora da UE ficam nas mãos do sr. Soros e de outros como ele. Para além da esperteza saloia de que dá provas, indica razões, caminhos?

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  4. Caro Luís Moreira,
    ... bem observado!... muito bem observado!... e a expressão "esperteza saloia" além da pertinente pergunta, completam o bom comentário, incisivo e, como convém, sem rodeios.
    Obrigado.
    Um abraço.

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  5. Obrigado, Ana Paula.
    É bom saber que continua desse lado .
    Um abraço mais.

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  6. Obrigada Ana Paula, um texto muitissmo esclarecedor.

    Beijinho
    :))

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  7. Como diria o J.Fanha "(...) do lado de cá da vida (...)", Miguel... Sempre!
    Um abraço.

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  8. Querida Ariel,
    Obrigado pelas boas palavras :)
    Um beijinho

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