sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Nascer Mulher na Índia...


Nascer mulher na Índia, superpotência emergente


Na Índia, o nascimento de crianças do sexo feminino é uma infelicidade para a família, incluindo para a própria mãe, para a qual, pior do que as dores do parto, é o facto de saber que deu à luz uma menina. Os olhares, vozes e gestos dos membros da sua família e comunidade são de repúdio, consternação e incúria. Muitas parturientes de meninas são negligenciadas, maltratadas e, inclusivamente, abandonadas pelos seus maridos.
De acordo com a UNICEF, o distrito de Shravasti constitui a pior região indiana para nascer mulher. No "Global Gender Gap Report 2007", a Índia ocupa a 114ª posição, num conjunto de 128 países: a igualdade na educação, a saúde e a economia são muitíssimo débeis no país.
Para a sociedade indiana, a mulher representa um pesado encargo financeiro, uma vez que, aquando do casamento, a família da noiva terá de efectuar o pagamento do dote. Na verdade, o sistema tradicional do casamento indiano determina que "as raparigas deixam a casa dos seus pais permanentemente no dia do seu casamento" para integrar o núcleo familiar do seu marido, acompanhadas por um "montante significativo". Não obstante a ilegalidade do dote - desde 1960 -, este é uma prática corrente entre os indianos, e fundamente nefasta para a mulher. Nela, vêem somente o dispêndio de cifrões em vez da sua identidade própria, confinam-na ao menosprezo e à segregação, cerceiam os seus direitos fundamentais.
Na índia, bem como no Paquistão e na China, o infanticídio e o feticídio femininos são amplamente praticados. Por meio de "um processo psicológico que a comunidade desenvolve", as indianas são instigadas a matar as suas próprias filhas. A pressão recai sempre na mãe da criança, consideradas, frequentemente, culpadas pelo nascimento de uma rapariga - "há cada vez mais sogras a queimar as noras vivas". Por isso, muitas indianas matam as suas filhas antes ou após o parto. Com o desenvolvimento tecnológico, muitas recorrem à selecção pré-natal do sexo da criança no sentido de evitar o nascimento de meninas. Este recurso redunda, frequentemente, no feticídio feminino. Na Índia, estima-se que cerca de 10 milhões de fetos femininos foram abortados nos últimos 20 anos. A erradicação de tais práticas exige uma mudança de atitudes, o banimento das barreiras mentais edificadas pelo patriarcado e nutridas pela pobreza e encarceramento intelectual.
A Índia está, no entanto, em processo de expansão e tornar-se-á numa das três maiores economias do mundo, superando a China como o país mais populoso em 2032. Porém, o espectacular crescimento do sub continente está a acontecer tendo como pano de fundo uma sociedade que ainda não está à vontade com a modernidade liberal. A Índia emergente continua a ser assolada por profundas contradições: é uma potência nuclear, mas 40% das suas crianças estão ainda subalimentadas; a par de um dinamismo económico crescente coexiste uma sólida filosofia anti materialista; ao albergar o que há de mais recente em termos de investigação e desenvolvimento, é simultaneamente a pátria de um dos movimentos religiosos mais arreigadamente nacionalistas do mundo e de uma cultura terrivelmente sexista.

Texto de: Paula Brito

Fotografia de: Elias Monteiro

4 comentários:

  1. Cumprimento o autor da fotografia,pela sua qualidade...
    E reconheço que a realidade descrita a propósito da aceitação do nascimento de seres humanos do sexo feminino, na Velha e Grande Índia,quase que supera em desumanidade o que conheço em termos de violência de género na Arábia Saudita, no Irão e quejandos...
    É urgente continuar a denunciar, como faz a Autora!

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  2. Em nome dos autores (Texto de Paula Brito e fotografia de Elias Monteiro), A Nossa Candeia agradece o estimulante e enriquecedor comentário.
    Bem-haja!

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  3. Adorei o conteúdo de seu blog. Me ajudou bastante em um trabalho de escola (Sociologia). Um conteúdo muito interessante. Parabéns!

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  4. Parabéns pelo conteúdo. Me ajudou bastante em pesquisas.

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