Depois da eclosão da crise cujos reflexos económicos estão ainda em desenvolvimento por todo o planeta, urge perguntar: quais as lições que, efectivamente, resultam desse terramoto da arquitectura financeira que afectou inequivocamente o sistema bancário em que assenta o crédito institucional e privado?... apesar de todas as reflexões provocadas no decorrer do que se receou ser a "hecatombe" que conduziu, por um lado, ao ressuscitar de marxismos, keysianismos, supervisões, regulações e intervenções dos Estados, e, por outro lado, à crítica desassombrada de neoliberalismos, capitalismos, mercados, banca e off-shores, a questão que se coloca é a de saber que conclusões consensuais se retiraram da gravidade desta ocorrência e que medidas serão adoptadas, de factum, pelas instituições internacionais e nacionais no sentido de recuperar a confiança no sistema e de restaurar os mecanismos processuais da liquidez que garante o investimento e o consumo... Face às elevadas (e está por provar se realmente sustentáveis) taxas de desemprego e endividamento, ao aumento exponencial da pobreza e ao desinvestimento social em todas as dimensões da vida societária com excepção dos meios de subsistência, assiste-se, com estranheza!, ao silêncio público dos protagonistas políticos, económicos, financeiros, intelectuais, científicos e sociais sobre o assunto... estranheza maior porque foi consensual o reconhecimento da necessidade de adopção de novos modelos de gestão -mesmo entre os defensores do mercado sem regulação que caracteriza o conhecido "capitalismo selvagem" que, face à realidade, caiu "em desgraça"... de Obama ao G8, de Sarkozy a Durão Barroso e Angela Merkel, em reuniões e cimeiras diversas, o problema assumiu contornos de prioridade internacional... contudo, nem as medidas de supervisão do sistema bancário que todos acordaram em promover, voltaram a ser notícia... nem a determinação em proibir todo o tipo de off-shores... e menos ainda o foram as propostas de apoio à articulação de programas de apoio ao investimento e ao consumo dos cidadãos... mais grave nesta ilacção que retiramos de uma espécie de constatação de incapacidade de, inteligentemente, aprender com a crise, é o facto de ser conhecida a existência de instrumentos susceptíveis de serem direccionados para a resposta à crise: fundos comunitários, incentivos bancários, micro-crédito... o que falta é a redefinição de regras, no sentido da sua adequação, justa e acessível, às necessidades, competências e capacidades das pessoas... falta afinal, intervenção política!... em período eleitoral, depois de perdida a oportunidade de pensar conjunta e seriamente o problema em Junho passado, antes das Eleições Europeias, seria meritório e interessante que o debate fosse agora promovido... para se desmascararem demagogias e para se apresentarem propostas viáveis e eficazes, reconhecidamente úteis para a vida dos cidadãos... para se combater a abstenção, para se voltar a acreditar na política e na governação mas, acima de tudo, para se devolverem condições de vida dignas às populações.
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