segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Ruralidade - um recurso estratégico para o futuro...


"(...) Hoje, o problema que se coloca é o de saber que apoios financeiros estão as instituições, comunitárias e nacionais, dispostas a investir e a dedicar ao mundo rural… porque, infelizmente, a tendência contemporânea na ideologia da modernidade é, ainda, a de privilegiar o crescimento das cidades apesar da consciência do risco das assimetrias de desenvolvimento, da concentração populacional e do empobrecimento. A História explica a emergência das grandes metrópoles, resultantes da crença de que a concentração territorial dos sectores secundário e terciário, pela redução de custos na distribuição dos produtos e no recrutamento da mão-de-obra, bastariam para a criação da riqueza; porém, a actualidade demonstrou a fragilidade e insuficiência deste modelo, denotando a urgência do investimento no sector primário revitalizado e a desconcentração do investimento industrial. Em causa está a capacidade de privilegiar as condições de vida das pessoas e de promover o equilíbrio do desenvolvimento… e só depois de resolvido este dilema da modernidade e de concretizada politicamente esta opção, poderemos aspirar a que os apoios financeiros, nacionais e comunitários, sejam dirigidos em quantidade e qualidade, para o mundo rural. Nessa altura, se ainda existirem, os fundos comunitários direccionados para o desenvolvimento rural e regional, poderão então ser geriso pelas comunidades, organizações e instituições vocacionadas para o efeito e devidamente integradas no território… até lá, o que, feitas as contas, se destinar ao mundo rural, continuará a ser gerido pelas cidades que continuarão a olhar para a ruralidade como um espaço de lazer e não como um espaço para viver… é a perspectiva “dos outros” sobre “os outros”… uma perspectiva perfeitamente desadequada ao mundo rural que precisa de ser pensado como um espaço “nosso” e “para nós”… A mudança de perspectiva precisa, por tudo isto, de ser estudada e repetida à exaustão… criar condições para o efeito é um passo essencial para o processo de desenvolvimento que implica a capacidade de canalizar verbas para o investimento local e regional… conquistar o reconhecimento do valor do mundo rural é hoje uma Causa da sociedade contemporânea… uma Causa que justifica todos os esforços e o esforço de todos… por todos nós!"


(Conclusão do artigo que publiquei no trimestre em curso na Revista "Viver")

4 comentários:

  1. Cara Ana P.,
    Apenas uma breve contribuição para ir ao encontro das suas palavras: “(...) conquistar o reconhecimento do valor do mundo rural é hoje uma Causa da sociedade contemporânea…”. Dever-se-á pensar que o mundo rural não é uma brincadeira do passado, a nossa sobrevivência depende (entre outros factores) da produção de alimentos: “O Homem vai buscar mais de 90% dos alimentos ao solo. Só os cereais representam cerca de 80% dos alimentos consumidos no mundo. Apesar de todos os avanços tecnológicos, o solo é e será sempre necessário para a produção de alimentos e fibras. As plantas captam a radiação solar, dióxido de carbono da atmosfera, água e elementos minerais do solo, e sintetizam os compostos orgânicos utilizados como alimento por quase todos os outros organismos. Estes vão de minúsculas bactérias, passando por animais ruminantes e carnívoros, até nós” (Varennes, A. (2003). Produtividade dos Solos e Ambiente. Lisboa: Escolar Editora. P.3). Reflecti à pouco tempo "perto" da problemática que menciona e acabei por perceber: “São considerados essenciais para o desenvolvimento das plantas verdes, pelo menos os seguintes dezasseis elementos: carbono, oxigénio, hidrogénio, azoto, fósforo, potássio, cálcio, magnésio, enxofre, ferro, manganês, zinco, cobre, molibdénio, boro e cloro” (Costa, J. B. (2004). Caracterização e Constituição do Solo (7ª ed.). Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. P.17). Porventura, se houver uma imperfeição dos elementos essenciais às plantas, haverá também a redução da qualidade, causando não só distúrbios metabólicos, mas também a própria contaminação da cadeia alimentar humana...enfim uma pequena adenda a pensar. Um abraço

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  2. Está a ver Ana Paula?!
    Com a ajuda da tecnologia, conseguiu mostrar-nos uma foto da sua alma! :) Afinal nem tudo é mau... consegui à distãncia, visualizar o seu espírito!!!

    MUIIITO BONITO

    Beijinho do grão de pó.

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  3. Obrigado, Jeune Dame pelo esclarecedor contributo com que enriqueceu este texto. De facto, é uma Grande Adenda que muito traz à reflexão contemporânea que se distrai, excessivamente, em relação ao essencial. Um grande abraço.

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  4. ... Sensibilizada e feliz, foi depois de muito tempo a olhar para as belas palavras deste comentário da Fada do Bosque que consegui escrever o que de mais singelo e sentido posso dizer desta forma: Obrigado pela generosidade da beleza desse modo de olhar a vida e de a partilhar... Fada do Bosque é o seu nome verdadeiro... qualquer outro é apenas um modo de simplificar a nomeação de uma pessoa especial... encantada, daqui segue, na luz de um pirilampo, um grande abraço amigo e um beijinho :)

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