Vivemos em sociedades violentas. Apesar de toda a propaganda e dos termos de comparação com sociedades guerreiras ou em estado de guerra, as sociedades ocidentais e democráticas de hoje continuam a manifestar expressões de agressividade que, cada vez mais sofisticadas e diversas, não deixam de ser extremamente preocupantes. Cabe, por isso, aos agentes sociais, políticos e educativos estar atentos, de modo a serem compreendidas as causas e prevenidos os efeitos da violência social que grassa entre nós, de forma mais ou menos dissimulada, relativizada ou negligenciada. O bullying está na ordem do dia, nomeadamente por se evidenciar em meio escolar. Sejamos claros! Sempre existiu violência na escola! Os mais fortes sempre agrediram os mais fracos e os mais pobres... meninos e meninas! O bullying não é, por isso, uma nova realidade mas, isso sim, apenas!, um novo conceito que designa comportamentos caracterizados pela agressão (psicológica, verbal ou física) manifestada de forma intencional e repetida. Ao bullying assiste uma atitude de assédio, transversal ao sexo e à idade, desenvolvida sob a égide do comportamento de grupo - o que evidencia, quer a atitude, quer a prática, como estratégia de integração social no sentido do reconhecimento da afirmação do poder pela massa grupal que se refugia no anonimato em que se pratica um certo sentido de lealdade cujo reverso é, se assim o podemos dizer, uma espécie de corporativismo de índole vária: sexual, etário ou de interesses. Combater o bullying é uma tarefa hercúlea que implica o revolucionar da gestão relacional nas famílias e na sociabilidade, o repensar dos valores, das práticas e da função social da educação... até porque a importância do bullying emergiu da consciência pedagógica e cívica do drama da violência, em sociedades que só nos últimos 50 anos (e, no caso português, nos últimos 20) se tornaram sociedades valorizadoras dos afectos e promotoras da coexistência social pacífica num contexto valorizador da diversidade. O bullying existe por uma quantidade de interacções multifactoriais, próprias da sociedade contemporânea, que não podem ser escamoteadas: da ausência comunicacional na família à desestruturação das respectivas relações hierárquicas verticais (não substituídas por correspondências horizontais com significativo impacto na regulação dos comportamentos); da alteração da percepção social dos mais velhos (que reduz o respeito e a consideração pelos adultos e os idosos) ao crescimento institucionalizado das crianças; da reprodução das imagens e estereotipos dos media, da publicidade e da moda ao desenvolvimento de redes de ensino e aprendizagem técnica, disciplinarmente específicas, mas destituídas de uma integração holística de cidadania e responsabilidade social... Ao bullying são ainda, indiscutível e determinantemente inerentes, como mecanismos processuais, as questões da afirmação infanto-juvenil no espaço público e os respectivos pressupostos individuais ao nivel da estruturação da personalidade, do carácter e dos códigos sociais... e, neste plano, deve destacar-se, por um lado, a dimensão da emergência de sentimentos tais como os de justiça/injustiça, vingança/inveja, penalização/culpabilização ou exibição/afirmação que carecem da atenção reguladora dos adultos, entretanto, assoberbados pelos estímulos externos de um meio apelativo à competição e à concorrência onde se lhes revela cada vez mais difícil o exercício do discernimento. A violência mata. O bullying também... e o bullying afecta não só crianças e jovens mas, também, adultos... porque o bullying, como todas as manifestações de assédio, tem como palco o meio profissional... vejam-se os professores que, provavelmente vão ter que encontrar protecção na justiça e na elegilidade da sua agressão ao nível do crime público porque a relativização dos fenómenos e manifestações da violência deixou de, por excesso de banalização, merecer a atenção cívica das pessoas e das autoridades.
A banalização da violência coloca em perigo as sociedades democráticas. É óbvio que o bullying não é novidade, mas não podemos cruzar os braços perante a realidade com que ela se nos apresenta.
ResponderEliminarNão, Carlos, não podemos banalizar ou cruzar os braços... mas, o que há a fazer é muito mais do que se possa pensar se se pretender encarar o fenómeno como isolado... vejam-se as claques de futebol - só para dar um exemplo de como os comportamentos sociais continuam a mediatizar o que, no entendimento complexo e imaturo dos mais jovens, legitima a prática da violência... O bullying requer uma intervenção estruturada na escola, na família, na rua e nos media... para que se não reproduza como violência doméstica, de género ou sobre os idosos - para só dar outros exemplos... daí a urgência em repensar a função social da educação, os percursos, os curricula e a vida escolar... que está muito além do pragmatismo com que as questões educativas costumam ser encaradas, segmentando áreas que não podem deixar de ser pensadas integradamente: profeoores, alunos, pais, saberes, competências, métodos, metas, objectivos... desculpe o enumerado que é, afinal e simplesmente, o enunciar de alguns pontos de partida para uma discussão sistémica sobre a questão.
ResponderEliminarAbraço.
Problema de facto grave e difícil de resolver!...Sempre existiu, dizem...não sei, o que eu considero é que na generalidade a violência aumentou, há um conjunto de factores que levam a isso...muitas instabilidades, grande perda de valores!...
ResponderEliminarUm abraço,
Manuela
É, de facto, um problema muito grave e de difícil solução, Manuela... e, sem que possamos ignorá-lo, ficamos "a braços" com mais uma realidade assustadora já que nem a escola surge como espaço seguro... é, em última análise, muito triste esta progressiva e constante dessacralização dos valores, do respeito e da vida...
ResponderEliminarUm abraço.