sábado, 13 de março de 2010

Cidadania e Criatividade...


A poesia é, pela manhã, uma forma de reinventar os dias... foi isto que, hoje, ao ler Mário Quintana, redescobri perante as palavras certas que nos relembram o valor da criatividade de que as sociedades necessitam urgentemente, enquanto há tempo para a catarse e a libertação das doenças alienantes que o desemprego e a descrença política provocam, despertando depressões, angústias, ansiedades e anomias. Diz Mário Quintana:
"Esses que puxam conversas sobre se chove ou não chove - não poderão ir para o Céu! Lá faz sempre bom tempo"...
... num tempo em que reivindicamos o exercício da cidadania e em que somos conscientes dos meios legais que condicionam e configuram a opinião pública, temos o direito e o dever, por obrigação de auto-defesa humana, de salvaguardar o nosso próprio raciocínio e o nosso juízo individual sobre as lógicas e os modos de viver em sociedade... A sociedade contemporânea, com a parafernália de media e tecnologias de informação que disponibilizou aos cidadãos, produziu uma espécie de "efeito secundário", em relação ao qual é preciso desenvolver o distanciamento: acreditar na avaliação individual dos múltiplos dados informativos e opinativos que nos chegam é, hoje, fundamental. E, se o refiro, faço-o por constatar que a baixa-auto-estima dos cidadãos, os deixa vulneravelmente expostos à manipulação e ao código de corporativismos comportamentais ditados pela moda e pelos estereotipos em que assenta o que se reconhece como padronizado. O exercício pleno da cidadania acontecerá no dia em que as pessoas deixarem de evitar a responsabilidade de assumir as suas próprias opiniões e opções e se sintam capazes de as defender e discutir, sem medo da diferença e sem necessidade de recorrer ao dogmatismo e ao fundamentalismo. Nesse dia, cumprir-se-á a Liberdade e a Democracia levantará a cabeça para dizer, como Goethe:
"Quando uma criatura humana desperta para um grande sonho e sobre ele lança toda a força da sua alma, todo o universo conspira a seu favor"!

15 comentários:

  1. Não precisa publicar este... só para pedir para corrigir a citação onde se lê "conversam" deve-se ler "conversas"
    Abr

    ResponderEliminar
  2. Ana Paula
    Excelente e iluminado texto!
    Está mais que na hora de acordarmos, de pensar pela nossa cabeça, descobrir os nossos sonhos e não nos deixarmos guiar pelos pseudo-sonhos que nos impuseram.
    Porque a vida que temos é esta e é só uma, o nosso verdadeiro caminho existe, temos é de descobri-lo por entes as silvas ou entre as belas e infestantes mimosas que o ocultam. Não é fácil, mas é importante e urgente. Por isso, tenhamos força, para que o Universo conspire a nosso favor.
    Um beijinho e obrigada

    ResponderEliminar
  3. Obrigado pela leitura atenta, caro amigo Voz a 0 db :)
    ... tinha mesmo que publicar - de outro modo, como poderia agradecer a boa chamada de atenção? :)

    ResponderEliminar
  4. Olá Manuela :)
    Que bom ler este apoio à incansável energia que nos faz vivos e capazes de levantar mais e mais sonhos, criatividades e caminhos :)
    ... Força, pois então :)
    O universo conspira a nosso lado :)
    Um beijinho :)

    ResponderEliminar
  5. Olá, Ana
    Não sei se existe poesia enquanto tal ou uma expressão exasperada de um movimento poemático… De qualquer modo, aponta para uma questão muito interessante, a saber, como é que a criatividade se deixa anular pela manipulação? E, se me permite levar a discussão para área da “saúde” (p.ex. manipulação genética), não só pela minha aproximação de investigação mas, justamente, pela situação "contemporânea, com a parafernália de media e tecnologias de informação", como é que o médico (p.ex.) passou a ter um papel mais político e se desviou da questão central (quem interpreta o conhecimento genético?) …! Alguém consegue um "exercício pleno da cidadania" quando numa cultura laica, a laicidade anti-teórica, se tornou secularmente teórica!?

    Desculpe o abuso :-)
    Beijinhos!

    ResponderEliminar
  6. Caríssima Ana Paula Fitas, subscrevo inteiramente este seu texto e a longa citação de Mário Quintana. Na verdade, a Humanidade está pelas ruas da amargura pelo facto das Humanidades o estarem sob o peso insuportável da opressiva tecnocracia... Na verdade, no seu último ensaio o Professor José Gil falou-nos da obsessão da avaliação do Homem Contemporâneo e relembrou a impossibilidade de aquilatar com objectividade o valor da criatividade. Sem dúvida, esta é fundamental para a liberdade e a felicidade dos indivíduos! Gostei muito da sua opinião!

    Saudações cordiais, Nuno Sotto Mayor Ferrão
    www.cronicasdoprofessorferrao.blogs.sapo.pt

    ResponderEliminar
  7. Olá Ana Paula, mais uma vez
    Agora venho aqui convidar a passar lá no Sustentabilidade é Acção amanhã ou depois da meia noite, que tem bolo :)

    ResponderEliminar
  8. Olá Jeune Dame :)
    ... como sempre, este comentário é uma excelente extrapolação da abordagem quiçá exasperadamente poemática :) mas, por certo, exasperadamente comprometida com a vida e a vontade de resgatar as potencialidades humanas aos condicionalismos funcionais que a organicidade societária impõe como contínua para a sua sustentabilidade gratuita - onde, como bem dizes sobre a deslocação desviante do problema central, na saúde e no resto, se persiste paradoxalmente em caminhar no sentido inverso aos dos objectivos propagandeados (e nada melhor do que a problematização que fazes sobre a laicidade anti-teórica que, numa cultura política pretensamente laica, se torna secularmente laica... :)
    Beijinhos :)

    ResponderEliminar
  9. Carissimo Nuno Sotto Mayor Ferrão,
    Obrigado pelas boas palavras e pela oportunidade de agradecer a sua companhia :)
    Fico feliz pelo vasto entendimento da questão que aqui partilha e que tanta falta faz ao nosso ensimesmado país que deixa de se cumprir, ensombrado pelo velho olhar de um Restelo que a História não levou e por cá permanece, atávico e empobrecedor... Tem toda a razão no que diz, caro amigo!... A tecnocracia em vez de libertar, aprisiona e a Humanidade não se cansa de a perseguir, substituindo o sonho, a criatividade e a arte pelo facilitismo redutor da mecanização massificada e reprodutora... sem reparar que a alienação é pior inimigo da Liberdade e do Exercício do Ser!
    Gostei muito de o ler... vou agora visitar as Crónicas do Professor Ferrão :)
    Volte sempre!

    ResponderEliminar
  10. Caríssima Ana Paula Fitas, certamente que cá voltarei com regularidade pois, aliás, já coloquei um link para "A nossa candeia" e a proximidade da nossa mundividência cultural fará com que regresse aqui com regularidade. Já tinha lido referências na blogosfera em relação aos seus posts que despertaram a minha atenção!

    Cordialmente deste seu amigo,
    Nuno Sotto Mayor Ferrão

    ResponderEliminar
  11. Já senti,bastantes vêzes,essa conspiração mágica a meu favor.É preciso estar todo lá e não duvidar um milimetro ou fazê-lo só em lapsos muito curtos.ALEX.

    ResponderEliminar
  12. Carissimo Nuno Sotto Mayor Ferrão,
    Como já deve ter reparado, visitei as Crónicas do Professor Ferrão que vou passar a frequentar.
    Cordial e amigavelmente,
    Ana Paula Fitas

    ResponderEliminar
  13. Olá Manuela,

    Como lá disse, adorei o bolinho :)
    e a festa bem merecida do Sustentabilidade é Acção!
    Reiterando os votos de uma vida longa e feliz,
    Beijinhos :)

    ResponderEliminar
  14. Alex,
    Não duvidar, resistindo às aparências e persistindo, de alma e coração, nos objectivos é a melhor forma de garantir a eficácia da solidariedade cósmica :)
    Um grande abraço.

    ResponderEliminar
  15. Caríssima Ana Paula Fitas, fico contente com a atenção que o meu blogue lhe mereceu. Também passarei a ser um leitor regular aqui d' A Nossa Candeia.

    Com cordialidade e simpatia,
    Nuno Sotto Mayor Ferrão

    ResponderEliminar