O paradigma político português reflecte-se de forma evidente na nova lei de financiamento dos partidos, aprovada quase por unanimidade na AR (excepção feita ao Deputado António José Seguro do PS), enquanto exemplo elucidativo da estratégia e dos critérios da actuação política nacional... por um lado, significa que, tal como aconteceu relativamente ao Estatuto dos Açores, é possível obter consensos políticos alargados, designadamente com o apoio de todos os partidos com representação parlamentar; por outro lado, denota que o denominador comum exigido por estes partidos a título de factor consensual é, sempre, o seu próprio interesse eleitoralista... e não, infelizmente para o eleitorado!, o interesse público!... Do significado desta qualidade democrática muito fica por esclarecer... ou, pelo contrário, pouco ou nada merece ser acrescentado... às respectivas demagogias!
A menoridade cultural reflecte-se nestes pequenos grandes actos. Por um lado, eles, por outro, nós. Nós somos aqueles que por acaso pagamos a uns "gestores" para gerir. Eles são aqueles que se apropriam desse espaço de gestão, subvertendo o papel, transformando-o na função de patrão.
ResponderEliminarPortugal é um país de patrões e não de gestores. De patrões que adorariam constituirem-se num central democraticamento autoritário onde se suspendesse a democracia, através de um acto democrático. O que é desonesto, pouco digno, pequenino é o facto os partidos do centrão não o dizerem explicita-me, para, depois, em nome da salvação, tal qual messias, aparecerem a fazer, nas barbas dos parolos, que somos nós, acordos que não sufragaram.
Mas nós continuamos a votar nesta tribo que nos governa há 35 anos, com os resultados que estão à vista.
A avaliação do desempenho da tribo do centrão é sentida por todos os portugueses que como as hienas rodopiam à volta dos cadáveres, esperando que os animais de maior porte se saciem, esperando pelos restos. Pelo menos têm a vantagem de não se exporem e nem se esforçarem muito.
Agora que se aproximam as eleições porque não votar em qualquer dos outros partidos? Ou será que a capacidade para a gestão foi atribuída naturalmente, diria mesmo, distribuída a estes iluminados?
Obrigado pelo seu comentário cujo conteúdo contribui para uma séria reflexão da política partidária nacional, MR... aliás, o que mais preocupa é verificar, nos dois casos que refiro, a saber, Estatuto dos Açores e Lei de Financiamento dos Partidos, que todos (grandes e pequenos partidos com representação parlamentar) votaram favoralmente... se pensarmos em partidos sem essa visibilidade, isto é, nos que não integram a AR, seria útil que pensassem em se pronunciar sobre estas e outras matérias que nos deixam perplexos e que nos fazem exigir mais ética, mais responsabilidade e mais respeito pela causa pública. Volte sempre!
ResponderEliminarCara Ana Paula,
ResponderEliminaré de facto indicador de como se degradou a democracia em Portugal. O António José Seguro é o único deputado com coragem de afrontar o partidarismo eleitoralista? Talvez esteja na altura de outra revolução - candidaturas de grupos de cidadãos à assembleia da república - a solução?
Provavelmente seria uma forma de maior controlo e exigência dos próprios partidos.
A meditar...
aprendiz
Caro Aprendiz (aqui está um nome que deveria o de todos nós!),
ResponderEliminarUma maior exigência para com os partidos e a actuação política é, efectivamente, inidispensáveis... porque o voto dos cidadãos não pode ser gratuito, nem continuar a ser uma espécie de massa corporativa de apoio assente na mera "fidelidade"(?!)... os partidos têm que conquistar o respeito dos eleitores e merecer a sua confiança... uma outra revolução/solução é necessária como resposta à crise e aos tempos que vivemos... sim, penso que grupos de cidadãos associados em causas e programas viáveis e concretos pode ser um caminho... porém, aí, o que me preocupa é o facto de, em termos de financiamento, ficar aberto um precedente tal que possa conduzir o acesso ao poder apenas aos que possuem poder económico... concretizar o primeiro passo sem desvirtuar a democracia implica prevenir este tipo de efeitos... se me permite repeti-lo: "A meditar..."... obrigado pelo comentário que nos faz pensar mais e, seguramente, melhor. Volte sempre!
A questão não é de mais ou menos ética, de mais ou menos respeito porque quer uma, quer outro, já sabemos, não existem. Não existem porque no paradigma onde estamos mergulhados não são possíveis.
ResponderEliminarA Globalização só é possível porque estão reunidos três factores: mobilidade de todos os factores (humanos, financeiros, bens, etc;) comunicação (à distância de um clik muda-se o mundo e por outro lado efectivam-se mais interacções entre as pessoas, as instituições, tudo circula mais depressa) e desregulamentação (significa que quanto menos regras melhor). A ética faz parte do mundo da regra. Numa sociedade cada vez mais desregulada não se pode pedir que exista ética. Quanto à responsabilidade é coisa que ninguém sabe o que é. Hoje são um conjunto de circunstâncias que levam a formas de agir. O mundo é tão grande que é quase impossível haver um responsável por qualquer coisa. Há sempre um conjunto ou cadeia.
A questão que se coloca hoje, como em todo o tempo, é do poder. Quem detem o poder e como distribuí o que é escasso. O poder, tal como o mercado, requer cada vez mais poder, que normalmente é contra a maioria dos indivíduos no que é fundamental e a favor no que é assessório.
É uma espécie de entretenimento.
Como sair disto?
Proposta: Eleições de dois em dois anos.
O Hábito cria o monge, logo quanto menos hábito menos monge.
Obrigado pelo pertinente e inteligente comentário... fez-me pensar na adaptação de um título que, há uns anos, fez furor e que resultou na consideração de que "tempos loucos, exigem organizações loucas"... diria, por isso, que a ética, hoje, enquanto construção de princípios capazes de se adaptarem às dinâmicas contemporâneas que tão bem e sinteticamente descreve, deve esforçar-se por encontrar os eixos de análise que articulam o exercício do poder e o exercício dos direitos, nomeadamente no que à distribuição de recursos e de riqueza diz respeito e mantendo como inalienável a defesa da igualdade e da dignidade dos cidadãos, qualquer que seja o seu papel social... tudo isto, sem prejuízo da consideração da hipótese que aqui coloca, ou seja, eleições de 2 em 2 anos... que exigiria uma consciência de participação cívica reforçada mas, que é verdadeiramente um modo útil de pensar o controle democrático do exercício do poder que tão bem expressa na sua afirmação: "O Hábito cria o monge, logo quanto menos hábito menos monge". Volte sempre!
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