quarta-feira, 20 de maio de 2009

Pensar a Economia, Responder à Crise...


Confrangedor, é o mínimo que se pode dizer... antes da crise, durante a crise, com ou sem eleições "à porta", o facto é que a reabilitação e revitalização do aparelho produtivo nacional não é tema de análise ou debate entre políticos, agentes económicos ou comunicação social. Chamado por vezes "à conversa" o tema surge entre cidadãos sem a pretensão da especialização, fruto assumido apenas pelo bom senso inerente à observação da passagem do tempo e às dinâmicas do custo e da qualidade de vida... Emerge assim uma estranha e flagrante contradição entre o que se define como prioridade das agendas de toda a ordem: por um lado, apela-se à participação cívica, ao estímulo e valorização da democracia participativa mas, não se responde ou reage minimamente ao que aos cidadãos interessa, a saber, compreender e aprofundar formas de solucionar os problemas contemporâneos que lhes afectam o quotidiano; por outro lado, enquanto se multiplicam ecos de comentários sobre os efeitos da crise repetidos até à exaustão num tom permanentemente acusatório relativamente à governação, políticos, críticos e especialistas não trazem à discussão o problema. Uma espécie de conformismo fatalista, caracterizado pela incapacidade de pensar alternativas, métodos, objectivos e metas para a acção político-económica, apropriou-se, epidemiologicamente, do país... alegando, em última análise em defesa própria, os condicionalismos da política comunitária, no pressuposto, também ele paradoxal, de que a tão elogiada integração europeia a isso condena os seus povos. Nem medidas, nem cenários, nem propostas, nem modelos, nem iniciativas!... afinal de contas, o problema crucial da sociedade portuguesa não é sequer equacionado... nem sequer como tema de uma plataforma de discussão negocial com Bruxelas, a diferentes níveis, para efeitos de recuperação dos indicadores económicos que nos podem garantir, sustentadamente, o cumprimento dos critérios de convergência. Como podemos pois pensar em sair da crise, seja ela a que, internacionalmente, vivemos neste momento, seja essa outra, estrutural, que andamos há décadas a invocar e constatar?... Vivemos à espera... à espera que a solução nos seja trazida por um qualquer Álvares Pereira ou por acção de uma determinação externa cujo preço aceitaremos sem pestanejar, como se tivesse sido a única possibilidade de se sair da anomia extrema a que chegámos. Sim, é certo que a anomia se caracteriza pela destituição da capacidade de iniciativa mas, também é verdade que, se não formos nós a tomar "em mãos" o nosso destino e o nosso futuro, ninguém o fará ou, se o fizer, imputará a tal procedimento um preço, cujo custo não queremos sequer imaginar... porque se o imaginarmos, consideraremos insustentável esta forma de ser e de estar na economia, na sociedade e na política... e isso, pelo que de toda esta lógica se infere e deduz, não interessa aos poderes dos lobbies dominantes deste "estado da arte"... a não ser que se considere que um país pode sobreviver do recurso exclusivo à retórica e à burocracia...

6 comentários:

  1. Talvez porque ainda não tenhamos acordado da irrealidade prodigiosa (para lembrar o diagnóstico de Eduardo Lourenço) em que se tornou a nossa aventura europeia, mais perspectivada como a sucessora das aventuras africana, indiana, brasileira e novamente africana, do que como entrada para um "grupo de trabalho".

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  2. Obrigado, A.C.Valera... é um comentário verdadeiramente clarividente!... fez-me pensar que, provavelmente, no inconsciente colectivo,a memória histórica, institucional e ideológica, associada ao arreigado sentimento da "providência", desenvolveram essa "irrealidade prodigiosa" de que Eduardo Lourenço e ainda se não fez a indispensável catarse... abraço.

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  3. Boa tarde.
    pese embora não tenha feito comentários ultimamente tenho acompanhado o seu blog.

    Entretanto fui convidado a participar no blog de Nuno Miranda Ribeiro SexUtopia que trata sobre questões da sexualidade.

    Ontem a SIC transmitiu uma notícia sobre a distribuição gratuita de preservativos nas escolas secundárias que muito me assustou. Fiz um post sobre o assunto que muito gostaria que lesse caso tenha disponiblidade.

    Basta clicar aqui

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  4. Caro Fabulastic,

    Obrigado pelo acompanhamento do A Nossa Candeia e pelo seu comentário.

    Na verdade, não tinha visto a peça que, felizmente, o seu post anexa e cujo teor justifica completamente as pertinentes e adequadas questões que coloca no seu texto - cuja leitura, aliás, aproveito para recomendar. É efectivamente uma discussão "inquinada" a que se tem vindo a desenvolver sobre a questão da educação sexual nas escolas onde pedagogia, ciência e civismo se misturam, por critérios que apenas devem razão de ser ao senso comum dos pressupostos ideológicos, com religião e "opinião". Lamentável!... para os jovens, para a saúde pública e para a sociedade portuguesa!...
    Votos de continuação de bons post's!

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  5. Incomoda ver que os cidadãos não são ouvidos, não são tidos em conta. Mas, não pode ser de outra maneira. Dentro deste paradigma central, a nível mundial, não é só em Portugal, anémico, centrado na indidualidade de cada um, não pode ser de outra maneira.A globalização implica uma globalização das formas de actuar, porque, também estas estão cada vez mais integradas. Para cortar com este estado de coisas é preciso falar verdade. Mas como, se a verdade não existe! Se quando falamos, falamos de pontos de vista. Nós até achamos que os políticos não podem falar verdade porque, se o fizerem, perdem as eleições. Achamos tudo isto normal. Deixámos de ser cidadãos para ser clientes ou consumidores e assim somos tratados e achamos bem. É a lógica do mercado. Não é lógica do espaço público.

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  6. É terrível o que diz... assustador!... e verdadeiro! É fundamental readquirir a dimensão humana da existência social... obrigado pelas suas palavras

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