domingo, 24 de maio de 2009

Um Trabalho Colectivo...



"(...) Assim que têm armas, a tendência dos homens é utilizá-las. No meu ponto de vista não devia continuar a haver exércitos nacionais. O mundo devia ser desmilitarizado, à excepção de um exército multinacional que apenas interviria quando alguém ameaçasse a paz numa dada região do mundo. (...)
(...) Um certo número de países consagra somas colossais ao desenvolvimento dessas armas. Tanto dinheiro, tanta energia e tanto talento desperdiçados, num momento em que os riscos de derrapagem só podem engendrar cada vez mais medo.
Acabar com as guerras diz respeito a todos nós. Podemos, é certo, identificar as pessoas que estão na origem dos conflitos, mas não podemos pretender que elas apareceram sem mais nem menos ou agiram isoladamente. Elas são membros da mesma sociedade a que todos nós pertencemos e, por conseguinte, cada um de nós tem a sua quota-parte de responsabilidade. Se quisermos a paz no mundo, comecemos por criá-la dentro de nós.
A paz no mundo só pode passar pela paz de espírito e a paz de espírito pela tomada de consciência de que todos os seres humanos são membros de uma única e mesma família, apesar da sua diversidade de crenças, ideologias, sistemas políticos e económicos. Tudo isso são meros detalhes, tendo em conta tudo o que temos em comum. O mais importante é que todos nós somos seres humanos e habitamos o mesmo pequeno planeta. Quanto mais não seja por uma questão de sobrevivência, temos de colaborar uns com os outros, tanto à escala dos indivíduos como à dos Estados.
(...)"

(Dalai-Lama in Conselhos do Coração, ed. Asa, 2004

2 comentários:

  1. Cara Ana Paula
    Alienados da nossa própria humanidade, quão longe estamos do bom senso... Não há um único partido político europeu que se faça ouvir por ter inscrito no seu programa o desmantelamento da indústria de armamento, a proibição das feiras internacionais onde exibem as asquerosas armas letais, a afronta aos interesses dos investidores e industriais que se dedicam ao comércio da morte... E pergunto-me muitas vezes: como poderemos começar por criar a paz dentro de nós quando tudo à volta tresanda a morte e a hipocrisia, e quando nós próprios precisamos de alienar os nossos sentimentos mais profundos para podermos passar despercebidos no meio do rebanho, sermos normais, alimentar a família?...
    Você tem o dom de estruturar o seu discurso de forma séria e consentânea com aquilo que os normopatas toleram. Mas estou certo de que também sente como eu... o abismo entre o rebordo escarpado da consciência, onde os pessegueiros em flor se debruçam sobre o vazio, e os terrenos pantanosos em redor... E é esse magnífico trabalho de mediação com que nos presenteia aqui neste blogue, que torna estes páginas num hino à serenidade e ao bom gosto.
    Saudações

    Francisco Oneto

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  2. Caro Francisco,

    Sim, claro que sinto como o Francisco... e mais não digo pelo que de, tão tocante, escreveu. Obrigado. Fico a olhar os "pessegueiros em flor" enquanto, do "vazio", contemplo o esforço de que, afinal, não podemos desistir... Um grande abraço amigo. Bem-haja!

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