sábado, 9 de maio de 2009

No Dia da Europa, a Bela Vista...




Os acontecimentos no Bairro da Bela Vista (vejam-se os post's e leiam-se os dois textos de Nuno Ramos de Almeida no 5 Dias) mostraram a gravidade do rosto do que já ocorrera, há meses, no Bairro Portugal Novo... e do que se esconde e é escondido nos bairros deixados "à sua conta"... nos lugares para onde se empurram cidadãos encurralados involuntariamente ou ocasionalmente pela vida e onde fervilham caminhos paralelos para a sobrevivência, bodes expiatórios de outras guerras... a hierarquia da ocupação social do espaço é, nos tempos que correm, a melhor imagem das desigualdades sociais... e os bairros, construidos com a simples lógica da arrumação das famílias e dos cidadãos, longe dos centros e da urbanidade considerada "civilizada" porque ocupada por quem ainda vai tendo trabalho e coexiste no espaço da ostentação consumista, nos bairros, dizia eu, mora o lado oculto do que se pretende ignorar e cuja visibilidade, legítima apenas quando as mortes e os tiros chamam televisões e polícias, reforça, neste contexto, a rejeição xenófoba dos medos... Ensurdece o silêncio cúmplice que pensa as pessoas como agentes destruidores da ordem pública, fruto do ostracismo psicossociológico de uma catarse cruel que a sociedade deixa acontecer nos espaços sociais mais fragilizados onde é permitida a eclosão da violência como forma de delimitação da sua ocorrência... é por isso que a revolta social da Europa veste os trajes dos bairros... e é por isso que se torna cada vez mais prioritária a implementação de políticas sociais integradas que promovam a mudança e permitam a todos o exercício digno da cidadania... porque não temos o direito de esquecer: "ghettos" nunca mais! Em tempo de campanhas eleitorais e, em particular, de se repensar, publicamente, a Europa, é inadmissível assistir ao silêncio dos candidatos que, confrontados com a realidade, não podem deixar de assumir a inadiável exigência cívica de apresentar e discutir as suas propostas para a construção de uma Europa democrática, integradora e transparente que, contra a vontade dos cidadãos, se afasta de nós enquanto a violência e a pobreza grassam pelos bairros e contra as pessoas...

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