Sim, são 15 milhões! ... 15 milhões de desempregados! ... um número que daria para fazer vários países independentes e que deixa clara a imagem de que é possível a realidade aparentemente absurda que subjaz à expressão "países de desempregados"... realidade que, infelizmente, se verifica já nesta União Europeia que integramos, cujos Estados-membros, com excepção de 8 países (a saber, Alemanha, França, Reino Unido, Itália, Espanha, Países Baixos, Polónia e Roménia), num total de 27, têm menos de 15 milhões de habitantes. Não erramos, por isso, ao afirmar que, em 2010, o espaço comunitário europeu é -ou virá a ser no curto prazo!- o esforço federativo de integrar 15 milhões de pessoas, sob pena de ter uma população socialmente excluída acima da média populacional de 19 dos seus Estados-membros, reconhecidos como países independentes e entidades autónomas (a saber: Áustria-8,3 milhões de habitantes; Bélgica-10,7 milhões; Bulgária-7,7 milhões; Chipre-0,8 milhões; Dinamarca-5,5 milhões; Eslováquia-5,4 milhões; Eslovénia-2 milhões; Estónia-1,3 milhões; Finlândia-5,3 milhões; Grécia- 11,2 milhões; Hungria-10 milhões; Irlanda-4,5 milhões; Letónia-2,3 milhões; Lituânia-3,3 milhões; Luxemburgo-0,5 milhões; Malta-0,4 milhões; Portugal-10,6 milhões; República Checa-10,5 milhões; Suécia-9,2 milhões). Os dados ilustram bem a gravidade do desemprego europeu e a fragilidade da organização económico-política do modelo financeiro em que assenta a estrutura institucional desta aproximação federativa, cuja hierarquização vertical e profundamente assimétrica relativamente a uma minoria das suas economias nacionais dominantes, põe, verdadeiramente, em causa, a sobrevivência da arquitectura social europeia em que se investiu desde meados do século XX. A solução não está à vista apenas e só porque os princípios da gestão económico-financeira dos mercados liberais e neo-liberais não permitem que a política seja transparente ou sequer reflexa como um espelho, onde os cidadãos possam constatar o precipício para o qual se caminha. Mas essa solução não é, seguramente!, o investimento na designada e, por ora, convenientemente negligenciada, Europa a Duas Velocidades de que os números e os factos nos aproximam... como o não é a alteração da política monetária no sentido da re-criação da vigência de moedas nacionais que mais não fariam do que funcionar como garante da manutenção da desigualdade da riqueza, fomentando e reforçando a interdependência do endividamento externo dos países mais fragilizados - razão de ser da calamidade das contas públicas de muitos países no plano internacional e, também, dos países da Europa do Sul de que somos parte activa. A Europa Social, equitativa e solidária é o único projecto capaz de salvaguardar as democracias europeias e está, de facto, por construir... nomeadamente pela secundarização do seu investimento em políticas de desenvolvimento, sustentadas por políticas sectoriais como as políticas sociais, as políticas ambientais e as políticas regionais... e só inverteremos este caminho quando a consciência e a ideologia dos Estados-membros manifestar colectivamente a sua exigência, apresentando propostas políticas concertáveis, capazes de consolidar de forma eficaz o que agora não passa de um incipiente combate à exclusão e ao desemprego.
Um bom texto para pensar.
ResponderEliminarUm abraço, Ana Paula.
Obrigado, Miguel... de facto, a situação europeia dá muito mas mesmo muito a pensar! Vamos a isso? :)
ResponderEliminarUm grande abraço.
Pois é, Ana Paula, a Europa "está a cair aos bocados".
ResponderEliminarTentarei, inspirado no seu texto, fazer um post com aqule título...Mas hoje não, que é sábado...
JMCPinto
Concordo plenamente,mas pergunto se a Europa dos mais ricos estará para para pagar essa factura. Essa Europa a duas velocidades espelha ou resulta, não sei bem, como dizes e muito bem as bases em que assenta, mas também parece-me que não existe a ideia de uma identidade. A questão que te coloco é a seguinte: sendo nós tão desvalorizados económica, social e culturalmente ( lá fora somos vistos como anedota, bem sabes, será que um alemão, por ex., muito preocupado connosco e com a Europa pobre??? ralações e preocupações e temo muito toda esta situação
ResponderEliminarparabéns pelo texto.
Caro JMCorreia-Pinto,
ResponderEliminarPermita-me a citação mas, "a cair aos bocados" é, de facto, uma expressão muito, muito ilustrativa da realidade... fico, curiosa e atenta, ao post que irá escrever... ainda bem que o sábado já está a acabar :)
Grande abraço :)
Isabel,
ResponderEliminarNa verdade é exactamente por não ser do agrado dos países mais ricos, entre os quais se conta a Alemanha, o pagamento "da factura" que chegámos onde chegámos... de qualquer modo, a pertinência da questão que colocas conduz-nos a outra face da questão que é a da necessidade de decisão/opção dos próprios países mais ricos sobre os modelos de desenvolvimento e de gestão sustentada da União Europeia... o dilema fica portanto entre a análise dos custos sociais e consequentemente económicos que justifica a radicalização da mudança ou a continuidade dos lucros que a alta finança liberal prefere continuar a gerir em cima da linha de risco que só com o autoritarismo poderá manter-se ainda que sem garantias e com um indiscutível agravamento das condições de vida dos cidadãos! Finalmente, ao que a especulação sobre a matéria nos permite, poderemos imaginar que a decisão terá que ser comunitária quando se tornar incontornável a insustentabilidade económico-social e financeira da actual arquitectura institucional e regulamentar da União Europeia.
Beijinho :)