sábado, 30 de maio de 2009

Uma Pedrada no Charco...



A reacção de Vital Moreira ao caso BPN tem suscitado uma onda de comentários, grande parte dos quais se caracteriza por uma gratuita bizarria - se pensarmos na gravidade do assunto em causa e nas suas implicações... enquanto se aguarda o desenvolvimento noticioso sobre o enredo fraudulento onde "figuras gradas" se envolveram, aproveitando os benefícios de uma opaca e suspeita relação entre política e negócios que faz lembrar a Itália de Berlusconi, a campanha eleitoral para as Europeias entra na sua recta final com sondagens que começam a afastar-se do tão insípido e constrangedor "empate técnico" que a abstenção pode proporcionar... talvez a inesperada energia de Vital Moreira, emergente na Marinha Grande, a partir de um provável e justificado cansaço das águas pantanosas a que o argumentário político parecia reduzido, seja a "pedrada no charco" susceptível de mobilizar os eleitores... para que se não perca a oportunidade eleitoral de levar para o Parlamento Europeu pessoas capazes de unir esforços com os seus "pares", no sentido de se reconstruirem caminhos úteis às populações socialmente indefesas, vítimas do desemprego e de uma lógica de mercado que persiste em não se reformar, reduzindo cada vez mais os direitos dos cidadãos pelo reforço continuado de políticas laborais que fomentam o agravamento das condições de sobrevivência dos europeus em detrimento da qualidade de vida democrática... neste contexto, vale a pena ler os textos de Valupi, no Aspirina B e de João Abel de Freitas no PuxaPalavra...

6 comentários:

  1. Completamente de acordo consigo, Cara Ana Paula,mesmo com os links que faz...
    Cumprimentos.

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  2. Cara Ana Paula
    Pelo que vejo, leio e ouço aqui, tenho-a no coração, mas terá de me perdoar desta vez não afinar pelo mesmo diapasão.
    Por mais boas intenções que se vislumbrem nas palavras de Vital Moreira, a verdade é que ele fala a partir de uma posição partidária que não merece credibilidade nenhuma em matéria de ética de cidadania. A moralidade da associação da gatunagem financeira ao PSD é dúbia, do mesmo modo que é dúbia a associação da pedofilia ao PS, que, em matéria de roubalheira, também teve outrora que imolar Torres Couto, Melancia... (sem contar que nós apenas vemos a ponta do iceberg...). Utilizar esse argumento como arma de arremesso político numa campanha para as eleições europeias, do meu ponto de vista, deixa muito a desejar não só em relação ao carácter político deste candidato (que, recordemos, tanto tem defendido a "economia de mercado" e hostilizado a "esquerda anti-liberal" quando esta defende, por exemplo, que a energia e a água devam ser considerados bens públicos) como, sobretudo, em relação a um partido que está no poder e dele parece ter um entendimento nem sempre reconhecido como democrático (na esfera da educação, por exemplo) e que acaba de aprovar uma lei de financiamento partidário a que só o deputado A. J. Seguro - e Cravinho, lá de longe - objectaram. Pessoalmente, creio que os indícios fornecidos pela comunicação social e por muita gente de bem já deram evidência bastante de que a corrupção é estruturante dos interesses representados nos dois grandes partidos ditos "de poder". Vir alguém no actual contexto, a partir de um deles, atirar uma pedra ao outro... apenas indica o estado lastimável a que chegou a falta de ideias, a falta de vontade de melhorar, de resolver problemas reais através da afirmação clara de ideais nobres e de princípios... e fez-me lembrar a célebre expressão popular tão adequada à tanga esfarrapada da 3ª República: "diz o roto ao nú"... Mas o mais grave é que o voto popular se distribui sempre por onde campeia a putrefacção. Todos dizem mal destes políticos e destes dois partidos "de poder", mas todos lhes entregam o voto, receosos de que uma mudança possa acabar com a adrenalina do permanente espectáculo do aviltamento da democracia a que somos forçados a assistir em directo, entremeado com muito futebol, telenovelas e liveshows diários onde se relatam histórias capazes de fazer chorar as pedras da calçada. E depois há miséria da Justiça... Mas entretanto, entre mais alguns aventais aqui e mais paramentos ali, o divino arquitecto lá continuará a usar o compasso para providenciar a impunidade e a salvação dos maus e dos imbecis; o esquadro para garantir alguma contenção, para que não se devorem uns aos outros até ao último bocado roubado ao Trabalho e ao derradeiro metro quadrado destruído na paisagem. A venda, a espada e a balança ficarão entregues aos merceeiros (e longe de mim qualquer insulto ao comércio tradicional, que tanto prezo), só eles capazes de satisfazer a ânsia do rebanho ego-gregário dos consumidores. E parece, até, que há acções que, ultimamente, têm subido... Outros, ainda, parece terem saudades do bolor das sacristias...
    Dizia o Almada Negreiros, "e ainda há quem faça propaganda disto!"...

    Bom Domingo

    Francisco Oneto

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  3. Caro Francisco,

    Obrigado pelas suas palavras... além do mais, penso que sabe que eu afino "pelo mesmo diapasão" no juízo que apresenta sobre a dinâmica socio-política e partidária que, em nome do dinheiro e dos interesses corporativos, reproduz e repete, em todos os quadrantes políticos, de uma ou de outra forma, os mecanismos da fraude que, contra o cidadão e a ética inerente à coexistência humana, justa e pacífica, desenvolvem nas mais sofisticadas e perversas parcerias, ao "arrepio" dos Princípios que dizem venerar. Permita-me, por isso, ter recorrido ao caso BPN e ao facto de Vital Moreira ser (ainda!) independente, a título de chamariz para o que, ao abrigo da democracia e de alegados mas vãos conceitos reduzidos a senhas ritualisticas que se limitam a confirmar os laços de pertença e dependência cúmplice, os cidadãos devem conhecer e rejeitar, cada vez mais contundentemente, de forma a que o maquiavelismo oportunista reduza a sua expressão... em última análise, se por mais dignas motivações melhor não fôr possível, por medo de "perder votos"... ao escrever este texto pensei ainda numa outra dimensão que considero não devermos perder de vista: comprometer as posturas políticas consigo próprias e isso, mesmo quando duvidamos do valor que efectivamente possam reconhecer às palavras, permite à crítica a legitimação da sua pronúncia... porque é necessário prevenir, na sua transparente e justa expressão "para que não se devorem uns aos outros até ao último bocado roubado ao Trabalho" e arrastem na voragem todos os que ainda desejam e praticam a ética da solidariedade e do conhecimento, acreditando que nos cabe também reforçar o contributo para uma mudança que, a não ser assumida, levará à derrocada a civilização e a sociedade que afinal, lhes permite o poder e que, talvez por isso, anunciam e classificam como desenvolvida... Dá efectivamente vontade de nos recolhermos no silêncio observador e analítico, distanciados do mundo e desta ilusória realidade a que se sacrificam, por todo o lado, os seres humanos mais frágeis e desprotegidos... mas, cá dentro, um kantiano imperativo categórico insiste no sentido do Dever... nem que seja com um sentido pedagógico ou enquanto impossibilidade de não deixar de manifestar indignação perante a injustiça a que uns poucos continuam, sem medo e sem escrúpulos, a sujeitar a maioria.

    Bom Domingo, Francisco e... Bem-haja!

    Um abraço,

    Ana Paula Fitas

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  4. O problema do Centrão - leia-se PS e PSD - é do estarem, os dois de acordo em 99,9%, sobre tudo e discordarem na forma de fazer no restante 0,1%. E qual é a forma de fazer? A do PSD é mais tecnocrática. Mais, directiva. A do PS é, aparentemente, mais participada. A participação acaba quando as opiniões são diferentes daquelas que estão préviamente definidas. O resultado final é exactamente o mesmo. Manda quem pode e obedece quem "deve".
    Vital Moreira não é nenhuma pedrada no charco. Ele faz parte do caharco da política portuguesa. Não há uma ideia, uma discussão séria sobre o que quer que seja.Existem comentários sobre os outros candidatos. É impressionante vermos como os políticos passaram, todos a comentadores. Um desconforto. Depois dizem que as pessoas não se interessam. Como é que hão-de interessar por algo que é nada.
    Propostas sérias não é dizer que queremos uma Europa mais igual. Propostas sérias é dizer quais as metas que queremos atingir e quantificá-las. Tudo o resto são conversas "déjá vu".
    Quem são os candidatos que objectivam os seus discursos? Nem um.
    Á margem, mas em jeito de nota final. Quem se preocupa com os chips nos veículos? Quem se preocupa que haja um cartão único, onde as informações estão todas mais próximas? Onde está a cidadania e as reflexões daqueles que supostamente, dão as pedradas no charco? Em lado nenhum porque fazem parte integrante do charco.

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  5. Obrigado pelo comentário, sério e desassombrado, MR... com o qual, em muito!, concordo. Contudo, acredito -ainda acredito!- que há pessoas sérias que, para além do papel que se deixam representar, permanecem lúcidas e, perante a sua consciência, exigem a si próprias a concordância entre os seus valores e a sua prática... são essas pessoas que merecem que a nossa compreensão da complexidade dos tempos que correm, lhes dê o crédito de confiança necessário... para que o caminho não fique apenas disponível para os que, claramente!, reconhecemos como não disponíveis, cultural e eticamente, para se empenhar politicamente na construção objectiva de medidas concretas pelo aperfeiçoamento democrático!... veremos!

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