É profundamente humana a fé dos homens... pela consciência da sua fragilidade, pela necessidade de ultrapassar o sofrimento sempre injusto, cruel e doloroso, pelo medo, pela esperança, a fé é profundamente humana! ... Catártica, a fé é a manifestação da capacidade de busca de transcendência, uma antropomorfização do sentido do divino que cauciona a validade incontestável dos valores e dos princípios indispensáveis à regulação dos comportamentos, à compreensão e à contenção, essenciais à coexistência social. ... Por isso, os erros humanos e a consciência do exercício do profano e do "pecado" pelos representantes da vida institucional das Igrejas implicam sempre a degradação da capacidade de mobilização dos cidadãos... particularmente, quando a relação directa com o sagrado se desenvolve directamente entre as pessoas e o "sagrado", facilitada pelo ambiente socio-individualista da sociedade contemporânea. Diminui, por isso, a influência social da Igreja e acentua-se a designada "crise das vocações"... e quanto mais se investe no marketing, no espectáculo público e comercial, ao contrário do que possam pretender os que andam à conquista de "fiéis", menos credibilidade assume o que se representa como manifestação da devoção... porque a esfera do sentimento religioso é privada, intimista e justa! A ética subjacente ao juízo resultante da experiência do mundo, constrói nos cidadãos a noção da solidariedade... e o sentido de justiça nasce da exigência entre a teoria (ou a doutrina) e a prática que, para os cristãos, radica na lendária história de Jesus... A Igreja Católica vive do dogma e afasta-se, a passos largos, do sentir dos cidadãos e quando se percepciona a emergência do sentir ou de uma argumentação religiosa colectiva, estamos apenas perante um pretexto de coesão comunitária e de resistência ao estranho que nos desafia e atemoriza... a isto se resume a demagogicamente intitulada "guerra de civilizações", invocada por todas as religiões, sempre que os seus interesses se sentem ameaçados.
Sabe, minha cara, o problema dos post's é querermos, as mais das vezes, meter o "rossio na rua da betesga".
ResponderEliminarEu explico.
Em trinta linhas você fala de "religião", de "profano", de "ética", de "civilizações", de "Jesus", de "igreja católica", designadamente.
Pois.
Cada tópico, de per si, daria tratados.
Pois.
Subjacente ao seu texto só encontrámos as Religiões do Livro.
E as religiões que não têm Livro?
E o sagrado sem religião?
E as religiões sem Deus?
E? E?
Tantos e's que poderiamos interpor.
Eu percebi o sentido do texto e as circunstâncias ( a visita do Papa dos católicos a Portugal...)em que ele foi produzido, mas pareceu-me sintético, em excesso.
Defendo o diálogo das religiões, que há-de anteceder o diálogo de culturas e civilizações, mas parto de um pressuposto:
1- Só há um "raça", uma "espécie", que é a HUMANA e a HUMANIDADE.
Um abraço amigo e de consideração,
J. Albergaria
Ana Paula,
ResponderEliminarBelo texto!
Um abraço.
Não professo propriamente a ideia de que haja uma guerra de civilizações em curso.A atoarda partiu do pensamento americano sobre R.I.pós 89.
ResponderEliminarMas há uma coisa que certamente me incomoda
que é a de ver Fátima autoproclamar-se altar do mundo.Afinal de que altar e de que mundo(s)estamos a falar.
Quantas e quais as guerras que terão sido provocadas, há séculos, pelo fundamentalismo do Ocidente, sem necessidade delas?
Eis a minha curta opinião.Porque tanto quanto posso saber os caminhos da paz são sempre demasiado frageis e o Leviatã foi,afinal, mais uma invençao primordialmente grega .
Com as melhores saudações
A.N.B.
Caro José Albergaria,
ResponderEliminarTem toda a razão :)
Por isso lhe agradeço a compreensão para o contexto em que este post foi produzido e publicado e lhe transmito a intenção de outras reflexões aqui irem sendo abordadas... porque, para além do próprio pensamento religioso, somos uma só Humanidade, receba, com toda a consideração, o meu abraço amigo.
Obrigado, T.Mike.
ResponderEliminarUm abraço smigo :)
Caro A.N.B.,
ResponderEliminarTambém eu não subscrevo a invenção da tese da "guerra das civilizações" que, aliás, muito me incomoda, por contribuir para a promoção da xenofobia e do radicalismo religioso... de facto, os fundamentalismos são o pior inimigo da Humanidade e a História encarrega-se de dar curso às dinâmicas conjunturais que tantas vezes negligenciamos, umas vezes por etnocentrismo e outras por racismo.
Com elevada consideração, receba as minhas melhores saudações.
Caríssima amiga Ana Paula Fitas,
ResponderEliminarFelicito-a pelo brilhantismo do seu texto que nos abre uma análise antropológica muito interessante!
Concordo, absolutamente, que existe uma necessidade emocional e ética da fé nas nossas sociedade, como nos diz diz, com muita pertinência! Alguns padres, infelizmente, deixaram-se contaminar pelo espírito corrupto do tempo, tal como acontece com muitos políticos e muitas pessoas com outras nobres missões, que agem sem convicção. Sem dúvida que o individualismo tentacular da nossa mentalidade conduz-nos ao afastamento da fé colectiva.
A crise de vocações inscreve-se na falta de espiritualidade e no excesso de materialismo que mundanizou as nossas sociedades e os indivíduos em geral. Por esta razão, a crise de vocações perpassa por muitas outras missões profissionais... A história de Jesus Cristo e a forma como a interpretamos depende da nossa fé e do respectivo grau de aderência.
Concordo que a Igreja Católica, que muito respeito, por vezes é muito ritualista e dogmática, mas no nosso mundo excessivamente individualista poderá ser um dos baluarte da teologia de coesão comunitária ( teólogo Juan Ambrósio ) e bem benéfica para o imprescindível relançamento de uma ética pública e, como nos diz, para as angústias da vida quotidiana.
Aliás, o papa Bento XVI tem um discurso bem coerente com a necessidade de defesa dos Direitos Humanos e de crítica dos vícios do mundo global, tecnocrático e submetido à ganância especulativo dos centros financeiros, não está muito longe do discurso de Mário Soares, não obstante a sua diametral posição laica.
Na verdade, o papa com a sua concepção espiritual ampla, embora de matriz conservadora, defende com muita justeza a necessidade de um diálogo intercultural e inter-religioso para um empenhamento colectivo da Humanidade para a defesa dos Direitos Humanos e a ideia de desenvolvimento integral do Homem ( Encíclica 'Caridade na Verdade', 2009).
Saudações cordiais, Nuno Sotto Mayor Ferrão
www.cronicasdoprofessorferrao.blogs.sapo.pt
Carissimo amigo Nuno Sotto Mayor Ferrão,
ResponderEliminarÉ um gosto escrever quando se é lida de forma tão séria e proveitosa para mim própria.
Obrigado, meu caro amigo.
Receba, como sempre, as minhas melhores saudações.