Até à data da sua realização, em 2011, muito se irá escrever sobre as próximas eleições presidenciais; contudo, neste momento, sinto necessidade de pensar em perspectiva, ainda que de forma breve, este acto cívico de crucial importância política para o país. Suscita-me a reacção um certo registo emocional que se denota em grande parte das expressões de apoio aos três candidatos que estão no terreno e que, excessivamente, afirmam esse apoio sustentando a respectiva assertividade na sua vontade de evidenciarem uma pública oposição aos restantes. É pouco, é demasiado elementar e é, essencialmente, grave para a responsabilidade cívica, ética, política e social que deve estar subjacente ao exercício da participação democrática esclarecida. Não podem por isso lamentar-se ou, com autoridade moral, comentar criticamente de forma credível, a evocada natureza identitária do país, dita de "brandos costumes" e que, culturalmente, tem determinado o tipo de relações socio-políticas que define escolhas, conteúdos e protagonistas nas áreas estruturantes da gestão do poder e dos serviços. A conjuntura económica e política, quer nacional, quer europeia é, de todos, conhecida e o agravamento da sustentabilidade social não legitima voluntarismos ou corporativismos assentes em questões pessoais ou interesses de grupo. Por isso, considero grave e quiçá perigoso para a democracia, esta tendência de fazer prevalecer sobre o interesse nacional e da Polis, sentimentos de retaliação e honra que caracterizam sociedades cujos laços de dependência interpessoal se sobrepõem à dimensão política e colectiva das decisões. Há, também aqui, um vestígio de uma ruralidade enfeudada a lógicas que se reduzem aos mundos individuais e familiares, alheadas da noção efectiva do bem-comum. Por este conjunto de razões, quem tem responsabilidades na formação da opinião pública, deveria encarar o problema não em termos de consequência de expectativas goradas, desilusões ou projecções utópicas que se alimentam a si próprias, recusando pensar a realidade apenas pelo cansaço humano que o desalento provoca, criando, pela necessidade de acreditar, mitos que, como sempre, depois de escalpelizados, deixam à vista "pés de barro".
Acho o seu texto, do ponto de vista formal, bem estruturado e de estilo denso mas de qualidade irrepreensível. É um bom texto. Gostava que fosse mais claro e aberto. Gostava, se bem entendi as suas preocupações, que se desligasse das feridas de um processo que me pareceu penoso e me esclarecesse, a mim e a muitos que como eu, ainda não entendem que Manuel Alegre é o candidato certo e não a opção possível na actual conjuntura (como me parece ser o pensamento de Vital Moreira). Rebata a informação golpista. Rebata análises e opiniões. Sugiro que comece por Miguel Sousa Tavares (texto "Uma campanha triste", último Expresso), não porque este me mereça crédito, mas porque tem leitores, porque "fabrica" tendências de opinião e, finalmente, porque relata factos que merecem resposta...
ResponderEliminarDigo-o com sinceridade e expectativa. Não ma traia.
Abraço amigo
APF,mandei um comentário,ter-se-á perdido?
ResponderEliminarAPFitas
ResponderEliminarO que eu,ontem,tratava de observar,(e se perdeu)é que o PS com a escolha definitiva de M.Alegre, acaba de produzir o Grande Acto político de 2010.Com fortes consequências em 2011/2012.O país merecia-o.
O PS garante assim a criação de alternativas de exercício do poder dentro de si próprio,abrindo caminho ao aparecimento de NOVOS ACTORES mais adequados e próximos do país real.Garante a continuação do seu projecto histórico socialista.Suscita internamente o aparecimento de novas vozes de confiança junto das Instituições e das pessoas que bem precisadas andam disso.Mudam-se os tempos.Vai mudar o Ciclo.
Quanto ao problema de consciência de e entre MS e MA, estou mais ou menos certo de duas coisas. 1)que no PS alguém há-de estar a pensar com dupla grandeza na situação;2) que MS subira do patamar da sua consciência pessoal, às exigências da consciência patriótica. A velhice costuma dar Sabedoria... sem pés de barro.
E como o que estou a dizer é apenas previsão política,o melhoe é acabar por aqui.A seu tempo,melhor explicitarei esta visão.
Com as melhores e bem dispostas saudações
ANB
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ResponderEliminarÉ um ponto de vista - o do anónimo -, mas mais esperançoso do que sustentado em sinais notórios. Tomar as rédeas de uma necessária mudança de vida não se consegue pelo mero desejar de uma vida diferente.
Que economistas de mercado o partido socialista irá agregar num élan de esquerda? E que pacto de austeridade compatibilizará com o impulso de crescimento que não afugente nem trabalhadores nem investidores?
Irá ser interessante observar como o partido socialista irá mudar-se a si próprio e ver se o consegue, ou não, com a confiança do eleitorado.
...
Meu caro amigo Rogério,
ResponderEliminarAs suas palavras ecoam fundo dentro de mim. Obrigado!... Vou tentar dar resposta honesta ao desafio que me lança e que muito me honra que aqui proponha. De novo, o meu muito obrigado pela confiança. Tentarei fazer o meu melhor. Ainda não li mas vou ler o texto de Sousa Tavares e começarei por aí... e, já agora, se não fôr pedir muito! quando encontrar textos que merecem passar por este "filtro" de análise, pode vir até cá sugeri-los?
Um grande abraço.
Caro ANB,
ResponderEliminarFelizmente, o comentário chegou!... porque, de facto gosto de aqui ter registada esta reflexão que muito agradeço, quer pelo regozijo entusiasta com a decisão, quer pelas avisadas palavras em que se revê quem não acredita que a democracia possa ser hipotecada a questões pessoais, alheias à efectiva defesa do bem-comum, por quem se orgulha de por ela ter lutado!
Reciprocamente, receba as minhas melhores e muito bem dispostas saudações.
Olá VBM :)
ResponderEliminarObrigado pela observação inteligente e pelo repto que não apenas lança mas que, acima de tudo, enuncia... os tempos que se seguem são, efectivamente, muito interessantes para a observação e a análise socio-política... a interacção e a dinâmica que o plano político desenvolverá com o sector económico-financeiro é uma dimensão da realidade em que se confrontam interesses antagónicos a que só o repensar de objectivos e o ajustamento das metas aos diagnósticos adequados ao momento, podem dar resposta satisfatória, simultaneamente, à qualidade de vida dos cidadãos e à evolução da economia nacional.... vamos ver como os agentes de intervenção multisectorial (políticos, económicos, financeiros e sociais, quer nacionais, quer internacionais) vão reagir...
Grande abraço :)
Cara Ana Paula,
ResponderEliminarFarei o que me sugere. Com todo o agrado, até porque assumi compromissos que me impedem de comentar qualquer dos candidatos. Como disse, lá no "água lisa" ao João Tunes,meu amigo de lutas antigas: Tenho por afirmação solene, escrita e jurada na minha declaração de princípios editada em 31 de Janeiro passado no meu blogue, que “Não entrarei no jogo político, por isso, não comentarei discursos ou posições de qualquer partido”. Á letra até podia, dado que Manuel Alegre se afirma como candidatura apartidária, mas eu sigo o espírito da coisa.
Contudo, estarei atento ao que a informação golpista dirá dele. Dele e dos outros. Esse é o meu papel. A informação golpista e manipuladora é pois o meu combate...
Abraço amigo
Caro Rogério,
ResponderEliminarAgradeço-lhe antecipadamente pelos contributos futuros e compreendo a lealdade ao "espírito da coisa".
Vamos a isso!
Um grande abraço amigo.