terça-feira, 8 de junho de 2010

Andam a querer educar a Mocidade????




Fiquei incrédula perante uma notícia que, entre outros, o Arrastão e o Crónicas do Rochedo, divulgaram e comentaram. Encontrei-a Aqui. Não compreendo!... mais: além de não compreender, tenho dificuldade em aceitar! A decisão de um agrupamento de escolas de Aveiro em vestir 1200 crianças, frequentadoras de 4 jardins-de-infância e de 5 escolas do 1º Ciclo, com roupas que simulam a indumentária da Mocidade Portuguesa é, além de contrária ao espírito da escola republicana, anti-pedagógica no contexto de uma escola democrática que deveria desenvolver as competências cívicas dos mais novos. De facto, entre tantos episódios que caracterizaram a vida pública e a comunidade escolar ao longo dos últimos 100 anos, é, no mínimo, caricata, a opção por esta ilustração histórica claramente associada ao espírito da obediência acrítica, próprio das ditaduras e de uma ordem de pendor militarizado que, em tudo, contraria o que hoje reconhecemos como válido para o desenvolvimento cognitivo e socio-intelectual das crianças. Porquê? Com que significado? Com que objectivos? - eis as questões que se nos colocam... de qualquer modo, deixo a sugestão: para se inspirarem comecem, por favor, por ler "Liberdade sem Medo" de A.S.Neill, publicado em 1963 e ainda hoje, obra-prima da pedagogia internacional... porque, por favor!, o papel dos adultos é acompanhar o crescimento dos mais jovens!

16 comentários:

  1. Hi Hi ... esta nem merece comentário!!! Estou a brincar...
    Quando temos que afirmar que "o papel dos adultos é acompanhar o crescimento dos mais jovens!" o caldo está entornado, e já começou a cair para o chão!
    Escrevi há uns dias no FB que "O sistema educativo das sociedades dos países desenvolvidos são autênticas máquinas de manipulação cerebral..." e este triste facto enquadra-se neste comentário pois é uma forma dissimulada de manipulação de mentes "fresquinhas" e prontas a serem formatadas...

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  2. Caro Voz a 0 DB,
    ... pois... nada a acrescentar!... obrigado pelo útil complemento que aqui acrscenta!
    Abraço.

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  3. Tenho uma irreprimível vontade de dizer :
    Ana Paula Amiga, o Miguel está contigo..."
    Um abraço, enquanto a gente puder dizê-lo e enquanto ainda houver FB ou blogues...

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  4. Querida Amiga...
    Para quem nasceu em 74,estou "em estado de choque"!, atrevendo-me mesmo a perguntar se valeu a pena crescer!?
    Partilho a tua opinião em relação ao papel dos adultos, até porque tu, ainda "jovem adulta" e a minha querida zézinha (há trinta anos atrás) tiveram esse papel de fomentar o espirito critico e livre que determinaram a personalidade das crianças (eu) que convosco cresciam...
    Porquê? Será uma tentativa para travar o Livre pensar?...
    Uma coisa tenho a certeza, é tão mau que me limitou o discernimento :-(
    Aquele Abraço Alentejano
    Beijos com felicidade por te ter presente na minha vida :-)
    Beatriz

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  5. Eu só espero que esta "brilhante" iniciativa conte para efitos de avaliação dos senhores professores.
    Obrigado pela citação
    Abraço

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  6. Cara Ana Paula Fitas,

    É preocupante o lento mas progressivo apagamento do fascismo e, em paralelo, a recuperação de figuras e comportamentos que foram seu suporte. Desde o exercito onde a hierarquia superior, ao longo do tempo, foi emparedando os "Capitães de Abril", aparecimento de organizações que recuperam a imagem heróica da guerra colonial e apelidam por traidores da Pátria todos os intervenientes no processo de descolonização, passando pelos magistrados e figuras com responsabilidades no anterior regime.
    Falando de escolas, recolhi do DN a iniciativa de, a pretexto do combate à obesidade infantil, numa escola de Évora, terem sido postas crianças perante uma refeição preparada por cozinheiros, dispondo os alimentos de forma a relembrar o carro do Papa, de seguida cada criança produziu um desenho com o carro... Se não era intenção dar uma aula apologética da igreja católica, o que é certo é que terá funcionado lindamente (ao que parece.
    Não teria nada de mal (?) não fosse tratar-se de crianças de 7, 8 ou 9 anitos.

    Enfim, sinais... Os crucifixos não tardarão a regressar às escolas do Alentejo!

    Abraço

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  7. José Luís Moreira dos Santos9 de junho de 2010 às 10:49

    Ana Paula,
    começo por lhe agradecer a sua manifesta boa vontade e compreensão, mas deixe-me dizer-lhe que era inevitável que coisas destas, mais tade ou mais cedo, surgissem. Vivemos um tempo de refluxo que dura há muito. Se a nível mais geral a Direita dos Tempos, ou seja tudo o que são valores de antanho, retrógado,Bonald e de Maistre no seu melhor,mais os Neotocquevillianos á mistura, tiveram e aproveitáram a ocasião para entrar em força no pensamento e nas acção da vida dos nossos dias, uma parte de nós, portugueses, vive à espera da oportunidade de se mostrarem. Sou do Distrito de Aveiro, e escrevo muito acerca do que me rodeia, denuncio isso nos jornais e rádios locais com quem colaboro. Escrevo para mim próprio o que acho que vejo, e, abusando da sua compreensão, vou enviar-lhe um escrito que tem 2/3 anos, e onde pode ver que para mim, o fascismo, que é o que representa esta encenação professoral, de alguém que, tendo um pouco de poder, o utiliza em proveito dos seus desejos e valores, anda por aí já pouco às escondidas.

    A noite escura

    De voz mansa e pé de lodo,
    anda por aí, sorrateiro e leve,
    o ti António das botas
    em poses de primeira página,
    aproveitando o silêncio
    dos que não têm memória
    nem se interessam pela história
    dessa noite escura e longa
    de herois de cara lavada.

    Murmurando para o vento
    anda por aí, sorrateiro e leve,
    o ti António das botas,
    como se fosse acordado
    pelos sinais que se escondem
    nas vielas da traição:
    esqueleto de uma história,
    esfinge de uma lembrança.

    Em cumplices serenatas,
    anda por aí, sorrateiro e leve,
    o carrasco que sangrou
    o peito do meu País;
    que de negro esburratou
    a alma de um Povo inteiro,
    que viveu no cativeiro
    onde as vozes não calaram
    e de mil formas gritaram
    ao vento da madrugada,
    que por sua vez levava
    recados a toda a parte.

    Em voz de manha cinzenta,
    anda por aí, sorrateiro e leve,
    o chacal que bebeu o sangue
    que jorrou de um corpo inteiro,
    lá, onde ecoaram os desejos
    e se ergueram os sonhos.

    Não podemos deixar a memória
    limpar as chagas ainda acesas
    nem lavar as mãos da morte e podridão;
    como alguém que foge das sombras,
    se deixa amarrar ao esquecimento:
    que não sente o colorido desta dor.

    Basta-nos saber que há força bastante do lado das forças que têm horizontes de futuro para enfrentar a tormenta das forças retrógadas. Mas toda a atenção não é demais.
    Agradecido.

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  8. A história deste país, foi desgraçadamente contemplada com uma ditadura durante mais de 40 anos. Por isso não gosto e não quero que este período seja ignorado. Assim, se a encenação/representação, for devidamente contextualizada pela escola de Aveiro, como aliás tem obrigação de o ser, pode ser uma boa oportunidade de dizer ás nossas crianças; que nesse tempo havia segregação entre os meninos e as meninas, muitos andavam rotos e descalços, uma boa parte passava fome e outros tantos eram analfabetos, pois em vez de irem à escola iam trabalhar. Podem ficar certos que se a escola assim proceder, está não só a fazer pedagogia, como a desbranquear um período que os avós das criancinhas, tão bem podem testemunhar.

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  9. T.Mike :)
    Depois deste comentário, sou eu quem diz:
    "Miguel Amigo, a Ana Paula está contigo!" :)
    Aquele Abraço.

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  10. Querida Beatriz :)
    ... fiquei sem palavras!... e depois de imenso e carinhoso sorriso humedecido pelas lágrimas felizes, devo dizer-te que é, sempre!, com um orgulho sem nome, que leio as tuas palavras, escritas escorreita e justamente, como convém a uma livre-pensadora que honra amigas incondicionais que o tempo não atinge e de que é exemplo ímpar a nossa querida Zézinha. Obrigado pela tua presença e pela tua partilha. Obrigado pela tua energia, a tua determinação, o teu discernimento e a tua autonomia! Obrigado por estares aqui!... um grande beijinho envolto naquele quente Abraço Alentejano de sempre :)

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  11. Carlos,
    ... de facto, se a iniciativa tivesse permanecido apenas como dela tivemos notícia... atrevo-me, de facto!, a concordar com a sugestão.
    Abraço.

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  12. Caro Rogério,
    Obrigado pela pertinência das observações que aqui regista e pelo excelente contributo que constitui o caso da disposição de alimentos em evocação do carro do Papa... são, de facto!, sinais!... sinais que nos requerem atenção e vigilância crítica para que os fantasmas nos não sejam devolvidos e reforçados.
    Um Abraço.

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  13. Caro José Lu´si Moreira dos Santos,
    É difícil comentar a poesia escrita de dentro, com a autenticidade de um sentir que se sobrepõe a todos os comentários... tão difícil quanto honroso, poder lê-la porque partilhada desinteressadamente num espaço que lhe mereceu essa generosidade... pergunto-me quantos dos que hoje habitam os dias terão presente a dimensão indesmentível de um passado que tantos viveram e que tão branqueado tende a ser, cada vez mais, sob pretextos de relativizações sem fundamento... e, desta inquietação, nasce também a alegria da esperança que transmite e nos reforça a confiança quando fala das "forças que têm horizontes de futuro para enfrentar a tormenta das forças retrógadas".
    Muito, muito obrigado!
    Aquele Abraço!

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  14. Caro Fernando F.,
    Obrigado pelas suas avisadas palavras que, afinal!, se aproximaram do que terá vindo a ser a iniciativa! Faço meus os seus votos de que a Educação e a Escola trabalhem o conhecimento, desenvolvam a consciência e não permitam o branqueamento e a manipulação da própria História.
    Um grande abraço.

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