terça-feira, 25 de maio de 2010

Ouvir a Direita e Escutar a Esquerda entre o Desemprego e as Desinteligências... deixa-nos Livres para Pensar


Ouvi ontem que a Brisa se prepara para eliminar os postos de trabalho dos "portageiros", substituindo-os por máquinas capazes de proceder à operacionalização dos pagamentos. Fiquei chocada!... sim, sei que já não deveria chocar-me com "tão pouco" mas, a verdade é que fiquei indignada com o desassombro com que as entidades empregadoras, em contextos de crise económico-social tão grave, apregoam, como se de uma boa notícia se tratasse, a extinção de emprego para um número significativo de cidadãos. É uma questão de inteligência ou falta dela! É, além do mais, uma questão de princípios! Nos tempos que correm, encontrar máquinas a quem se paga é tão vulgar como "beber copos de água" e do anúncio em análise nada de interessante resulta, a não ser a comum constatação que decorre do antagonismo de interesses entre o bem-comum (entendido como uma espécie de ecológico bem-estar social) e os dos empregadores (conhecidos também como patrões, capitalistas, etc.). Por isso, a ideia provoca apenas a imagem de uma poupança sem rosto que resulta em lucros feitos de lágrimas de pessoas "de carne e osso"... E por falar em desinteligências, é urgente ter presente que a desconsideração humana e a aritmética do lucro cego, continua a ser o discurso torpe da direita! Ontem, na entrevista que Miguel Sousa Tavares fez a Eduardo Catroga no programa "Sinais de Fogo", ouvir o ex-Ministro das Finanças do PSD dizer que a crise se resolve com a dupla e simultânea diminuição dos impostos a pagar pelas empresas e do consumo dos cidadãos, a que se pode acrescentar, no dizer deste contabilista, o aumento da poupança das pessoas... fez-me tremer e pensar que, a partilhar da fé comum que emerge nas profanas expressões de espanto, certa seria a minha sincera e profundamente verdadeira invocação: "Deus nos livre de tais governantes e de tais planos de governação"! Extinguir empregos e entregar populações à indigência e à miséria, "cortando-lhes os víveres" e esmifrando-lhes a sobrevivência em nome da poupança é de uma inaudita crueldade acéfala nos tempos que correm. E de tal ordem foi a minha indignação que, hoje, ao ler os destaques da esquerda (ver o texto do Daniel Oliveira publicado no Arrastão, a referência de Nuno Ramos de Almeida no Cinco Dias e o texto de Ricardo Paes Mamede no Ladrões de Bicicletas) sobre a entrevista de Joseph Stiglitz, me ocorreu a urgência de, a todos!, relembrar que nada do que o excelso economista afirma, se destacar pela novidade já que, em plena discussão da adesão ao Euro, por cá, se travaram sérios argumentos sobre o assunto que, na altura, levaram a que, humildemente, eu própria, apresentasse uma inesperada comunicação a um Congresso Extraordinário sobre o Alentejo, realizado no concelho de Moura, sob o título: "A Moeda Única Europeia" (que viria a ser publicada no Diário do Alentejo). Por isso, se é bom trazer à memória dos dias os contributos actuais de quem pensa com a autonomia de que Stiglitz dá mostras como contributo para a formação de uma opinião pública esclarecida, melhor seria que reformulassemos a conhecida ideia de Marx que apela à prática da transformação teoricamente enunciada e deitassemos, todos juntos!, mãos à obra - porque, se as frases para compreender e transformar o mundo estão escritas, agora, o que, de facto!, nos falta é encontrar os meios adequados à sua concretização. E isso, em democracia, só com boa-fé e pelo diálogo poderemos realizar.

10 comentários:

  1. Cara Ana Paula,

    Fiquei com pena de si. Palavra! Ter pachora para ouvir o Eduardo Catroga e ter perdido um excelente Prós e Contras, foi ter-se submetido a uma verdadeira tortura...

    O que foi bom naquele programa? Terem, os convidados, deixado a impressão de que existem condições para uma verdadeira concertação social a envolver, até que enfim, a economia... Os convidados foram(SILVA PENEDA - Presidente do Conselho Económico e Social, ANTÓNIO SARAIVA - Presidente da CIP, CARVALHO DA SILVA - Sec-Geral da CGTP-IN e JOÃO PROENÇA - Sec-Geral da UGT)

    Deixaram-me uma esperança. Vejamos o que se vai passar amanhã, na reunião que vai discutir o "Pacto Social para o Emprego"...

    Quanto aos "portageiros" levanta uma questão pertinente. Contudo, parece-me inevitável que o progresso tecnológico, a inovação e a produtividade tenda para, tendencialmente, passar-se de situações de mão-de-obra intensiva para o capital intensivo. É o progresso. Para tal terão de haver políticas e formas de solidariedade e responsabilidade social que permita essa evolução sem o dramatismo com que ela se manifesta aqui e agora. O progresso é, repito, inevitável. Pena que o usofruto dos beneficios só fique disponível para o capital...

    Abraço Amigo

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  2. Quero estar em sintonia com o que APF expressa neste comentário,Imaginando o sentimento de injustiça social alargado que vai na cabeça e na vida de todos "os portageiros do país" e a sua falta de futuro para, enfim, percebemos que, por cá, os portugueses foram postos ao serviço da economia.Em vez de ser o contrário.E tudo isto feito sem verdade,sem ética e sem decoro para(me) ficar por aqui.

    Tenho, por outro lado,a idéia de que em Portugal existem demasiados Economistas sem profundidade e dimensão política que lhes sirva de orientação para aquilo que vão dizendo e fazendo.
    Olho em volta e não lhes pressinto uma visão humana...e patriótica nas suas análises.Sobras-lhes quase sempre em "inteligência" das suas opiniões, o que lhes falta em Humanismo das posições que tomam.O mal é velho.
    Aliás,até já houve por cá um Ministro das Finanças que,há umas sete ou oito decadas, equilibrou rapidamente as Finanças Públicas,à custa do aumento e imediata criaçao de impostos.E doutras coisas,claro.

    Imaginem pois,o que teria sido da Europa e de Portugal do último pós guerra,se o pensamento actuante, por exemplo,de um J. Monet (que também foi comerciante de vinhos) tivesse sido apenas redutor e economicista? Imaginem que o seu amigo R.Shumman não tinha antevisto e feito aquilo que escreveu na mesma conjuntura?

    Imaginem o que seria da Alemanha em 89 sem a visão larga do chanceler H.Kohl e de Portugal sem a as ajudas políticas deste e de F.Miterrand juntamente com as opções firmes de Mário Soares?

    Imaginemos, por fim, o que poderá acontecer se o economicismo globalizado sem memória e sem imaginação social, continuar a agir sem uma perspectiva humana e a tomar sozinho conta da evolução histórica?

    Com as melhores saudações


    ANB

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  3. O crescimento não pode ser infinito uma vez que depende de recursos finitos... no entanto, o economista mafioso defenderá sempre o crescimento perpétuo... e defenderá sempre o endividamento em função do crescimento do PIB expectável... porque o verdadeiro objectivo é levar as nações à ruína... quando o PIB não crescer de acordo com aquilo que era esperado!!! [nota: nessa altura já os maiores activos do país terão sido conduzidos para os mega-capitalistas mundiais - e os Estados com elefantes brancos, não rentáveis, nas mãos]


    Mais:
    1- O proteccionismo permitia a sobrevivência de muitos países...
    2- Uma 'Golden Share' do Estado... permite ao Estado ter uma atitude interventiva... e não ser uma mera figura decorativa....
    ---> Os (mafiosos) zelosos anti-proteccionismo e anti-'Golden Share' andam agora por aí vangloriar-se da existência de países falidos e inviáveis... porque o seu verdadeiro objectivo sempre foi levar determinadas identidades ao desaparecimento!


    ANEXO:
    ---> A superclasse mundial (Banca Mundial, Grandes Corporações Multinacionais) tem em vista um Neofeudalismo... consequentemente, fomenta a destruição/dissolução (dividir para reinar) das pátrias, das identidades, das tradições autóctones, promovendo o nascimento de um mestiço desenraizado e fácil de escravizar...


    -----> IDIOTAS ÚTEIS ao serviço da superclasse:
    A ESQUERDA - a Esquerda também apanha boleia no barco da destruição de tudo o que é tradicional... embora o seu objectivo seja outro -> o objectivo da Esquerda é reinventar o homem, o derradeiro homem, um homem novo, aquele que chega ao fim da História.
    O ECONOMISTA IDIOTA - ...
    O IDIOTA SUICIDA - os idiotas suicidas (PNR's e afins) estão à espera que aqueles [a maioria dos europeus] que não se preocuparam em constituir uma sociedade sustentável (média de 2.1 filhos por mulher), e que andaram a realizar negociatas de lucro fácil à custa de alienígenas , se revoltem...

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  4. Uma redução de 30% dos salários nominais, por escalões progressivos de 0.1% para o salário mínimo a 40% para os salários máximos, - e uma tributação de 85% de bónus e prémios -, a par da redução de preços de bens e serviços segundo a proporção da redução dos custos unitários de trabalho, não vejo em quê não estimulasse e favorecesse a redução da dívida externa pelo incentivo dado às exportações, mais competitivas, e desincentivo às importações por encarecimento relativo, face ao menor poder de compra.

    A grande dificuldade de qualquer política macroeconómica não-errada (isto é, acertada) é a confiança que requer que os governados sintam em relação aos seus governantes e, se vindos de um processo experimentado de exploração e desigualdade iníqua de distribuição de rendimentos, não há de facto razão para crer na cooperação em vez da espoliação tradicional.

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  5. Caríssima amiga Ana Paula Fitas,

    Subsecrevo inteiramente a sua sensata posição e os sólidos argumentos de sensibilidade social que nos apresenta. Gostei bastante da simbólica caricatura do corpo exangue, moribundo, do capitalismo que só sabe ser alimentado pelo lucro, sem escrúpulos sociais mínimos.

    Quanto a mim por detrás desta obsessão geoestratégica da Europa com o défice está a vontade do velho continente não perder o pelotão da frente em termos de economias mais dinâmicas face aos novos gigantes mundiais. Só que esta estratégia esquece duas coisas fundamentais: por um lado, estamos a concorrer com potências emergentes que não têm padrões de respeito mínimo pelos Direitos Humanos e, por outro lado, com esta obsessão de resolver esta crise económica, a Europa e o mundo, como dizia no outro dia com muita razão Carlos Barbosa de Oliveira nas "Crónicas do Rochedo" o mundo antes de tudo necessita de resolver a crise ecológica pois trata-se da sustentabilidade do próprio planeta.

    Nessa medida, não posso estar mais de acordo quando nos diz que precisamos de meter a "mão na massa" esclarecendo a opinião pública mundial, encentando acções de "boa-fé e com diálogo" como nos diz escorada numa imensa generosidade que ajude à partilha de recursos e à redistribuição justa da riqueza. Sem esta percepção social as assimetrias aumentarão exponencialmente e o gérmen dos ódios, ressentimentos e guerras estará lançada para frutificar em inúteis e desumanos conflitos...

    Saudações cordiais, Nuno Sotto Mayor Ferrão
    www.cronicasdoprofessorferrao.blogs.sapo.pt

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  6. …a bola de neve aumenta de ano para ano….já estou cansada de fazer tanto Pinóquio…felizmente a écharpe é curta… cobre-se a cabeça mas, ficam as orelhas,olhos,boca e sentimentos ao relento. ..só espero que não tenhamos uma hipotermia....só uma curiosidade: ainda há bárbaros? Pensava que já estávamos na era do civilego….hum… ilusão….pois…tenho o dicionário sec.XXl desactualizado :(

    Saravah

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  7. Concordo em parte consigo. A empresa deveria ou deve reconverter os portageiros noutra função que haverá certamente ou ir a pouco e pouco reformulando a situação. Só concordo consigo nesse ponto. Quanto ao resto é treta. Queremos um país avançado, com crescimento económico mas depois somos contra a produtividade, contra os gastos desnecessários. Há já muitos anos viajei de carro em Montreal e verifiquei que nas portagens se atiravam moedas para dentro dum recipiente Não sei como era feito o controle mas que há mais de 20 anos já não havia portageiros nas auto-estradas é verdade. Actualmente na Suiça não há 1 portageiro ao serviço nas auto estradas. Parece que aí o sistema é toda a gente pagar uma importância fixa no início do ano e depois poder circular livremente nas auto estradas. Por essas e por outras é que temos tão baixa produtividade neste país. Em Portugal vê-se, por exemplo, nos serviços municipalizados 5 e mais pessoas para resolver uma pequena situação na via pública. Para remover um monte de entulho vem um carro com motorista e três ou quatro sujeitos que com pás e durante umas horas carregam a viatura enquanto o motorista fuma uma cigarrada. Vi na Dinamarca há mais de 40 anos uma viatura municipal com 1 motorista que sózinho e com um dispositibvo no carro que ele próprio manobrava carregar em pouco tempo o carro com entulho. Por isso somos atrazados. Essa das auto-estradas faz-me lembrar quando os jornais acabaram com as velhas tipografias. Também aqui muita gente ficou desempregada. E muitos, muitos casos podíamos citar ou queremos voltar aos primórdios da revolução industrial com a introdução de máquinas que eliminaram milhares de postos de trabalho?
    Enquanto uns serviços terminam outros começam porque hoje há necessidade de pessoas a trabalharem em áreas que antigamente não existiam. Mas se não for assim o mundo não avança.

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  8. Não adianta nada ficar-mos chocados, pois é para o lado que o avanço tecnológico dorme melhor. Temos é que pôr os robots a pagar imposto, e nem é preciso grande imaginação, basta utilizar a nossa sigla do IRS, imposto dos robots singulares, pois para fugir aos impostos, já cá estamos nós.

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  9. ... pois é, os portageiros são a ponta do véu... consciência social? sim, sim, mas só se não implicar dinheiro, temos que fazer algo pela economia, claro que sim! mas não, mais uma vez às custas do "Zé Povinho" retirar cada vez mais aquele que trabalha arduamente e pouco ganha, para se poder manter prémios megalomanos aos grandes gestores que ganham milhões. É fácil substituir por máquinas, investe-se hoje, mas nunca mais se pagam salários, pouco importa quantas mais familias irão ficar sem recursos, importa que a empresa seja competitiva e no final do ano os lucros sejam visiveis e quanto mais altos melhor! Com a vantagem que as máquinas não reclamam :-) Será que andamos todos a ver mal o filme?!
    Podemos e devemos deitar mãos à obra, mas será que é isso que se pretende?
    Aquele grande Abraço alentejano
    Beijo grande
    Beatriz

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  10. Carissimos Rogério, ANB, PVNAM, VBM, Nuno Sotto Mayor Ferrão, Anónimo e Fernando F.
    e
    Queridas Amigas "Saravah" e Beatriz

    É uma honra para A Nossa Candeia contar com os vossos contributos e as vossas reflexões na construção deste caminho partilhado... é, antes de mais, uma imensa alegria ler-vos e sentir que, no nosso país, democracia e inteligência estão vivas e caminham de mãos dadas.
    Desculpem-me, por favor, por hoje vos não responder individualmente mas, se, por um lado, o tempo me tem sido escasso para ir respondendo, por outro lado, é muito importante que as vossas palavras valham por si próprias e sejam, elas mesmas, vozes legítimas de co-autoria do espaço que é A Nossa Candeia.
    Obrigado :)
    Aquele abraço (cuja forte e firme costela alentejana deixo à preciosa Beatriz)... ou, como diz esta minha querida amiga desde a infância: Saravah!
    Bem-hajam!

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