O lançamento do Manifesto "Compromisso à Esquerda" que apela ao entendimento dos partidos que, conjuntamente, receberam 60% dos votos dos portugueses como expressão da confiança do eleitorado numa solução governativa que permita e justifique a inflexão da governação socialista no sentido do reforço da intervenção social segundo a perspectiva comum "das esquerdas", circula na internet e, desde o seu lançamento, na passada 4ªfeira, até este momento, reuniu cerca de 750 assinaturas, representativas da sociedade portuguesa. Este facto permite-nos reforçar a ideia de que os cidadãos reconhecem a necessidade de viabilizar uma estabilidade governativa e de chamar a atenção para que os partidos em que votaram (PS, BE e CDU) não cedam à tentação de enfrentar a nova legislatura com posturas que se esgotam em aparentes estratégias de auto-defesa identitária que tem sido, tradicionalmente, o papel a que se têm remetido, sempre que o confronto político emerge... como se o diálogo e a negociação não fossem, de facto, as verdadeiras armas da Democracia!... É a convicção de que, nos momentos difíceis, o importante é valorizar as causas comuns e não o acentuar das diversidades que justifica a afirmação pública desta vontade colectiva de cooperação assente na consciência e no sentido de responsabilidade dos partidos de esquerda. E há causas comuns a defender: a vocação social do Estado, num tempo em que a crise económica e o desemprego incidem e ameaçam mais o já tão frágil tecido social do país; o desenvolvimento de políticas sociais que promovam o combate à pobreza e criem condições para travar a exclusão, o desemprego e a insegurança; o reforço dos sectores estratégicos do Serviço Nacional de Saúde, da Segurança Social e do Ensino Público de Qualidade; a sustentabilidade económica com o apoio empresarial à criação de emprego; a sustentabilidade ambiental e a defesa dos direitos fundamentais dos cidadãos. Requer-se para isso, por um lado, abertura e capacidade negocial ao Partido Socialista para, no âmbito do seu estatuto de vencedor destas eleições, reflectir e rever medidas concertadas nomeadamente no que se refere ao Código do Trabalho e ao regime de avaliação de professores mas, requer-se também, talvez acima de tudo, que Bloco de Esquerda e Coligação Democrática Unitária não fechem portas à negociação e não obriguem o PS a negociar e a governar à direita. Estamos perante uma responsabilidade colectiva de grande dimensão não só pela dimensão socio-económica da crise nacional mas, também, pelas fragilidades institucionais que, esperemos, a Presidência da República bem como a Assembleia da República, saibam ultrapassar... é isto que o povo português quer, merece e exigiu nas urnas: uma concertação política de esquerda que demonstre, no concreto, a maturidade democrática que os tempos justificam, para continuar a contar com a confiança do eleitorado. Da capacidade de coexistência do diverso e do diferente em nome de causas comuns temos tido exemplos vários que assinalam a boa-fé e a capacidade dos portugueses em gerir a complexidade: vejam-se as coligações partidárias com passado histórico de que é exemplo a CDU, o Movimento de Cidadãos ou o movimento Unir Lisboa; pense-se no que representaram e representam intervenções como a de Maria de Lurdes Pintassilgo, Manuel Alegre e Helena Roseta; reflicta-se no que significa a emergência de blogues colectivos como é o caso deste Público-Eleições 2009 ou do Simplex, entre tantos outros onde escrevem pessoas das mais diversas sensibilidades, com liberdade de expressão para assumir e expressar, num espaço comum, opiniões diferentes. O país está a mudar e a sociedade civil está, finalmente, a ser capaz de fazer ouvir a sua voz... sem prejuízo das organizações partidárias que podem encontrar, nestes ecos cívicos, razões para o esforço de se concertarem em Compromissos que visam salvaguardar o bem-comum. A este propósito, deixo aqui uma observação a Vitor Dias (cujo blogue pessoal é selectivo na publicação de comentários) que penso não ter compreendido a dimensão da concertação negocial e o sentido conceptual do apelo em que consiste o Compromisso à Esquerda, ao invocar que nele participo apesar de ter integrado o blog Simplex: o Simplex não era um blog do PS mas, isso sim, um espaço pré-eleitoral criado por cidadãos livres que assumiram publicamente ir votar no Partido Socialista nas eleições legislativas e em que escreviam pessoas de várias sensibilidades políticas -como aliás acontece aqui mesmo e onde o Vitor Dias também escreve sem nisso ver qualquer contradição!?!... por isso, faço votos que a direcção do PCP seja mais consistente, justa e inteligente na estratégia política da defesa do interesse dos portugueses e dos trabalhadores do que a que resulta de argumentos como o que VD utilizou ao invocar o que acabo de referir, ignorando quer a legitimidade cívica da participação livre e democrática dos cidadãos empenhados na defesa de um Portugal melhor para todos, quer a justeza de recusar a inflexibilidade demagógica como arma política. Ser de Esquerda, Hoje, em Portugal, é defender o interesse colectivo dos portugueses garantindo-lhes uma governação que salvaguarde, no mínimo, os sectores estratégicos da organização social... por isso, acredito que PS, BE e CDU, se o quiserem podem encontrar as bases de um Compromisso necessário para um País Melhor.
(Este post foi publicado no Público-Eleições 2009)
Ana Paula,
ResponderEliminarconta comigo.
Já "postei" no "Vermelho" as minhas razões.
Um grande abraço. :-)
Obrigado, T.Mike... é gratificante ver que a consciência não esmorece a solidariedade :)
ResponderEliminarVou ler o "Vermelho"...
Um grande abraço.
Cara Ana Paula Fitas :
ResponderEliminarApenas duas observações:
- a primeira é gostava que demonstrasse aos leitores em que é que eu sou selectivo na publicação de comentários no meu «o tempo das cerejas» ; até aqui eu estava convencido de que devia ser dos bloggers mais liberais nessa matéria porque, ao longo de dois anos e meio, recusei a publicação de meia-dúzia apenas por causa dos termos ofensivos usados e não pelo sua orientação política;
-a segunda é que é um truque um pouco forçado comparar o «eleições2009» (onde escrevem pessoas defensores das mais diversas opções de voto) om o «simplex» (onde o apoio ao PS era assumida e legitimamente o factor principal de congregação.
A Ana Paula Fitas não escreveu no «simplex» o que eu critiquei e invoquei. Mas, posso estar enganado, também não sentiu o imperativo de tirar o tapete aos seus colegas de blogue que clamavam desavergonhadamente que votar CDU ou BE era om mesmo que votar na direita.
Concordo inteiramente...
ResponderEliminarIvonitita
Ana Paula, vou ler o documento com toda a atenção para ver como se pode conciliar a vontade de algumas nacionalizações do BE com o programa do PS.
ResponderEliminarDe qualquer modo, o seu entusiasmo é contagiante.
Muito obrigada.
Um abraço.
Caro Vitor Dias:
ResponderEliminarObrigado pelas suas palavras.
No que às observações que aqui regista deixe que anote que, para além de pensar que, entre pessoas de boa-fé, se não justifica a necessidade de prova por ser suposto não afirmarmos "in-verdades", no que à primeira se refere, posso dizer-lhe que a experiência de verificação de não publicação de comentários no seu blogue é, infelizmente, mesmo minha; não sei se reparou mas a minha presença na blogosfera ainda não tem um ano e no início das minhas incursões neste interessante mundo virtual, várias vezes, Vitor, deixei comentários (positivos, note bem... alguns de elogio, outros de reforço do que escrevera) e não vi nenhum (nenhum, sublinho) publicado... não tem importância, claro e a minha referência ao facto resultou apenas da justificação do motivo que fez com que lhe não respondesse no "Tempo das Cerejas";
Quanto à segunda observação, não penso que a diferença material entre a natureza dos blogues Público-Eleições 2009 e Simplex seja, no que ao contexto da sua evocação respeita, significativa: são blogues colectivos, onde cada autor assume a responsabilidade pelo que escreve e nos quais se presume o respeito pela diversidade de opiniões de forma a que a coexistência dos autores seja pacífica e a continuidade do espaço persista, cumprindo os objectivos em que assenta a aceitação dos contributos... finalmente, reiterando o meu agradecimento pela justiça que me faz ao dizer que me não acusou de ter escrito textos com o teor para que a sua crítica remete, devo dizer-lhe que considero que me limitei a respeitar a opinião de outrem, não a subscrevendo ou apoiando e escrevendo o que, bem analisado, permite inferir posturas diferentes ou até muito diferentes - como são as que, para além do escrevo e pode ser lido, sublinha este esforço, sincero e empenhado no Compromisso à Esquerda que, se puder, gostaria que ajudasse a concretizar.
Votos de um bom domingo :)
Ivonitita,
ResponderEliminarObrigado pelas suas palavras. É realmente importante que se perceba o que todos teriamos a ganhar com a humildade e a grandeza democráticas de viabilização de um governo que, garanta o cumprimento da vontade dos eleitores... como diz, em comentário, um dos subscritores do Compromisso à Esquerda, este entendimento que se presume não retiraria a diversidade de afirmação a qualquer dos partidos em causa independentemente do que irá formar Governo mas, seria uma solução criativa e uma lição extraordinária de cidadania que a própria classe política traria para a sociedade portuguesa. Um abraço :)
Cara Maria Josefa Paias,
ResponderEliminarMuito obrigado pelas palavras calorosas que aqui regista... e pela pertinência da sua observação que denota o que, de facto, é urgente os partidos saberem discernir: o que é susceptível de negociação e o que deverá permanecer como exigência própria sem condições de execuibilidade... porque, todos o sabemos, quando negociamos, aceitamos o reconhecimento de algumas matérias e não podemos exigir a aceitação de todas elas... é isso que se pretende: discernimento, boa-fé e bom senso.
Um grande abraço :)