O desemprego é hoje o maior desafio do mundo ocidental que integra o número de países ditos desenvolvidos. Na verdade, a constatação do fenómeno decorre, não da sua imprevisibilidade (na medida em que o desenvolvimento tecnológico o implica e anuncia com significativa antecipação) mas, isso sim, na incapacidade (objectiva por razões de negligência e cálculo de redução de custos que se presumem no não investimento da prevenção) de encontrar respostas diversas, inovadoras e alternativas no quadro da oferta dos empregos, trabalhos e tarefas que sabemos irem reflectir a dispensa de mão-de-obra por motivos vários mas, repito-o!, previsíveis. O problema do desemprego não pode ser resolvido sem a coragem política coordenada e integrada de apoio à criação de empresas e à contratualização em áreas inovadoras relativamente ao mercado tradicional... não, não se trata apenas de alimentar as cadeias das novas, tecnologias da informação, tecnologias de vanguarda, "de ponta", etc... trata-se, isso sim, de investir fortemente no apoio à revitalização e à criatividade no sector das indústrias transformadoras, designadamente de pequena e média dimensão, de modo a reconfigurar os aparelhos produtivos que viabilizam a sustentabilidade do desenvolvimento à escala nacional, por toda a Europa... da agricultura aos serviços, precisamos urgentemente de perceber que interesses, competências e oportunidades nos oferecem as existências e qualificações de que dispomos para reinventar uma rede económica diversificada que se não esgote nos modelos e práticas tradicionais... hoje, conforme o provam os suicídios na maior empresa de telecomunicações francesa (leia-se o excelente artigo publicado pelo Alternatives Économiques), o trabalho sob tensão, contrariando vocações e formações, competências e consciências, conduz a uma tal baixa auto-estima, a uma tal redução das expectativas sociais e a níveis de qualidade de vida tão pouco gratificantes que se pode já tirar conclusões que não podemos continuar a ignorar (leia-se o artigo de Beja Santos no Vidas Alternativas). Referimo-nos à degradação das condições de trabalho (com causas muito próximas do abuso da flexibilidade e mobilidade utilizadas em ritmos que contrariam toda a organização bio-psico-social tal como a conhecemos e vamos culturalmente), associada às cada vez menos visíveis solidariedades colectivas (que nos alertam para o desfasamento entre interesses de trabalhadores e culturas organizacionais sindicais)... sem querer comparar o desespero do desemprego com a fraude psico-social e cultural que representa o mercado de trabalho de hoje, é importante que se tenha uma visão objectiva de conjunto destas realidades que apelam, inexoravelmente, à revisão ideológica do mundo laboral nas sociedades contemporâneas... aliás, foi esta a grande lição da crise que só não é assumida politica e colectivamente pelo receio da quebra dos lucros imediatos dos que ainda se constituem como pilares económico-financeiros... contudo, mesmo para estes, a situação é progressivamente incontrolável, dada a crescente instabilidade dos mercados cujos equilíbrios são cada vez mais precários... a Humanidade não pode ser forçada a mudar a sua própria natureza cuja capacidade de resistência e adaptação tem, apesar das aparências, limites, em nome dos rendimentos dos detentores do poder económico actual cuja cultura não está à altura do exercício desse poder... porque se estivesse, a economia estaria ao serviço das pessoas e da qualidade de vida para todos!
(Este post tem publicação simultânea no A Regra do Jogo)
Ana Paula,
ResponderEliminarmas conhecendo-os como conhecemos será que o pessimismo não se tornará numa filosofia decadente que irá singrar no mundo laboral face ao reiterado desinteresse dos detentores do poder económico (leia-se, das fontes de trabalho) por tudo o que não seja a remuneração máxima do seu capital ?
Mais tarde ou cedo haverá revolta da parte assalariada votada à exclusão pelo desemprego.
Por isso compreendo a sua denúncia.
Toda a política económica mundial tem, desde já, de ser reequacionada com vista a acautelar futuros desenvolvimentos menos pacíficos. E estou certo que mais depressa rebelarão os assalariados das economias emergentes, recém chegados a um melhor bem estar, do que aqueles que têm vindo a assistir ao longo do tempo a esta evolução negativa.
Uma coisa é certa! Nada fará parar a evolução técnica e cientifica que promoverá novos caminhos, novas experiências, novos conhecimentos que irão ser aplicados na economia e no bem estar. Mas também terá o preço da exclusão dos menos aptos.
Como vai ser a solução ?
Está a ver alguém querer abrir mão do que possui ?
Acredita que alguém não vai querer atingir a satisfação mínima das suas necessidades ?
Difícil, não é ?
Daí a necessidade de olhos novos sobre o Mundo.
Obrigado, T.Mike pela excelente continuidade dada a este alerta que nos dado a pensar pelo mundo em que vivemos... a constatação da realidade sobre a qual coloca, com as perguntas enunciadas, o "dedo na ferida" são o claro testemunho da nossa comum consciência... e o indicador apontado às consequências da recusa de acção a que assistimos. Cabe-nos por isso o alerta, o desafiar novos olhares, o tentar provocar novos modos de pensar... pelo bem comum que não sabemos ignorar no contexto da lucidez e da solidariedade que não pode resignar-se à escalada da exclusão porque afinal de contas, estamos vivos e não somos meros personagens de um qualquer filme visionário de ficção... Abraço :)
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