Hoje é notícia, nas televisões, rádios e jornais (ver aqui) a dimensão da pobreza em Portugal... de facto, quando as instituições de solidariedade social se decidem pela distribuição de vales para, em estabelecimentos comerciais, serem trocados por géneros alimentícios, podemos ter a certeza que a suspeitada taxa de pobreza e a sua transversalidade social alcançaram níveis que a aparência dos dias já não consegue ocultar. Não se trata já de cidadãos sem-abrigo (cujo número, repare-se bem!, continua sempre a aumentar não apenas em quantidade mas, também na diversidade demográfica que arrasta), de pessoas socialmente excluídas ou com problemas de integração, de desempregados de longa duração ou em situação temporária precária... hoje, a existência de "senhas" que fazem lembrar os tempos que acompanham as guerras onde a fome alastra e a miséria atinge a maioria dos cidadãos, dá-nos o retrato exacto de um fenómeno social mais complexo que é preciso ter a coragem política de enfrentar. As "senhas" pela natureza dissimuladora do recurso ao apoio institucional, denotam a vergonha que, no nosso país, apenas António Guterres teve de encarar como assunto de Estado, criando o Rendimento Mínimo Garantido - esse mesmo instrumento que, como tudo o que existe e apesar da sua inequívoca necessidade tem, também, aproveitamentos abusivos que uma área significativa do panorama partidário português (do PSD ao CDS) sobrevaloriza alegando e subscrevendo, demagogicamente, o populismo etnocêntrico dos que reduzem o mundo aos casos que conhecem, propondo a sua extinção ou a sua fiscalização como se esse fosse o trabalho mais importante a levar a cabo no país em termos de justiça e políticas sociais!!!... Acontece que, para quem não sabe é importante esclarecer!, as instituições de solidariedade social, bem como a própria Segurança Social, têm sido sempre cautelosas na forma como gerem os apoios que disponibilizam a quem precisa, evitando a atribuição excessiva de "dinheiro vivo" e procurando garantir que os apoios correspeondem efectivamente à satisfação de necessidades básicas... daí a distribuição de géneros "in loco"... o facto de agora começarem a optar pelas "senhas" significa, por isso, que o número de carenciados é excessivo para que o atendimento continue a reduzir-se às instalações institucionais e que excede, em muito!, o respectivo aprovisionamento... considerando ainda que os cidadãos pobres são agora famílias que não vivem, necessariamente, situações de pleno desemprego, o risco de desvio, por disfuncionalidade psicossocial, não é significativo, justificando-se, por isso mesmo, o recurso a este novo meio de troca... porque a fome é urgente e é preciso celeridade na resposta à imensa crise social instalada e em crescendo, é indispensável que os partidos políticos com assento parlamentar assumam as suas responsabilidades de governação em termos de liderança e cooperação, sem paliativos: a Pobreza é, de facto, em Portugal, a grande prioridade política.
Em Évora há um novo blog colectivo. está no principio. Mas vai para a frente.
ResponderEliminaracincotons.blogsopot.com
Ana,
ResponderEliminarfazia-me muita confusão um papel que eu tinha agrafado à minha cédula pessoal - Senhas de racionamento para leite.
Era algo que nunca pensei voltar a ver no meu país, e que eu tina porque nasci nos finais de 47.
O seu post é importante, fundamentalmente, pelo seu lado desmistificador.
As causas continuam !
Saudações amigas.
Olá Ana Paula :)
ResponderEliminarIsto será, o que acontecerá a todos, ou quase, a breve trecho, se os políticos não mudarem depressa o rumo. Se deixarem de pensar, cada vez que falam em obras, em quanto vão ganhar...
Mas temos já o exemplo, do Império chinês a ser seguido pelos chefes de estado, dos Países todos do mundo. Começando em Angola, terminando nos EUA, onde o "querido" Obama, se recusou a receber S.S. Dalai Lama. Como venho dizendo há muito tempo, seguidor das políticas de Bush sénior, estará cá, para continuar esse trabalho, acabar com a classe média. Já nem se preocupam com ética ou valores, só o senhor do universo conta e esse chama-se dinheiro.
Entramos na nova ordem e não estou a ver como saír, depois de ratificado o Tratado de Lisboa, ou melhor, o Tratado Bilderberg.
Quem me dera que eles ouvissem a sua voz... quem me dera.
Um beijinho de um grão de pó, com muito carinho, para um anjo enviado do céu.
Pela 1ª vez na vida, vejo tudo negro... o reino das trevas.
O melhor trabalho do demónio, foi convencer quase todos, de que não existe. :(
T.Mike,
ResponderEliminarO meu sincero agradecimento pelo testemunho que aqui deixa e de que, tendo nascido em 63, eu apenas tive conhecimento indirecto. Também eu pensara que tais realidades se tinham preservado na História como marcas exemplificativas a não repetir... não foi assim, infelizmente... e aqui estamos, em pleno século XXI, a reviver fenómenos que seriam, há poucos anos, impensáveis... felizmente, existe a Memória, esse precioso património que devemos sempre evocar para ajudar a enfrentar os problemas e, acima de tudo, para nos facultar as Lições sobre o que devemos prevenir, evitar ou, pelo menos, debelar... Ao ler o que escreveu fiquei sem palavras... por isso, o que aqui escrevo é o que me é possível no turbilhão de ideias e sentires que as suas palavras suscitaram...
Sim, T.Mike, "As causas continuam!"... e nós também!
Saudações amigas e um grande abraço,
Ana
Querida Fada do Bosque :)
ResponderEliminarNão podemos, não devemos, não iremos desistir... as nossas vozes e o nosso sentir sempre encontrará um caminho para que outros se nos juntem... e essa a contra-corrente da injustiça e da crueldade que nos não dão tréguas!... não deixe, Fada do Bosque, de acreditar... acreditar em si e na capacidade que temos de resistir... o mundo muda demasiadamente devagarinho mas não podemos parar a mudança e o ritmo da contestação... depois, de vez em quando, a História agracia-nos com as nossas pequenas conquistas... sim, Fada do Bosque, a pobreza e a escassez alimentar de que tanto se falou, que tanto relativizaram e descredibilizou, bem como a da água e da energia são os problemas mais importantes do século em que vivemos... saberão os políticos estar à altura da responsabilidade que estão já a ser chamados a assumir?... não temos grandes motivos para que a esperança nos tranquilize mas, temos a força da razão e, como dizia o poeta A.Aleixo "A Razão mesmo Vencida / Não deixa de ser Razão"... Vamos em frente... com a coragem e a ousadia da amizade preciosa de um beijinho de grão-de-pó, recíproco e sorridente... combateremos a desesperança e a depressão com o seu antídoto: um sorriso e a persistência cega na exigência de um Mundo Melhor... Abracinho meigo e caloroso para reforçar os dias :)
Obrigada pelo seu apoio, querida Ana Paula.
ResponderEliminarmas como diz o T Mike, é triste não saber se amanhã teremos que comer...é que a região onde vivo, é das mais afectadas, nunca pensei vir a sentir a pobreza na pele... mas num instante chegou. Quem é rico é que tem vontade de sorrir.
Casa onde não há pão todos ralham e ninguém tem razão. Para já ainda há, mas amanhã pode faltar.
Fiquei contente por saber que nasceu no meu ano! :)) Só podia ser "coelho" e ainda mais fiquei, com as suas palavras reconfortantes, calorosas e amigas.
Eu nunca desistirei... nem agora, que a filhota, entrou para a Faculdade de Coimbra e de repente, não sabemos como a manter lá.
Tudo se há-de remediar... penso eu, venha é trabalho! :))
Um beijo enorme e continue a transmitir esse calor, a quem mais preisa.
Obrigada e um abraço do tamanho do mundo. :)
Ana Paula,
ResponderEliminarNunca pensei que no Sec. XXI ainda vissemos cenas destas numa Europa dita DESENVOLVIDA é dramático como a vida humana consegue avançar e não ter um pouco de solidariedade para com estas pessoas que apenas precisavam de um pouco do nosso tempo...
Carlos Henriques
Cara Ana,
ResponderEliminarEste post é realmente importante.. A realidade já não se traduz apenas em parâmetros de recursos económicos, carência material ou social... «daí a distribuição de géneros "in loco"»... Alguém traduz o sentimento da pessoa que espera até ao final do dia pela destribuição de um copo de leite?! Realmente "(...)a Pobreza é, de facto, em Portugal, a grande prioridade política", mas antes de ser política deveria ser humana. Objectivos do milénio para quando?Abraço.
Cara Ana Paula
ResponderEliminarEstou convencida que não haverá qualquer hipótese de os governos resolverem o problema da pobreza, pelo menos a curto prazo: não estão sensíveis, não conhecem a realidade, têm outras prioridades, e o dinheiro desperdiçado (sabe-se lá como e onde vai parar) é sempre muito, tanto que daria para reduzir substancialmente essa pobreza, envergonhada ou não.
Por isso, por muitas esperanças que se tenha que haja ajudas do estado, se não fosse a solidariedade das pessoas e as instituições e associações de solidariedade, já muitos teriam morrido de fome.
Abraços
Estou de pé junto à janela a fumar um cigarro. São 4.36 da manhã e chove que se farta.
ResponderEliminarAmanhã arrumo o regador. Não me apetece pensar mais nada. Gosto de fumar à noite, de pé junto à janela. Estão uns tipos parados debaixo do arco. Não tem guarda-chuva e parecem desconsolados. Aguardo o efeito do comprimido. Gosto desta espera. O sono vem dos pés e sobe devagar. Começo a ficar dormente. Chove cada vez mais. Acabei de ler o seu post. Não sei o que são senhas de racionamento (quer dizer, saber sei. O correcto será dizer ainda não precisei).
Confesso que não apreciei o comentário sobre o Obama. Amanhã tenho de guardar o regador. Nos tempos que correm (um roubo simpático do título do MVA) não me parece imprescindível estar a falar com santidades. A resposta não vem do além, mas de uma política mais incisiva na afirmação de um estado social, onde por exemplo a saúde possa ser acessível se não a todos pelo menos a mais e isso não cai do céu. O sono chega-me aos braços, está difícil acabar de escrever isto. Sou de esquerda, acredito nos valores da esquerda democrática e sempre me deu vontade de rir ver a esquerda radical defender o Obama.
Bastava ler o programa para ver que Hilary Clinton era mais ousada. Com o resultado das eleições americanas verifiquei que a América tinha ultrapassado alguns preconceitos raciais ao eleger um negro, mesmo que claro. A América ainda não conseguiu foi deixar de ser sexista. E perdeu a oportunidade única de eleger uma mulher competentíssima. Enfim, muito a fazer ainda por nós mulheres, as primeiras vitimas de quase quase tudo. Mais nada a dizer por agora. O sono chegou cá acima. Amanhã não me posso esquecer de guardar o regador. Chove cada vez mais. E há quem durma ao relento sem ter comido. Eu por hora ainda tenho casa. E cigarros e gostei de a ler.Parabéns
Caro Carlos Henriques,
ResponderEliminarObrigado pelas suas palavras! Tem toda a razão! Se podemos falar em desenvolvimento nesta Europa em que habitamos é apenas e só porque temos referenciais de comparação com realidades verdadeiramente absurdas para quem, como nós, pensou que o mundo progrediria sem retrocessos desta ordem... porém, quando pensamos em África, na Índia, na América do Sul, não estamos a encontrar o paradigma certo para equacionarmos as capacidades humanas com a natureza nos dotou e que a cultura nos permitiu... estamos apenas perante o espelho da nossa imperfeição!... por isso, permita-me que reproduza a sua afirmação quando diz refere a falta de solidariedade "(...) para com estas pessoas que apenas precisavam de um pouco do nosso tempo (...)"... no post que agora vou escrever conto um episódio que demonstra bem a lucidez atroz que o mundo nos permite... começarei por referir as suas palavras...
Um abraço amigo,
Ana Paula
Querida Fada do Bosque,
ResponderEliminar... Não desistir - é a palavra de ordem! Temos a força e a coragem, "venha" como diz, "o trabalho" e cá estaremos para enfrentar a crueza dos dias... também eu fico feliz por saber que nascemos no mesmo ano :)
... vamos vivendo um dia de cada vez, querida amiga... é assim que teremos que fazer ensinando as nossas crianças, também elas, a cooperar por força da inteligência e da solidariedade, na resistência interior com que devemos estar preparados para encarar a realidade... queria muito poder ajudar... ficam as palavras e a profunda solidariedade na angústia do momento que saberemos ultrapassar... calma e paciência para gerir o "entretanto" é o que devemos não perder de vista... leia o comentário que deixei a Carlos Henriques e o post que vou agora escrever...
Um abraço amigo e meigo do tamanho do mundo. Beijinho :)
Jeune Dame,
ResponderEliminarTodos mas mesmo todos somos indispensáveis ao alcançar dos objectivos do Milénio... para os concretizar e, mais que isso, para exigir que, no que à organização social e política respeita, sejam cumpridos e materializados. Obrigado por teres vindo até aqui, com o eterno reforço de uma solidariedade vigilante e persistente. Grande abraço :)
Manuela,
ResponderEliminarSão tão verdadeiras as palavras que aqui deixa... Obrigado!... é por isso que quando se contestam as instituições de apoio social fico angustiada... porque, de facto, só quem não conhece a realidade pode pensar que, nos dias que correm, são negligenciáveis ou dispensáveis... seria melhor que existisse emprego, trabalho, disponibilidade para a redistribuição da riqueza, é certo... mas, o mundo é muito mais complexo e quem tem fome, carências ou simplesmente, necessidades é que se constitui, de facto, como urgente! Bem-hajam os que podem ajudar! Felizes dos que conseguem ser ajudados!... a nós, cabe-nos a eterna luta pelos direitos de todos e pelo alargar da rede de competências que, a todos os níveis, é preciso reforçar substancialmente. Não podemos parar de fazer ouvir a nossa voz, porque se não podemos esperar por um Estado melhor... temos que exigir um Estado melhor! ... com os contributos possíveis... porque o meu maior receio é que as próprias instituições de solidariedade social colapsem por falta de meios... enfim... em frente está o futuro e... havemos de lá chegar! Um grande abraço :)
Cara Anónimo ... espero que tenha guardado o regador! ... as flores precisam do seu gesto e o regador ajuda a concretizá-lo! Gostei muito do seu texto... da boa escrita, do desabafo partilhado de uma noite de insónia, do sentir que aqui registou e da reflexão que enunciou... Obrigado!... é gratificante saber que leu e gostou de ler o texto que comentou. Assisti, pela boa descrição que fez da noite sem alento dos que se resguardavam, sob o arco, da chuva intensa, a esse episódio simbólico do que vai pelo que é exactamente o mesmo que habitamos... não há, segundo me é dado perceber, pessoas perfeitas nem políticos... eu, por exemplo, gosto muito que Obama seja o Presidente dos EUA e não apostei nunca na Senhora Clinton (talvez por desconfiar -se me permite a expressão- da influência dos lobbies que não a ouvi criticar de forma clara e que os media noticiaram como tenco com ela alguns entendimentos e do marido que, apesar desta observação, considero ter sido importante na viragem ideológica da governação dos EUA)... contudo, apesar de não poder ser o Presidente que todos desejariamos que fosse, Obama resgata um passado de racismo e os norte-americanos precisavam dessa catarse para se encontrarem com a sua própria História... enfim... dinâmicas a que vamos respondendo no presente da forma que nos é possível... obrigado por ter vindo até aqui! Volte sempre! Um abraço.
ResponderEliminarÉ Ana tem toda a razão!
ResponderEliminarEnquanto Obama representa o País e desmistifica a cor de pele, o que é óptimo, concordo plenamente no que diz quanto à senhora Clinton, que funciona um pouco, como a ex ministra Condoleeza. Vai tratando com os Países que convém aos lobbies e dando apoio a quem não merece. Como exemplo destaco aqui, a 1ª visita que fez logo que foi eleita, a Angola! Não foi tratar da fome nem da pobreza, nem da injustiça e desigualdade. Foi sim visitar o seu grande latifúndio e assegurar-se que o seu cão de fila, José Eduardo dos Santos, está a fazer tudo como os EUA querem. Continuo a dizer que Obama, bem como o seu antecessor Bush, são manietados pelos poderosos lobbies. Nos bastidores, duas mulheres, para tratar do que realmente interessa, (petróleo, dinheiro e armamento)não sendo eu, nem nunca fui sexista.