O país parou, estupefacto, com a declaração do Presidente da República a propósito do caso das chamadas "escutas" que, afinal, seriam vírus, enganos na reprodução textual, desvios informáticos, hackers, firewall, outra coisa qualquer ou absolutamente nada para além de suspeitas infundadas, mal sustentadas e aparentemente resultantes de desconfianças e rumores a que seria suposto ver reagir com distanciamento e sentido de Estado o mais alto orgão de soberania nacional. Influenciando e intervindo no processo eleitoral em curso, ao invés do que tantas vezes afirmara, assistimos ao acentuar do clima de tensão e acusações lançado durante a fase final da campanha eleitoral para as legislativas e continuamos a assistir aos seus desenvolvimentos, ao longo da campanha eleitoral para as autárquicas. A declaração do Presidente da República foi extemporânea, excessivamente justificativa, confusa e, de facto, inútil... além do mais, tentou culpabilizar os que ninguém reconhece como culpados e desculpabilizar os que, realmente, envolveram a sua Casa Civil na campanha eleitoral. Num momento em que, além da centralidade da discussão sobre o poder local, aguardamos a formação e indigitação de um novo Governo, num contexto que exige tranquilidade, negociação e boa-fé para os relacionamentos interpartidários que reconfiguraram a representatividade partidária parlamentar, esperariamos da instituição de mais alto nível da Nação, uma outra postura... Portugal precisa de uma Presidência da República credível e confiável, nomeadamente agora que as condições de governabilidade exigem discernimento para uma gestão ponderada e facilitadora da estabilidade governativa indispensável ao ultrapassar da crise e à consolidação económico-social.
(Este post pode também ser lido no Público-Eleições 2009)
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