Um comentário feito ao texto anterior dizia, a propósito da pobreza, que a falta de solidariedade que resulta de não dedicarmos um pouco do nosso tempo às pessoas que, indiscutivelmente, dele precisam, denota o escasso desenvolvimento desta Europa em que vivemos... é verdade! Hoje, enquanto descia as escadas do Metro, reparei num homem que caminhava, cambaleante mas sem hesitações, à minha frente... voltei a pensar na pobreza e no rosto dos cidadãos que caminham de olhos baixos, nas ruas da cidade... no final da escadaria vi que foi contra a parede de mármore e sobressaltei-me... ele continuou e eu parei, atónita e assustada... não queria ver!... e quando espreitei, lá estava ele, caído na linha, com as pessoas impávidas a olharem, sem se aproximarem e sem sequer terem o ímpeto de agir... corri escada acima para pedir que parassem o comboio - o homem era demasiado forte para eu ser capaz de o retirar... felizmente, o homem não foi atropelado pelo comboio, tendo sido retirado da linha a tempo, pela circunstância extraordinária de uma conjugação de factores quase simultâneos: dois cidadãos acabaram por o puxar e o chefe de estação, depois de avisado, rápido como o vento, galgou as escadas e avisou, via rádio, o condutor!... fracções de segundo... escassos minutos!... quando o comboio partiu da estação, lá dentro, não se ouvia uma palavra!... Como num filme, a realidade foi mais veloz e feroz do que o tempo de reacção dos espectadores... mas, decompostas "em frames", as imagens deixam muito à reflexão... a pobreza, o desalento, a desesperança, o imobilismo... sim, o conformismo, o egoísmo, a necessidade de assistir a uma desgraça como forma de calar a voz de dentro, a própria... não há culpas... há tristeza!... Nós, seres humanos, somos melhores que isto... e não podemos deixar que o mundo nos estrague o melhor do que somos! Temos todos que reagir... e não desistir! ..."As causas continuam" como diz T.Mike num outro comentário ao texto anterior... ontem, Amália Rodrigues foi homenageada, 10 anos depois da sua morte... hoje, evoco-a aqui porque, se o povo já não lava no rio, carrega porém, ainda, mágoas que todos, Estado e Cidadãos, podemos ajudar a debelar... Com prioridades políticas que valorizem, acima de tudo, as pessoas mas, é bom não esquecer!, com mais, muito mais Cidadania!
quarta-feira, 7 de outubro de 2009
Estórias de um povo... ontem e hoje
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Ana Paula,
ResponderEliminaré quase um "thriller" de um filme de terror.
A sua reflexão tem toda a razão de ser, com a angústia acrescida de ter sido personagem na cena.
Há uns largos anos vi um documentário televisivo sobre a indiferença dos traseuntes nas rua de Nova York face a situações de angústia de outras pessoas. Era tremendamente dilacerante ver a forma de como quem passa se alheia do que a circunda. Claro que bons samaritanos sempre existiram e existirão mas são uma ínfima parte.
Agora a pergunta que tem de ser feita é esta :
Porque se chega a este ponto ?
Que leva o indivíduo a tratar os outros da forma que não desejaria, certamente, que o tratassem a si, numa mesma situação aflitiva.
Tenho ouvido as mais diversas teorias umas de condenação, outras de desculpabilização, outras, claro, de nem sim nem não, mas uma coisa é certa, quem está no meio de toda esta problemática é o Homem e o que lhe fizeram.Mas também urge perguntar se o Homem não foi sempres assim ?
É muito fácil apontar as quebras de moral e éticas por abandono das práticas religiosas.Pessoalmente, das pessoas melhores que conheci no seu relacionamento com os outros eram não crentes em qualquer religião. Daí que, o que penso, é que se deixou , talvez, de acreditar no Homem em si mesmo. Muita gente pratica o bem, não pelo bem em si, mas por medos interiores onde o esquecimento e a indiferença não tomam lugar.
Mas não creia que sou pessimista.
O Homem tem forças insondáveis para se revitalizar e ultrapassar estas questões.
Recordo-me sempre da solidareiedade nos povos destruídos por guerras ou cataclismos.
Já reparou como dão todos as mãos ?
Agora que encanita ver a indiferença com que se olha para o nosso semelhante isso é verdade.
Por isso cada um tem a sua luta. Por isso nos juntamos, porque a luta é a mesma, a falar e a denunciar os excessos de comportamento desta nossa sociedade, ou para ser mais benévolo, de parte desta nossa sociedade.
Mas, também, não somos piores do que foram os que nos antecederam, temos é uma vida diferente com coisas extraordinárias que não sabemos valorizar e aproveitar e coisas horripilantes, que por via de uma informação galopante nos entra pelo olhos dentro a qualquer segundo do dia e que em certas alturas nos fazem descrer.
As saudações de sempre
Eu tenho muita esperança na nossa comunidade (chamo-lhe assim para fugir à designação "sociedade civil" que só entendo por contraposição a "sociedade militar"), porque tenho experiência de voluntariado e vejo como cada um dá o melhor de si, ou na alfabetização dos mais velhos (e como eles ficam felizes e se sentem livres por compreenderem o que lêem e o que escrevem), ou no hospital como sócia da Liga de Amigos e voluntária num dos pisos mais difíceis que é o da cirurgia geral, onde se encontra desde uma simples extracção de vesícula à transplantação de rins e amputações de membros a pessoa diabéticas, situações em que se procura falar de tudo menos da doença para que as pessoas tenham, durante algum tempo, a sensação de estar a ser tratadas como pessoas que têm algo a dizer e a quem prestamos toda a atenção, e não como alguém inútil que só ocupa espaço num hospital. Essa disponibilidade para ouvir encontrei-a em muitas pessoas e, muitas vezes, é apenas disso que algumas pessoas doentes ou solitárias precisam, que as ouçam, que lhes dêem atenção, principalmente nestes dias de correria em que ninguém parece ter tempo sequer para prestar atenção a quem vai ao seu lado.
ResponderEliminarA situação que a Ana Paula descreve magistralmente é prova disso, mas desta vez teve um final feliz, e é isso que importa pelo menos para a pessoa assistida a tempo.
Um abraço.
Que capacidade é esta que tem a nossa espécie de tornar transparente, imaterial e nulo o que não queremos ver. Ignoramos os olhos estiolados do cego no swing da esmola. Atravessamos o espaço dos sem-abrigo cientes de que se trata de uma condição provisória, filosófica ou acidental. Somos incapazes de estender a mão a quem está caído porque terá uma doença contagiosa, estará bêbedo ou drogado ou vai lançar-nos um mau olhado, ou é seguramente estrangeiro, ou... Queremos convencer-nos que dantes não era assim. Claro que havia mecanismos sociais que se perderam, a sopa semanal do pobre, a esmola periódica mas, de resto, esta capacidade Photoshop de tornar transparente a camada mais dura do real, sempre fez parte de nós. Chamamos aos pobres socialmente desfavorecidos porque gostamos de adjectivar a vergonha. Quantos de nós já cheiraram a pobreza ou conviveram com a barraca de telhado de zinco ou tomaram uma refeição parca mergulhando nos olhos famintos dos cães? A pobreza real está escondida como as castas intocáveis que moram longe. Ouvimos falar da pobreza através de declarações ora ofensivas ora compreensivas, através da burocracia legal e temos opiniões também elas fortemente adjectivadas e, muitas vezes, fascizantes. A pobreza é como se fossem os outros, não nós, os outros, aqueles que não conseguiram, os outros portanto, outra espécie de homens que não evoluíram e que temos que ajudar de longe. Nós seres humanos não somos melhores que isto. Somos isto. Claro que somos igualmente capazes de belas e heróicas acções mas estamos longe do básico que tem séculos — Liberdade, Igualdade, Fraternidade.
ResponderEliminarAna Paula... fiquei sem palavras... Salvou a vida de um ser! isso tem que se lhe diga. Vivo na província, recatada e emparedada no meio de 4 muros. Vivi alguns meses em Lisboa e fiquei impressionada com a frieza das pessoas. Voltei logo que pude. Decorridos mais de 20 anos constato que essa indiferença, se alastrou a todo o lado... infelizmente. A desinformação dos média, a falta de Valores, a substituição dos nossos Heróis de carne e osso, pelos ícones, pelo consumismo, dilaceram a sociedade. Embora sendo agnóstica, quer-me parecer que o humano não pensa por si, mas por algo que lhe impingem, seja a religião, seja o consumo e o materialismo, seja por ideais falsos. Como diz T. Mike e com razão e aludindo à bíblia, poucos são os bom samaritanos. Mas acredito que o humano tenha escolhido ser assim, é sempre mais fácil não pensar pela sua cabeça, como Nietzsch nos fez ver. Os poucos que o fazem advogam as leis do "demónio" para a grande maioria e são vistos como seres negativos... provo isso aqui no meu PC!
ResponderEliminarO que é certo, é que todas as civilizações, quando alcançam um desgaste profundo, tendem a engolir-se a si próprias, é o cada um por si, em vez e todos por um. A civilização que vivemos demonstra que se esgotou, como a Roma dos Césares e vai colapsar. Como vemos acha que alguém que esteja bem, vai renunciar ás suas férias nas Bahamas, para ajudar outra família durante meses?! Nunca.
E volto ao que diz o T. Mike e S.S. Dalai Lama, temos um mundo de coisas boas, que não sabemos aproveitar e o altruísmo, o saber pôr-se no lugar do outro, como fez a Ana Paula, é já uma rara qualidade, que por isso se transformou em dom. É o que falta à nossa civilização... foi mitigado pelo consumismo e informação errada ao serviço do vil metal. Faz-me lembrar a passagem da Bíblia, em que Moisés foi à montanha e quando regressou, todos adoravam um bezerro de ouro!
Concordo veementemente com a explanação de ambos, mas à Ana Paula, tenho de reforçar a idéia de que é um Anjo na Terra, com o Dom do Altruísmo. Estou grata ao Universo, por haver seres como a querida Ana Paula. Podiam existir mais... o Mundo seria muito melhor...
Um beijo e um abraço sentido, deste grão de pó, que muito a admira! :)
T.Mike,
ResponderEliminar... foi, de facto, uma espécie de thriller... um terror que não dá tempo de pensar, que provoca a acção, desencadeia a reacção e cujo resultado a dinâmica envolvente determina... passei um mau bocado, se assim posso dizer... não deixava de rever a cena e de reviver os sentimentos que dominaram de forma intensissima aqueles momentos... terrível!... não descansei até ter a certeza que a situação se não repetira numa outra estação qualquer e quando, já tarde, desliguei as notícias,respirei melhor... Concordo com tudo o que diz... tudo!... e não sou capaz de dizer melhor... obrigado pela catarse racional que me ajudou, com as suas palavras, a fazer... Um grande abraço :)
Josefa,
ResponderEliminarObrigado... é tão verdade que a solidariedade existe e que as pessoas sabem e podem fazer mais e melhor... é tão verdade que as pessoas precisam de atenção... é tão verdade que vivemos um mundo onde os medos tolhem o que de melhor guardamos, provocando reacções inesperadas que não desejariam ter de imobilismo ou indiferença... é preciso, como dizia o cantor, alertar toda a gente... o inesperado está aí, a cada passo, para nos surpreender e a melhor forma de lhe responder é estar preparado, não se centrando excessivamente em si próprio e criando margem para ver e ouvir os outros... felizmente, e isso é que importa, como diz a Josefa, a situação em causa acabou bem... quanto ao voluntariado, Bem-Haja pelo seu trabalho! Um abraço :)
Fernando,
ResponderEliminarNada poderei comentar a um texto tão... belo! Obrigado por o escrever aqui! Sinceramente! ... mas, já agora, se puder e quiser, publique ou edite este texto!... num jornal, na rádio, no Ayappa Express... "é preciso avisar toda a gente", lembra-se do poema e da canção?... Obrigado pela sua voz! Um abraço.
Querida Fada do Bosque,
ResponderEliminar... fui eu que fiquei sem palavras... e sei que me desculpará por não escrever mais... quando a verdade fala, a alma cala!... Obrigado por existir, Fada do Bosque! É muito bom saber que está aí e vive e pensa e sente e escreve com a intensidade que transparece no que diz e no que faz! Um grande, grande abraço e um beijinho, com admiração, carinho, amizade... e um sorriso, hoje, um poucochinho entristecido :)
Ana Paula
ResponderEliminarEntristecido? não, esse sorriso alargado se faz favor! então salva uma vida e entristece?!
Foi a descarga, ou catarse... :)
Faça como eu, vá ao "Fio De Prumo" e leia o post, só a mim, vai ver que fica logo com um sorriso de orelha a orelha!
É isso que quero sentir, aqui a tantos km de distância!
Beijinho grande e abraço do tamanho do mundo com muita meiguice. :)
Ana Paula,
ResponderEliminarAs palavras já foram todas ditas. Eu apenas reitero a minha amizade e admiração.
E O MEU ESTAR AQUI,PORQUE A SENSIBILIDADE ME CHAMA.
Um abraço ,neste começar de dia, não sei se de esperança ...
Tina
Obrigado Fada do Bosque!... é, de facto, com um sorriso rasgado que hoje aqui escrevo!... apesar de tudo: da catarse :) e do mundo em que vivemos... Foi uma boa sugestão a de ir ler o post do "Fio de Prumo" :)... um grande, grande beijinho e "Aquele Abraço" caloroso que torna próximas todas as distâncias :)
ResponderEliminarTina,
ResponderEliminarObrigado por ter vindo até aqui... e hoje, 9 de Outubro de 2009, no dia em que Barack Obama foi agraciado Prémio Nobel da Paz, é, de facto, um Dia de Esperança... Yes, We Can, Tina! YEs, We Can!
Um grande beijinho :)