segunda-feira, 7 de março de 2011

Do Papa e da morte de Cristo a Israel e à Palestina

No livro "Jesus de Nazaré" que esta semana chegará ao mercado, o Papa Bento XVI veio retomar, com grande impacto mediático, a declaração de que a Igreja Católica, Apostólica, Romana já não responsabiliza os Judeus pela crucificação e morte de Cristo. Acontece que a declaração já fora feita e publicamente assumida em 1965 num documento emitido pelo próprio Vaticano (ler aqui, aqui, aqui e aqui). Contudo, católicos e judeus estão hoje a reagir como se de uma novidade se tratasse. Porquê? - é a pergunta que se nos coloca. De facto, num tempo em que o mundo árabe assume um protagonismo internacional de primeira linha, o marketing de que tem sido revestida esta declaração papal não transmite ao mundo o halo de inocência ou genuinidade de transmissão do conhecimento -como, aliás, quase sempre acontece nas declarações desta antiga instituição político-religiosa que, ao longo de mais de 2.000 anos, aprendeu a arte da diplomacia subreptícia, para o melhor mas, infelizmente e demasiadas vezes, para o pior.A verdade é que os territórios em que Jesus de Nazaré viveu, eram povoados por diferentes etnias e clãs, de cuja correlação de forças na diversidade se retirava - como ainda hoje acontece! - a autoridade para o exercício do poder que, à época, era, obviamente!, a que mais próxima se encontrava da defesa dos interesses do Império Romano - para quem a agitação social provocada pelo pensamento revolucionário de então, surgia como séria ameaça, dado o prestígio e a popularidade alcançados pelas intervenções de Jesus de Nazaré e dos seus discípulos. Por isso, em nome da verdade histórica, a leitura linear dos factos que hoje, uma vez mais, o Vaticano e os interesses de Israel (dissimulados numa aparente boa-fé configurada em moldes susceptíveis de manipular os traumas da comunidade judaica) concorrem para publicitar, denota um outro significado que, segundo nos aconselha o bom-senso e a razoabilidade ética e científica, é bom ter em consideração: estaremos ou não perante mais um passo dessa terrível convergência de interesses que recorre à religião como arma capaz de fomentar o desentendimento entre os povos e de acicatar ódios latentes em estratégias doentias e contagiosas que reabrem feridas nos colectivos em que a pobreza e a descrença encontram condições para germinar e crescer? Num tempo em que os povos árabes se esforçam por derrubar, nas ruas, as ditaduras, é, no mínimo, sinal de uma imprudente desinteligência, trazer para a opinião pública este tipo de declarações "envenenadas", sob a chancela de instituições tão poderosas como são o Vaticano e, ainda que subtilmente, Israel.

14 comentários:

  1. Um post para refletir. Efetivamente os
    palestinianos têm estado sempre em perca...
    Não vejo fim à vista para ester martirizado
    povo ter paz e qualidade de vida.
    Um prazer estar aqui.
    Irene

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  2. Cara Irene,
    OBrigado pelas suas atentas palavras e o discernimento aberto que aqui partilha.
    É com muito gosto que registo a sua presença.
    Volte sempre!
    Um abraço.

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  3. Querida Ana Paula
    Bom dia!
    Me desculpe por sair do âmbito acadêmico, político e sociológico dessa reflexão...
    É incrível como você escreve de modo a nos ENVOLVER!
    Você é uma escritora de mão cheia, Ana Paula!!!
    Quem me dera ter esse centramento para expressar em palavras tão claramente os mecanismos da História!!
    A Igreja Católica Apostólica Romana como quase sempre está "sem pé na realidade" (sobre o livro).
    Comenta-se (mas nada científico) que o Holocausto teria sido um "karma" coletivo que pagaram os judeus que se envolveram no assassinato de Jesus Cristo,como você deve saber o Brasil é um país de muitas religiões e todas convivem numa boa. Isso prega o espiritismo e a Eubiose (Teosofia). Só que nós vivemos numa "kaliyuga" final da era de ferro segundo os indianos,uma era de degeneração, e segundo o Dalai Lama, todas essas minorias (armênios, palestinos, tibetanos, etc) inclusive de culturas milenares (veja a primeira igreja foi a ortodoxa armênia!antes mesmo da católica) estão sendo cada vez mais combatidas _ em entrevista na revista 'Caros Amigos'do Brasil há uns anos.
    Um horror e uma grande ousadia contra a democracia, concordo com você "eles" usam as religiões para suscitar o ódio entre os povos! Mas a Nova Era está chegando, o Dalai Lama falou que podia ter sido muito pior.
    Procure por 'Caetano Veloso' no youtube, "oração ao tempo", "lua de são jorge" ele é um grande compositor conhecido aqui, baiano de Salvador irmão de Maria Bethânia.
    Beijo grande, Dani

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  4. Tem que escrever aqui no seu espaço sobre a revolução que está a acontecer nos EUA... em Wisconsin...

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  5. Querida Dani,
    ... fico sem palavras perante o que escreveu mas, acima de tudo, fico feliz por sentir tanta proximidade... precisamos urgentemente de estimular a sensibilidade, a inteligência e as formas de conhecimento e por isso, agradeço muito este vivo contributo que nos trazem as suas palavras, capazes de contribuir para nos renovar e reforçar a esperança...
    ... e sim, minha amiga, vou procurar Caetano para partilhar o sentido do pensar e do sentir :)
    Beijo grande

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  6. Caro Voz a 0 DB,
    ... já tinha saudades :))
    ... mas, estou um bocadinho desactualizada porque não estou a identificar a revolução que aqui refere... quer dar-me mais uma pista para eu pesquisar?
    Obrigado.
    Abraço.

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  7. É normal... isto não está a passar nos "Mass Media" ("Manada Media" para mim!) pois não é do interesse do capital/poder que Revoluções idênticas aconteçam...
    Veja este vídeo e depois tem que pesquisar na NET pois as fontes "oficiais" estão caladas e sem tinta...

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  8. Obrigado, boa VOZ :))
    ... vou ver...
    Abraço.

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  9. Caríssima amiga Ana Paula Fitas,

    Concordo inteiramente que os Palestinianos são a parte mais fraca como se vê no mapa que nos apresenta e, por isso, subscrevo a necessidade de se adoptarem políticas que favoreçam este povo que viu o seu território usurpado pelas forças das Autoridades Israelitas.

    Começo por fazer uma declaração de interesses: sou um "Eco-Socialista Cristão", tal como já o sustentei no meu blogue. Não creio que a motivação para esta posição de aproximação a Israel seja política, embora como a Ana nos diz com muita pertinência possa haver, eventualmente, alguma motivação subconsciente do autor pontifício para lidar com o trauma alemão. No entanto, parece-me que a linha de pensamento que subjaz a esta posição é o diálogo ecuménico inter-religioso como tem sido defendido pelo Dr. Mário Soares e pelo Cardeal-Patriarca D. José Policarpo, porque esta constitui uma estratégia favorável à paz.

    Concordo, no entanto, com a Ana quando afirma que o "timinig" é pouco oportuno, dada a conjuntura libertadora das nações árabes dos jugos autoritários, nessa tomada de posição do Papa Bento XVI.

    Em suma, na linha de André Frossard direi que se pode olhar para o Cristianismo com os olhos da fé ou com os olhos da crítica histórica. Não obstante, a minha formação histórica leio este acontecimento à luz das minhas convicções.

    Saudações cordiais e fraternas deste seu amigo, Nuno Sotto Mayor Ferrão
    www.cronicasdoprofessorferrao.blogs.sapo.pt

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  10. Carissimo amigo Nuno Sotto Mayor Ferrão,
    É com muita alegria e consideração que aqui partilho o seu comentário. De facto, como o meu amigo bem diz, o diálogo ecuménico inter-religioso continua a ser uma prioridade cívica, ética e política e é exactamente por isso que deverá ser abordado, sempre!, com a maior equidade.
    Bem-haja!
    Com as minhas melhores saudações fraternas e solidárias.

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  11. Ana Paula na Igreja Ortodoxa, eles tem como vc deve saber, um outro papa!!! Isso não vai muito para a mídia, mas é uma instituição seríssima, posso garantir.
    Beijo, Dani

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  12. Dani,
    Obrigado por tudo o que partilha :)
    Bem-haja pela honestidade e frontalidade com que o que diz e, por favor!, esteja à vontade para escrever o que lhe ocorrer, da forma que lhe apetecer :)
    Quanto aos modos de tratamento, não se preocupe porque a espontaneidade e a delicadeza "de alma" - se assim se pode dizer!- são perceptíveis e jamais mal-interpretadas.
    Beijo

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  13. Se me permite, deixo a seguinte observação:

    A Igreja Católica é sempre especialmente castigada por uma certa Esquerda, que mantém, por regra, um silêncio cúmplice ou pelo menos espantosamente desatento aos incomparavelmente muito maiores defeitos, faltas e mesmo malevolências e atrocidades cometidas pelo Islão contra os Cristãos que vivem nos territórios em que aquele é dominante.

    Sem falar na submissão da Mulher, que, sob o Islão, assume contornos civilizacionais absurdos, retrógrados a qualquer ideia de dignidade, igualmente sem comparação com a situação da Mulher vivida no seio das sociedades de matriz cultural judaico-cristã.

    Mas esta realidade é continuamente ignorada ou desculpada pelos mesmos que nada perdoam à Igreja Católica ou aos seus dirigentes.

    Também aqui cumpre acabar com o critério dos «dois pesos e duas medidas» ou as restantes críticas perderão significado, credibilidade e, por fim, eficácia, ainda quando sejam justas.

    No mais, geralmente concordante.

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  14. Caro António Viriato,
    Obrigado pelo seu contributo... é por tudo isso que, tal como escrevi em resposta ao amigo Nuno Sotto Mayor Ferrão, o diálogo ecuménico inter-religioso é fundamental... porque todos têm que assumir uma cidadania com direitos e igualdade de oportunidades sem discriminações em função do sexo, da etnia, da religião, da orientação sexual, da idade ou da deficiência e outras tantas!... e essa é uma conquista progressiva que não podemos arriscar perder! Quanto aos dois critérios e duas medidas, meu amigo, lamento se e quando assim é mas, de facto não é o caso e aí estão publicados neste blogue vários post's que o demonstram!
    Bem-haja e volte sempre!

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