sábado, 26 de março de 2011

A Europa - entre a crise financeira e a revolução social


Para os que pensam que os protestos de rua se dirigem, como era tradicional há 20 ou 30 anos atrás, apenas aos executivos governamentais em exercício e como lição maior a ser tomada, prioritariamente, em linha de conta por toda a democracia representativa, já não é apenas o fenómeno revolucionário da coragem dos países magrebinos e árebes que sairam à rua ou sequer as grandiosas manifestações da Geração à Rasca, que deven ser tema conjuntural e efémero de conversa... o que é hoje, de facto!, o grande desafio político da democracia europeia, são todas essas manifestações a que, hoje mesmo, em Londres, se associaram 400.000 pessoas (ler aqui, aqui e aqui), para manifestar a sua absoluta oposição a medidas que combatem a segurança, a qualidade de vida, o emprego e a estabilidade social mínima... a Europa, ou seja, a cidadania europeia que é afinal o seu grande legitimador, está, consensualmente, na rua... e nenhum Governo ou Directório o pode ignorar ou adiar o seu confronto com a alteração da qualidade das políticas pelas quais a modernidade nos impõe a opção... A Economia contra a Política, não é um objectivo societário mas, um mero instrumento financeiro... e os Mercados Financeiros contra a Política, a Economia e as Sociedades não são um instrumento de gestão organizacional humano mas, um puro mecanismo de rentabilizar dinheiro e lucros de bolsas multinacionais anónimas... Por isso, quando não percebem que a insistência na recusa da ajuda externa por parte do ainda Primeiro-Ministro José Sócrates é, além de um esforço desmedido de não agravar a precária e dificilima situação económica portuguesa, um contributo solidário para a preservação da reserva do Fundo de Resgate Europeu de que a própria Espanha se tenta defender (veja-se a intervenção de hoje de José Luís Zapatero com o propósito de evitar a dramática mas, eufemisticamente, chamada "turbulência dos mercados"), enquanto, por outro lado e ao mesmo tempo, o principal líder da oposição portuguesa "atira para o ar" medidas avulsas que fazem sorrir esses mesmos mercados e têm efeitos devastadores no eleitorado português (é o caso da referência e do seu pseudo-desmentido sobre o aumento do IVA ou a privatização quer da RTP, quer de parte da Caixa Geral de Depósitos), a política deveria, antes de mais, dar atenção aos graves sinais que os povos exigem, descendo sem medo, à rua... A União Europeia ou decide optar por novas regras de gestão ou não resistirá aos movimentos sociais cujo desfecho pode significar duas coisas: o reforço da democracia participativa e/ou a criação de condições para a emergência das ditaduras neoliberais... Olhos bem abertos e sentido alerta, eis o conselho dos que conhecem a luta... e dos que, afinal!, têm real consciência da crise económico-financeira e socio-política em cujo âmago nos encontramos.

15 comentários:

  1. Às vezes parece que vivo num País de Cegos, Surdos e Mudos... Mas que paranóia é esta agora com a "Ajuda"? Sinceramente não entendo! Acabamos o ano de 2010 com uma ajuda acumulada de 151.775.000.000,00€, qual é o problema de continuarmos com o esquema? Já há muito que não sabemos o que é viver num País sem défice orçamental <=> "pedir ajuda"! Já andamos nisto desde 1836, mínimo, e pelos vistos gostamos de viver assim... não entendo qual o grande problema de continuarmos a pedir a tal ajuda... Enquanto continuarmos a pensar que é com o PS/PSD/CDS, refiro estes pois foram eles que operaram as gruas que escavaram o buraco, que as gruas vão começar a tapar o buraco, estamos armados em "Cegos, Surdos e Mudos", que resumo numa só palavra "Parvos".

    Mas como o Povo deste pedaço de terra é "Parvo" já se está a ver a próxima burrada!

    Se os "Parvos" têm de se queixar de algo é de eles próprios...

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  2. Parece-me que uma boa parte da sociedade já percebeu este dilema.
    Os nossos políticos é que continuam a oferecer-nos uns chás quentinhos para acalmar, mas acredito que brevemente estaremos numa nova sociedade e que esses que criaram o dinheiro serão arrasados.

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  3. Para essa revolução estou pronto para vir para a rua. Para a que não estou pronto é quando ela se faz em termos domésticos com jogos parlamentares de carácter eleiçoeiro à Esquerda ou à Direita. Apesar da deriva que Sócrates instalou no PS na qual não me revejo, será sempre um mal menor se o compararmos com a frieza social que nos podem trazer os homens do Compromisso Portugal. Há quem não entenda isto quando cheira a votos e cada vez mais esses comportamentos me parecem ver nesses votos uma garantia financeira de subsistência.

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  4. Esqueci-me de recomendar se não deu por isso: com Expresso desta semana pode adquirir o Inside Jobs, que recomendo.

    Mas podia também guardar por aí estes links, para ver quando tiver tempo, é provável que já os conheça, mas aqui ficam:

    http://www.youtube.com/watch?v=QiY8QB1fNAY

    http://www.zeitgeistmovie.com/

    http://video.google.pt/videoplay?docid=-1459932578939373300&hl=pt-PT&emb=1#

    Abraço.

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  5. Compreende-se que as populações se revoltem
    perante a incompetência dos governos
    em criarem empregos necessários
    para uma vida com sentido.

    É certo, pode argumentar-se
    que cada um tem de cuidar de si,
    empregar-se no trabalho
    que haja a fazer.

    No entanto, governar
    é influenciar rumos de acção social
    que permitam o maior desenvolvimento
    de todos; no entanto, há vários países,
    isto é, populações territorializadas
    sob governos próprios; ora, mesmo
    no caso de uniões económicas e
    federações políticas,
    ainda há...

    o "resto do mundo"!


    E cada vez é mais impossível,
    uns países explorarem outros...
    (pretensamente exploráveis!)

    De modo que,
    ou se inventam novos
    equilíbrios de coexistência pacífica,
    ou a competição e as guerras comerciais
    evoluirão perigosamente para conflitos nucleares

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  6. Ana Paula oi como vai? Olha que eu fico sabendo do mundo pelo seu blog (rs). Que linda essa passeata, protesto em Londres, não?
    Coisa muito legal. Os ingleses são tão CHICS, não?
    Eu sou italiana também (além de brasileira), tenho a dupla cidadania, mas nunca fui para a Europa infelizmente! Um desejo que pretendo alcançar um dia.
    Fico feliz por perceber que as pessoas tiraram o bumbum de suas cadeiras e foram às ruas.
    Aqui no Brasil isso é muito difícil pois o país é feito de uma grande misigenação de raças, tem muita gente de rabo preso com os governos, houve ditadura e ainda há muita corrupção. Não tenho esperanças, com a globalização aumentou a desmobilização de toda a população, e houve um empobrecimento da classe média, e a subida da classe baixa para a média, uma inversão...foi o que houve. Lógico que eu voto no PT, sempre votei no Lula, Dilma, mas confesso...a corrupção é uma doença instalada há muitos anos aqui.
    Sobre Portugal não me sinto pronta a opinar, porque qualquer coisa que eu falasse seria sem o conhecimento básico, mínimo, tudo o que eu soube foi que estavam (o governo) na iminência ou pensando em sair da Comunidade Européia, ou sendo forçados à isso qualquer coisa assim, perdoe a minha ignorância não é por falta de interesse, mas por falta de tempo, televisão, joranl,e outras coisas.
    Penso que é um direito adquirido e nisso não se mexe, é da Comunidade Européia!
    Agora se é interessante continuar ou não o povo português é quem tem que escolher!
    Eu desejo sorte.
    No mais, eu gostei de uma das fotos que eu ví num dos seus links sobre a Inglaterra, era uma foto da passeata, alguma coisa vai mudar eu gostei estava escrito algo como "o capitalismo não funciona", sinto que rumamos para uma outra via, que bom, não é? Bj, Dani

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  7. a foto do seu blog "o capitalismo não está funcionando"

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  8. Ana Paula aqui em (ainda, porque irei mudar de Estado no mês que vem) São Paulo, há um astrólogo maravilhoso e reconhecido chamado Quiroga (http://www.astrologiareal.com.br).
    O Quiroga tem um programa na rádio e lá toda a semana ele fala numa divisão no Brasil: a tribo dos pagadores de impostos e os cobradores de impostos...Eu gosto dessa divisão como ele coloca, é bem resumida. (rs)

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  9. Olá VOZ :)
    A "ajuda" é um belo eufemismo para continuar a alimentar o parasitismo financeiro de um sistema que se alimenta da pretensa competetividade entre níveis de consumo interessantes apenas para sociedades de abundância e desperdício... não é caso! Parvos?... parvos é pouco! :)) bjs

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  10. Luís Coelho,
    ... obrigado... subscreco, sem reservas, todas as suas palavras, concisas e precisas como o requer a lucidez realista e desapaixonada destes tempos que persistem em se agarrar, como lapas, a um passado que se pode -nem deve!-ressuscitar.
    Abraço.

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  11. Graza,
    ... essa é a revolução que hoje faz sentido... tudo o resto são fantasmas ressucitados mas sem vida... a revolução de hoje precisa de nós, todos, vivos, cientes, responsáveis e lúcidos!
    ... quanto à sugestão, muito, muito obrigado... já tratei de adquirir o inestimável "Inside Jobs".
    Abraço :)

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  12. VBM,
    Subscrevo o Manifesto!... que tenho a honra de aqui ver publicar e poder partilhar... está tudo dito no que escreve... o resto seriam notas de rodapé e esquemas explicativos que, se necessário, nos daremos ao trabalho de pedagogicamente produzir se as condições o justificarem ou justificassem... :)))
    Obrigado!
    Grande abraço.

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  13. Querida Dani,
    Não sei o que se passa com a fotografia... por aqui esá perfeitamente nítida e perceptível!... coisas da tecnologia?!... obrigado pelas boas contribuições, pelas boas palavras e por essa referência sintética mas elucidativa dessas duas tribos dos "cobradores e dos pagadores de impostos" :))
    Beijos

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  14. Ana Paula!
    Eu é que errei a foto é a que está no artigo do seu blog, eu ví várias pois entrei nos links.
    Só queria dizer uma coisa: não está longe o dia em que vários e muitos países UNIDOS farão uma passeata, um grande protesto, isso está sendo "chamado" está no coração e nas mentes das pessoas um pedido único por MUDANÇA EFETIVA e não discurssiva.
    As centrais sindicais por mais que estejam em baixa, como se diz por aí, continuam a mobilizar as pessoas, sim! Vide esse protesto na Inglaterra.
    Eu penso num dia único, seria algo ainda nesse ano, não sei, estamos na Primavera...poderia ser em MAIO, rsrs, para até homenagear maio de 1968, poderia ser em MAIO UM GRANDE DIA DO PROTESTO MUNDIAL, primeiro de maio? não sei...quem sabe. Bj Dani (boa semana)

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  15. Dani,
    Que bela ideia a de um PRIMEIRO DE MAIO DE PROTESTO MUNDIAL... obrigado por partilhar a ideia ... amanhã no Leituras Cruzada farei referência à ideia ao fazer link para o seu post :))
    Beijos

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