Hoje, na TVI, a Reportagem que acompanha a edição do noticiário das 20h, tinha como tema o Analfabetismo. Entrevistados, jovens e adultos, residentes em Reguengos de Monsaraz, Óbidos e mais a norte, deram testemunho inequívoco do drama de não saber ler e escrever em pleno século XXI... uns, com menos de 50 anos de idade, voltaram à escola, cientes da marginalização a que ficam expostos pelas condicionantes da vida, determinados a aproveitar a oportunidade que a falta de trabalho lhes proporciona... alguns, lutando por sonhos e persistindo numa escolaridade até há pouco improvável (como alguns dos jovens e das jovens de etnia cigana que aqui deixaram testemunho) e outros, com 15 anos, sem saberem reconhecer uma letra, completamente destituídos de competências cívicas consideradas mínimas nos tempos que correm, assumindo já não acreditar em sonhos ou no futuro... concentrando-nos nos testemunhos dos mais jovens, a reportagem deu-nos a conhecer os pais de alguns destes jovens, uns, perplexos mas intimamente orgulhosos dos esforços dos filhos e outros, profundamente tristes, porque a vida lhes não permitiu ajudar os filhos a ter sucesso na escola... E se é verdade que 1 em cada 100 cidadãos portugueses não sabe ler nem escrever, efectivamente assustador é o facto de termos assistido ao testemunho de uma professora que defende um sistema educativo que permitiu a uma criança de 15 anos que não reconhece uma única letra e assume não saber ler nem escrever (a não ser copiar o seu próprio nome) estar oficialmente inscrito no 8º ano de escolaridade... dizia a dita "professora" que o miúdo falta menos às aulas do que no passado e que a sua integração no 8º ano se deve ao factor de "integração social" a que a escola deve atender!!!... entretanto, o jovem de 15 anos que não sabe ler nem escrever, afirma faltar 5 ou 6 vezes por semana à escola por a considerar inútil e dela não gostar... e o Marco, na sua honestidade, disse mais... disse, por exemplo, desconhecer a razão pela qual se encontra no 8º ano: "não sei... passaram-me!"... O total desrespeito pelas competências humanas e pelas pessoas ficou assim institucionalizado em nome... da ignorância e das estatísticas!? Quanto à reportagem, excelente!, é de autoria de Ana Leal, com imagem de Gonçalo Prego, montagem de João Pedro Ferreira e grafismo de R. Rodrigues. Não os conheço... mas, agradeço... pelo revelar da verdade do país que, de facto!, ainda somos!... um país que continua à espera de atenção, competência e... carinho! Porque só quando se ama um país se pode agir com seriedade e não permitir que existam crianças de 15 anos sem saber ler nem escrever... na Europa... em pleno século XXI.
Obrigado Cara Ana Paula Fitas, pela divulgação...
ResponderEliminarVale a pena ver, Rogério...
ResponderEliminarAbraço.
Cara Ana Paula Fitas
ResponderEliminarNão vi a Reportagem, mas o que refere é, infelizmente, verdadeiro. A história do ensino de uma nação é um capítulo da sua história política e se é verdade que a política de ensino da ditadura nacional é responsável pelos casos que refere, também é verdade que ainda existe uma indefinição com implicações de ordem pedagógica, social e política que tornam embaraçoso aquele que devia ser o caminho da actividade pedagógica portuguesa no decurso do tempo mais recente e nas suas coordenadas mais representativas.
Relembro o diagnóstico da nação elaborado pela Geração de 70 e, também, Rómulo de Carvalho nas suas asserções sobre a História do Ensino em Portugal - desde a fundação da nacionalidade até o fim do regime de Salazar/Caetano, assim como Filipe Rocha, que historiaram a educação em Portugal (sem esquecer autores mais recentes...) e que já denunciaram estas situações...sendo que é grave ainda continuar a ser uma realidade no séc. XXI.
Concordo plenamente com a falta de "atenção, competência e carinho" e considero que um país só pode ser desenvolvido economicamente se também for desenvolvido culturalmente.
A Reportagem deve ter sido muito interessante e obrigada por a ter divulgado.
Um abraço amigo e solidário :)
Ana Brito
Cara Ana Brito,
ResponderEliminarSei que gostaria de ter visto e espero que tenha a oportunidade de ver, um dia, esta reportagem... e muito agradeço o comentário que aqui partilha! Para além de tudo o que aqui refere e que, naturalmente, subscrevo, o mais grave foi assistir à defesa desta inconsistência cívico-pedagógica com a alegação de uma pseudo-integração social, por parte de uma professora do agrupamento de escolas local que, ciente de defendeu a situação de uma forma que também vale a pena ser vista, dada a firmeza e a total vacuidade dos seus argumentos! Uma vergonha para todos nós!... e professores assim não merecem o título ou o desempenho porque são, realmente!, "deseducadores" indesejados numa sociedade minimamente capaz de preparar pessoas para o exercício da cidadania.
Foi, minha cara amiga, um testemunho grave de uma espécie de disfuncionalidade educativa que, sinceramente, não esperava e até desconhecia existir com esta pujança (no sentido de se afirmar sem reservas)...
Um abraço amigo e solidário.
“Como professora e mãe de uma filha deficiente motora profunda (tetraparésia) de 34 anos de idade, com um diploma do 9.º ano tirado à custa do seu e meu esforço exaustivos e sofridos, diploma esse que eu sei (e já na altura sabia) que seria só para guardar, é para mim mais constrangedor e quase abominável ouvir a entrevista da sapientíssima jornalista do que as respostas do jovem e da professora. Jovens como este (abusivamente apelidado de “pobre diabo”) e outros semelhantes não vão “roubar” lugares a ninguém, muito menos resultarão em Ministros da Educação (não tenham medo)! Mas a Escola (com a sua função educativa e formadora muito mais abrangente do que apenas ensinar a ler e escrever!), a Escola poderá e deverá dar uma “migalha” de felicidade a jovens nitidamente “limitados”, ajudá-los a fazerem bem o que de melhor sabem fazer e a Escola deve apoiar também os seus pais sofredores. Parabéns aos professores que assumem esta postura! Que a sociedade (e em especial a jornalista da entrevista)“calce os sapatos” durante anos… de famílias com este tipo de problemas, que respeite essas pessoas e depois de muito reflectir… que tenham o bom senso de se calarem! É muito mais simpático e talvez mais sábio!
ResponderEliminarUma simples professora mas acima de tudo MÃE,
Gabriela Matos”