quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Tarrafal... nunca mais!




Faz agora 73 anos que foi inaugurado o Tarrafal, "Campo da Morte" português. A Ilha de Santiago, em Cabo Verde foi o local escolhido pelo Estado Novo para sujeitar os deportados ao conhecido regime de "morte lenta", caracterizado pelo recurso a espancamentos, trabalhos forçados, semanas a fio na "frigideira" (uma espécie de caixa de cimento, exposta permanentemente ao sol, com apenas 2 orifícios para permitir a respiração, internamente dividida em 2 celas com capacidade para 2 a 3 prisioneiros cada mas, onde chegaram a estar 12 homens no exíguo espaço de 9 metros quadrados), à péssima alimentação e à contaminação por doença (designadamente, paludismo) numa das mais inóspitas regiões do arquipélago... Campo de concentração ainda sem a sofisticação das câmaras de gaz celebrizadas pelos nazis, nele morreram 32 dos que aí foram desterrados, entre os quais se contam participantes nas greves de 18 de Janeiro de 1934, participantes na revolta dos marinheiros de 1936, anarquistas, sindicalistas, comunistas e antifascistas que, à chegada ao degredo, ouviam anunciar pela voz do Director do Campo: "Quem vem para o Tarrafal, vem para morrer!" O tempo de prisão dos 340 prisioneiros que passaram pelo Campo somou 2.000 anos, cinco meses e onze dias! O Tarrafal foi extinto em 1954, tendo sido utilizado na década de 60 para os que lutavam e apoiavam os movimentos de libertação dos agora PALOP's! Os corpos dos 32 mortos no Campo da Morte só vieram para Portugal depois do 25 de Abril de 1974!... Para que se não esqueça, A Nossa Candeia associa-se a todos os que trazem à memória o exemplo do que não podemos deixar que volte a acontecer... e ficam as imagens, indesmentíveis, das instalações do campo, do cemitério e da "frigideira"do Tarrafal!

(Este post tem publicação simultânea no A Regra do Jogo)

2 comentários:

  1. Tivemos a mesma motivação.
    Os modos é que foram diferentes.
    Gosto do seu post pelo conteúdo e como sempre pela forma clara de expor.
    Um abraço.

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  2. Há memórias que se não podem negligenciar e, menos ainda, perder - e esta é, talvez, uma lição da História que não deveriamos relativizar... por isso, obrigado, T.Mike, também pela excelente forma de expôr a questão no "Vermelho" por onde, ainda ontem, passei.
    Um abraço.

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