Vivemos um tempo em que os valores da liberdade, da igualdade, da valorização da diversidade e do respeito intercultural integram a configuração da face do que, desde meados do século XX, se institucionalizou na Carta dos Direitos Humanos. A sociedade contemporânea, globalizada, informatizada e dotada de um funcionamento mecânico de ordem tecnológica a que se convencionou chamar "sociedade do conhecimento" apenas e só porque os meios permitem uma vertiginosa circulação e troca de informação e comunicação, acabou por materializar o que, entre outros e só para dar um exemplo, George Orwell, previra na sua obra "1984"... Contudo e apesar da consciência que as chamadas de atenção sobre o problema nos despertaram, caminhamos iludidos, ocupados e distraídos com as complexidades multifacetadas que o sistema económico-financeiro nos disponibiliza, sob as vestes do trabalho ou do lazer, esquecendo ou ignorando a essência do ser humano enquanto coexistimos com o genocídio, a crueldade e a destruição de povos iguais a nós, apenas e só!, porque a sua condição de condenados à exclusão dos processos de adaptação à mudança ou a sua persistência em a ela resistir culturalmente, os destituiu, aos olhos do poder, do direito de integrarem as sociedades actuais de pleno direito, no usufruto do seu próprio património e de condições de vida dignas... o que um dia, por efeito de xenofobias colonialistas foi perspectivado como estranheza, transformou-se em direito à perseguição, à escravização, à exploração e à extinção. Foi assim em muitos pontos do planeta e esse massacre silencioso continua, sob o olhar descuidado do poder e dos cidadãos ocupados na fantasia que a virtualidade ilusória da riqueza construiu... Até que ponto o mundo rural e as suas populações autóctones estão a ser vítimas de um processo semelhante, é a questão que se nos coloca... dos medos e superstições de outrora às mistificações imaginárias de hoje, constatamos a mesma projecção de fantasias que, enquanto duram, permitem ao controle do poder dirigir e determinar o futuro que deveria ser, saudável e equitativamente, de todos... A população índia da América do Sul foi e é vítima desta realidade... como um exemplo?!... Aqui fica, portanto, a homenagem aos Índios Toba da Argentina em 3 momentos que correspondem a cada um dos vídeos seguintes: primeiro, com o enquadramento da população índia, depois, com o testemunho da arte, da palavra, da cultura e do pensamento autóctone numa canção; finalmente, com o testemunho actual do seu genocídio.
1 - Os índios, na voz de Atahualpa Yupanqui:
O tema: "Los Antiguos Dueños de las Flechas", na voz de Mercedes Sosa:
O breve mas elucidativo documentário sobre o drama actual dos Índios Toba - Argentina:
1 - Os índios, na voz de Atahualpa Yupanqui:
O tema: "Los Antiguos Dueños de las Flechas", na voz de Mercedes Sosa:
O breve mas elucidativo documentário sobre o drama actual dos Índios Toba - Argentina:
Cara Ana Paula Fitas
ResponderEliminarPublica excelentes documentos, que muito aprecio.
Há uns anos, segui de perto o trabalho de investigação de Abner Cohen, que considero muito interessante, sobretudo porque ele batalhou na ideia de que a mobilização da solidariedade étnica terá sido circunstancial ou mesmo uma estratégia de actividade/acção colectiva para atingir objectivos específicos do ponto de vista económico e político.
Um abraço
Ana Brito
Cara Ana Brito,
ResponderEliminarObrigado pelas suas palavras e pelo excelente exemplo que refere ao enunciar a tese que sustenta o trabalho de Abner Cohen... de facto, como bem deixa insinuado pelo simples facto de lhe ter ocorrido, começamos, após várias décadas de luta e trabalho na promoção dos Direitos Humanos, a sentir legítimo o juízo sobre a potencial utilização estratégia do que bem designa por "mobilização da solidariedade étnica" - contexto em que, divididos entre a especulação ao nível dos seus fundamentos motivacionais e a constatação do uso manipulatório dos seus resultados, nos resta devolver o sentido original à designação das causas, chamando-as ao serviço dos factos que, em si próprios, as dignificam, sustentanto-lhes a urgência da continuidade...
Um abraço.
Outros genocídios
ResponderEliminarhttp://www.youtube.com/watch?v=bqjcQnFveew
Outros genocídios
ResponderEliminarhttp://www.youtube.com/watch?v=bqjcQnFveew
Obrigado, Fernando... muito obrigado!
ResponderEliminarUm grande abraço.
…e obrigada pelo teu tão, completo texto de homenagem aos índios que têm direitos como nós…sem eles o mundo seria menos belo, colorido e livre… e estou com o Fernando Cardoso e Ana Brito…outros genocídios… outros erros históricos...:(
ResponderEliminarBeijo + abraço
Saravah
Saravah, minha amiga :)
ResponderEliminarSaravah pelos índios que muitas vezes contigo partilhei no inesquecível cinema das tardes de domingo e que, do cinema, conhecias melhor que eu :)
... e de tanto erro e tanto genocídio ficámos mais pobres, pesando sobre nós uma História de irresgatáveis crueldades e irremediáveis ignorâncias... estamos ainda a tempo, pensamos... porém, ainda esta semana li que, por uma questão de posse de terras, morreram 60 índios - segundo uma ONG brasileira... e, na nossa impotência, somos obrigados a coexistir com realidades que repudiamos num tempo em que a circulação do saber nos não permite já dizer que "não sabiamos"... tétrico, não é?
Beijo e abraço, minha amiga. Obrigado.
Minha amiga,
ResponderEliminar… momentos inesquecíveis esses, vividos na nossa Sociedade Artística e Recreativa de Alandroal … casa que me viu nascer e crescer… olha, lembras-te do celebre dia em que entendemos fritar batatas numa pequena frigideira de plástico amarela, que por sinal era tua? resultado, uma bela máscara de índios… será a partir daí que me vem a alcunha de índia? e que muito me envaidece… por isso e muito mais, digo com Saramago «deixa-te levar pela criança que foste» e haverá sempre alguém a «escrever na infinita página»… contra estas e outras atrocidades...que fazem o mundo menos encantado...
O abraço mais grande do mundo
Saravah
Saravah, minha amiga, Saravah!
ResponderEliminar... se me lembro?... lembro-me tantas vezes que já contei essa história imensas vezes ao ponto de, quando a conto, me sentir e ver no teu quintal e do encontro dos nossos olhos de crianças deslumbradas a ver derreter a frigideirinha amarela... e sorrio, deliciada como o faço agora, neste preciso momento em que nos recordo do tamanho das flores :)
... e nem sabes o gozo interior que me deu saber que ganhaste a alcunha de índia :)
... deixaremos, por isso, para sempre, levar-nos pelas crianças que somos, cumprindo a percepção de Saramago e realizando o Ser...
Para ti, vai também daqui, de coração, o abraço mais grande :) do mundo :)