A solução para a crise que tem dominado o presente e que, neste contexto, emerge como capaz de prevenir no futuro eventuais réplicas deste vulcão ora activo, ora adormecido, em que fermenta a lógica de mercado, conduziu à defesa do reforço das competências comunitárias no que à sua dimensão económica respeita... assim, nas recentes Jornadas Parlamentares do PS, José Sócrates veio defender o que designou por "governo económico" para a Europa, esclarecendo que tal postura decorre da convicção (generalizada, pelo menos mediaticamente) no espaço comum europeu, de que a crise se resolve com "mais Europa" a nível económico mas, também, político. Muito bem, dir-se-á à partida... mas, sejamos claros!... o federalismo tem, de facto, a competência da coordenação e articulação da interdependência entre os respectivos Estados federados, função que poderia ajudar de forma significativa ao equilíbrio das contas públicas de cada um e ao desenvolvimento de um apoio mais sustentado para todos relativamente aos choques financeiros resultantes da dinâmica internacional dos mercados. Nesta discussão é, contudo, decisivo não escamotear a realidade: o federalismo não assenta, por ora, por vocação ou tradição, no reforço das capacidades produtivas autonomizadas de cada Estado-membro, reforçando, pelo contrário, a sua planeada interdependência (vejam-se os exemplos dos EUA e da antiga URSS)... salvaguardando (por ser aqui que se pode vislumbrar uma solução alternativa para o problema!) a possibilidade do modelo federal europeu poder vir a mudar os modelos organizacionais a nível económico que têm vindo a ser praticados, a questão do reforço dos aparelhos produtivos nacionais é determinante para países como Portugal, praticamente destituídos de estruturas que, em casos extremos de ruptura financeira dos mercados e consequentemente dos mecanismos centrais federativos, seriam a única possibilidade de deter alguma margem de manobra para evitar a radicalidade de um colapso económico e social... além disso, se a contra-argumentação a este cenário consistir na defesa da urgente necessidade de reforço da dimensão política da Europa, basta pensar em Espanha para nos confrontarmos com outra realidade que a especulação não pode ignorar e menos ainda eliminar: refiro-me, naturalmente!, por um lado, à contestação pública de milhares e milhares de catalães, que vieram para a rua protestar contra os cortes orçamentais inerentes à sua autonomia e contra a declaração do governo central de Espanha de que não são um Estado mas uma região autónoma, por se considerarem uma Nação... e, por outro lado, à tomada de posição da Galiza que, enquanto região autónoma, veio solicitar ao nosso país isenção ou redução no pagamento das SCUT's em Portugal, alegando que os seus custos tendem a enfraquecer o ritmo económico dos investidores entre os dois lados da fronteira!... Como se vê, não há receitas nem soluções simplificadas... por isso, cuidado na forma como avançamos para soluções inovadoras sem equacionarmos os seus impactos e consequências... como dizia o Professor Agostinho da Silva: "para se levar a cabo uma tarefa ousada e louca, é preciso muita mas, mesmo muita prudência"!
Caríssima amiga Ana Paula Fitas,
ResponderEliminarParabéns por mais este excelente "post" de análise da situação económico-financeira! As suas análises trazem-nos sempre perspectivas interessantes e com enriquecedoras informações.
A crise financeira global necessita da intervenção empenhada do G20, pois sem isso a problemática financeira e ecológica da sustentabilidade não se resolve. Mas para já temos de agir, como bem diz, localmente em termos europeus e antes em termos nacionais. Na verdade, o problema do Governo económico da Europa está em substituir a liderança nacionalista da Alemanha e da França por uma liderança alternativa mais colegial e não tão parcial em termos nacionais.
É certo como a Ana nos diz que a capacidade produtiva portuguesa é diminuta, mas o drama resulta não só da falta de desenvolvimento nacional, mas também da lógica perversa dos mercados que se desconectaram da lógica económica das actividades produtivas.
É preciso, por isso, apostar nessas duas dimensões da mudança das estruturas económicas nacionais e globais , de modo a que possam ser reforçadas as respostas à concorrência estrangeira e ao "chico-espertismo" das manigâncias desta economia de casino ( Pedro Sales, do blogue "Arrastão" mostra-nos um "clip" de vídeo excelente que faz o historial desta mega crise do capitalismo actual).
Saudações cordiais, Nuno Sotto Mayor Ferrão
www.cronicasdoprofessorferrao.blogs.sapo.pt
Carissimo amigo Nuno Sotto Mayor Ferrão,
ResponderEliminarAntes de mais, muito obrigado pela generosidade gentil e gratificante das suas palavras. Depois, deixe que destaque três das observações incontornáveis que aqui partilha sobre o problema: uma, refere-se à importância de um sério envolvimento do G20 na problemática da sustentabilidade ecológica e financeira do planeta; outras, que diz respeito ao nacionalismo franco-germânico que, na sequência da divisão do poder na Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA-1951) continua a liderar os destinos de todos; a terceira, referente à metodologia de re-organização da lógica e mecanismos de regulação político-económica no que costumo designar por escala sequencial de prioridades em que se reconhecem dinâmicas próprias a nível global, nacional, regional e local, simultaneamente activas e inter-activas.
Obrigado pelo excelente contributo que enriquece a reflexão premente nos tempos que correm.
Com admiração, receba as minhas melhores saudações saudáveis.
… ora aqui está a análise que gostaria de ter feito sobre o mercado económico Por Terras do Endovélico e que tu minha amiga tão bem reflectes e te/nos interrogas…e pedindo emprestado o pensamento a Agostinho da Silva "para se levar a cabo uma tarefa ousada e louca, é preciso muita mas, mesmo muita prudência"!
ResponderEliminarAbraço
Saravah
Aquele Abraço, minha amiga :)
ResponderEliminar... fico orgulhosa por isso :)
Saravah :)
Cara Ana Paula Fitas
ResponderEliminarTalvez, como afirmou o cineasta russo Andrei Tarkovski, "o destino nos persiga como um demente armado de uma navalha", mas este é um destino inteiramente fabricado pelo homem adentro as convergências e divergências económico-financeiras, nacionais e internacionais. O risco do investimento tornou-se a lógica dominante do ponto de vista económico e social e a nível individual é a incerteza quanto ao futuro que impera.
Nas entrelinhas, o conteúdo do seu belíssimo texto, inteligente, perspicaz e atravessado por cambiantes de extraordinária lucidez e visão presente e futurista, elucida o modo como filosoficamente se devem combater os preconceitos económicos do senso comum: através da razão, de uma razão inquiridora e dubitativa, uma razão que "desmonte" as bases falsas ou erradas em que assentam as opiniões comuns, uma análise incansável, uma passividade impossível, enfim, um texto de excelência pelo qual a felicito.
De facto, não podemos continuar a insistir no vazio como rodas loucas impedidas para uma aceleração que nada travará: "embalando-se" em actividades que sejam de cariz combinatório.
"Senhor, falta cumprir Portugal", mas só poderemos falar da natureza e da grandeza humana - como refere Agostinho da Silva - "depois que façamos com a economia todas as experiências possíveis (...) nenhuma economia satisfatória poderá existir sob o signo do dinheiro, que é sempre sinal de que alguém se forçou ao trabalho e sempre prova de que um homem avaliou outro homem, com duas vezes erro (...)". Convergências e divergências...sejam!
Aquele abraço grato, amigo e que tenha sempre dias felizes e inspirados :)
Ana Brito
Cara Ana Brito :)
ResponderEliminarGrata e quase embaraçada com as suas bonitas e generosas palavras, permita-me delas destacar a acuidade das citações de Tarkovsky, F.Pessoa e do meu amigo Agostinho da Silva (sim, Ana, tive o grato prazer e a honra de com ele privar e fruir da amizade e extraordinárias lucidez e sabedoria),bem como a sua afirmação sobre o significado do risco de investimento e da incerteza como axiomas da lógica dominante, em termos económicos e individuais.
Finalmente mas, de modo algum em último lugar :), agradeço-lhe os votos de dias felizes e inspirados que lhe devolvo em sincera reciprocidade.
Um grande abraço amigo :)
Caríssima amiga Ana Paula Fitas,
ResponderEliminarAgradeço a gentileza das suas palavras lisonjeiras e partilho a sua admiração por Agostinho da Silva que infelizmente não conheci pessoalmente.
Com admiração receba as minhas cordiais saudações,
Nuno Sotto Mayor Ferrão
APF
ResponderEliminarE facto,não se deve passar ao lado de um debate que envolva uma comparação, ainda que abreviada, sobre a questão federelista tomando como comparação a Europa da União Europeia e os EUA.No caso americano, o pensamento federalista nasceu com a vida própria dos founding fathers,enormes,continuados e profundoss pensadores dum projeto politico-económico que era solidário e se mantém solidario entre os cinquenta estados.Uns bastantes mais ricos do que outros,como sabe.
Já no caso europeu, o pensamento ou a pratica federalista, se foi também um processo com os seus datados e poucos pais fundadores,a verdade é que até hoje, não teve seguidores à altura.O resultado entre outros,é a pobreza de vários estados da UE.Assim como é ,na minha opinião, a ausência enorme de solidariedade e de um projecto estratégico...à espera, sabe-se lá, de novos Pensadors europeus com a estaleca de perceberem que a Euroa assim não vai lá,podendo espatifar-se em mais nções do que estados.E em mais nacionaçlismos do que supranacionalidade.
Para não me alongar mais,se a APF não se importa ficaria por aqui porque me parece que a Europa e os seus três ou quatro grande Estados pesam mais do que aquilo que deviam.E porque Europa, é pequena,e porque foi rica.E como tal mantém-se egoista.Maquiavel e Richelieu ainda têm e deixaram muito lastro.E não foi assim há tanto tempo como isso...
Com as mais vivas saudações e os melhores cumprimentos para si,APF.
ANB
APF
ResponderEliminarNesta coisa de concidências muito mas mesmo muito felizes, e porque estou também algo ligado à ASSírio e Alvim do H.M. do Manuel ROSa e muito particularmente ao LUís Guerra (actual Director Comercial)quero dizer-lhe que tive o privilégio de assistir e ouvir conversas, sabe entre quem?...Precisamente entre o Agostinho da ilva e Mário Cesariny.
Bom, aquilo eram converss do outro Mundo...e mais não digo,porque,por exemplo,o M.C não quis ser cremado porque dizia, que nunca se sabe bem o que pode suceder.Mas enretanto, testamntou os direitos de autor,imagine,à CasaPIA.
APF,vê como tudo isto vai,de facto,merecendo ser contado aqui no seu magnifico Blog.
VIVASudações pra si.
ANB