domingo, 25 de julho de 2010

O Passeio de Passos Coelho...


Passos Coelho revelou-se um político imaturo que, na ânsia de consolidação do poder, opta pela falta de escrúpulos... e, nessa exacta medida, necessariamente maquiavélico. Desesperado, Passos Coelho é um líder sem norte que se esgota entre dois extremos: por um lado, a necessidade de compatibilizar a imagem de credibilidade democrática que os iniciais entendimentos com o PS pareciam deixar antever e que o PSD de Manuela Ferreira Leite lesara ao ponto dessa ser agora uma tarefa prioritária; por outro lado, para consolidação de indicadores que viabilizem a convocação de eleições, a necessidade de se apresentar perante o eleitorado de direita como o seu homem de confiança. Resultado: uma proposta de revisão da Constituição da República Portuguesa, ultra-liberal, contrária em tudo aos interesses e necessidades da sociedade portuguesa, reflexo de um deslumbramento obsessivo com uma espécie de El-Dourado em que já ninguém acredita e que nos remete para projectos ideológicos falidos desde os anos 80, que abrem caminho aos valores de uma direita conservadora, alheia à solidariedade, inimiga do Estado Social, indiferente aos dramas humanos individuais e colectivos do desemprego, progressivamente reforçadora de um autoritarismo incompatível com os valores democráticos que se pretendem vigentes no mundo contemporâneo. É tudo. Passos Coelho já nada tem a dizer a Portugal porque os seus preconceitos ideológicos, a sua demogogia e a sua vontade de encontrar receitas de fast food não só não convencem ninguém como afastam cada vez mais diferentes sensibilidades políticas. Pode ser cedo para o vaticínio mas, por ora, a radiografia do "estado da arte" da liderança do PSD denota uma pressa de efeitos potencialmente irreversíveis. Passos Coelho começou por passear na avenida, distraiu-se numa rotunda, avançou em alta velocidade por uma auto-estrada sem portagens e foi parar a um descampado sem saída...

12 comentários:

  1. Cara Ana Paula Fitas
    O seu texto é divinal... e fez-me rir :)
    No homem adulto as atitudes são temperadas pela experiência e pela vontade consciente.
    Este desejo obsessivo e frenético de Passos Coelho revela um estado de euforia crescente que só pode ser seguido de um estado depressivo. É uma tentativa para atingir o inacessível e o seu conteúdo é um sucedâneo de "ilusões" que, claro está, jamais serão obtidas.
    Se Passos Coelho desmaiasse num descampado sem saída...talvez reanimasse com outros "sentidos" e começasse a elaborar uma auto-estima que nunca foi realmente consolidada: ele requer a admiração dos outros, ele pretende alcançar um ideal grandioso de si próprio centrado sobre uma boa parcela de omnipotência - faculdade de poder decidir com soberania em certos assuntos, nomeadamente, na Constituição.
    Oxalá o pensamento crítico continue a evoluir - como bem se enconta patenteado no texto da Ana Paula - e que em nome do bem comum português...Passos Coelho desmaie o mais depresa possível e deixe de fazer emergir conflitos e ambivalências, fraquezas e mesquinhices. Ele é excelente a engordar ideias, porque na sua "magreza descarnada" não há dieta sofisticada que resista.
    Um grande abraço amigo e solidário :)
    Ana Brito

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  2. E vai ver, Ana Paula, que mesmo existindo nessa estrada apenas uma árvore, em tão grande descampado, será nela que irá embater com violência...
    Um abraço.

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  3. Cara Ana Paula
    Como eu gostaria de concordar consigo… O seu texto é de esperança. Esperança de que o Povo lhe perceba a imaturidade e falta de escrúpulos de PPC. Esperança de que perceba que ele já nada tem a dizer a Portugal. Esperança em que lhe identifique os seus preconceitos ideológicos, a sua demagogia e a sua vontade de encontrar receitas de fast food…
    As iniciativas de PPC não convencem ninguém? Afastam cada vez mais diferentes sensibilidades políticas?
    Como eu gostaria de concordar consigo… E sabe porque não tenho essa esperança? Existem razões para tal. De há muito a utopia foi parar à gaveta. Por lá não ficou unicamente um projecto, ficaram também os valores. Surpreende-me que se tenha perspectivado aos jovens que todos poderiam ser doutores e engenheiros, fazendo um único caminho (ensino unificado, fácil e pouco exigente); Surpreende-me que se tenha acabado com quase todo o aparelho produtivo ao mesmo tempo que se colocavam as suas funções como socialmente menores, fazendo um único caminho (a terciarização compulsiva da economia); surpreende-me que a legislação produzida seja permissiva do compadrio e da corrupção, fazendo um único caminho (marginalização do “pacote Cravinho”); surpreende-me a alienação de sectores vitais do estado, fazendo um único caminho (privatizações); surpreende-me…
    Podia continuar enumerando mais alguns dos caminhos percorridos. Descrevi-os numa visão redutora? Talvez, mas são descrições emblemáticas e que a direita agradece. São caminhos onde, para serem percorridos, foram desenvolvidos argumentos que alienaram valores de esquerda e criaram uma cultura alienada, individualista de onde irrompe uma nova ética: “63% dos portugueses são condescendentes com a corrupção desde que dela resultem benefícios pessoais”…
    A estratégia da direita, personalizada agora por PPC, conhece bem isto. As suas propostas são arrojadas mas encontram bom terreno, clima favorável e, sobretudo, oportunidade adequada. Veja: Depois das primeiras reacções, a discussão das propostas ficarão adiadas e meter-se-á a campanha para as presidenciais. Aqui o protagonismo será deixado a Cavaco Silva. Seja qual for o desfecho, quando se regressar ao tema, os portugueses estarão vagamente lembrados de que PPC pôs em causa a constituição e que de facto é necessário mudar qualquer coisa nesse sentido… PPC, definiu uma estratégia labiríntica mas contrariamente a outros, ficou com o esquema nas mãos onde estará registado que todas as saídas vão dar a alterações profundas da constituição. A direita tem esse projecto para vender ao país, 63% é o seu potencial de mercado…
    Fecho este longo comentário com palavras suas, sob a forma de interrogação: Passos Coelho começou por passear na avenida, distraiu-se numa rotunda, avançou em alta velocidade por uma auto-estrada sem portagens e foi parar a um descampado sem saída?
    Nota final: Partilhamos igual admiração por Lula da Silva, não sei se temos igual adesão à sua política económica e ao seu “círculo virtuoso”…

    Abraço Amigo

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  4. Cara Ana Brito :)
    Obrigado!... adorei o seu comentário!... de facto, como tão bem diz, "o bem-comum português" requer distância desta espécie de ambiciosos servos que fazem a clientela e funcionam como "testas de ferro" de um sistema bancário que foi por muito tempo gerido do alto dos gabinetes da alta finança sem que os olhos baixassem ao chão que pisam todos os cidadãos...
    Um grande abraço amigo, solidário e sorridente :)

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  5. Olá T.Mike...
    ... porque será que o li como quem vê o final de um filme? :)
    ... a ficção é, por vezes, o mais fiel retrato da realidade e o caminho que Passos Coelho escolheu não tem retorno...
    Grande abraço.

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  6. … desactualização completa…não sabe P. Coelho que já existe o movimento Slow Food? ...ai…ai Alice no País dos Desencantos…

    Abraço + beijo

    Saravah

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  7. Ana Paula,
    Passos de Coelho é o cabeça de cartaz. Mas no filme participam actores secundários adequados ao enredo e fundamentais à dramaturgia trágica. Penso tratar-se, de facto,de uma tragédia em que o herói Coelho acabará por finar.
    Um actor menos visível é o tenebroso Paulo Teixeira Pinto. Lidera os trabalhos do 'anteprojecto de revisão constitucional'. O guião reflecte o carisma do tétrico autor.
    Se o conhecesse, Tarantino não teria dúvidas em atribuir-lhe o papel de oficial das SS em qualquer fita de 'sacanas com lei...à medida dos poderosos'. Bastava uma fotografia da sinistra figura.
    Esperemos que a gula os destroçe.

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  8. A propósito de Pedro Passos Coelho e o cartoon de Henrique Monteiro com o título "Regras Do Bom Atirador".

    REGRAS DO BOM ATIRADOR

    Uma arma em boa mão
    Para não falhar o disparo...
    Pulso firme na revisão
    Constitucional que preparo!

    Premir lentamente o gatilho
    Com a mira bem afinada...
    Se não acerto é um sarilho,
    A revisão fica adiada!

    Aponto fazendo uma pausa,
    Está preparada a mofatra...
    Atiro sem justa causa,
    Sai-me o tiro pela culatra!!

    POETA

    Beijinhos!!!

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  9. OBS.

    Não me parece que P.P.P. queira vir a ser apenas uma réplica de J.S.com Menos Casos.Assim como me parece avisado não esquecer, o que Mário Soares, vem dizendo sobre este conjunto novo de situações.O "velho" sabe muito e, agora sim,é um político livre.

    O jogo e os cenários politicos a que vamos assistir, vão ser bastante mais exigentes do que até aqui.E, sobretudo, mais imprevisíveis.Diria que todas as situações e ambições politicas, têm um activo e um passivo a que não é possível fugir permanentemente.
    Diria ainda, com algum desconforto, que o PS precisa de um golpe de asa, até porque já iniciou,porventura, o seu bater de asa de borboleta.Assim sendo, existem fenomenos de natureza social em curso com gravidade bastante de que o povo votante já se apercebeu.E um deles,é central,e tem um nome e carga agravada.Chama-se corrupção.
    Claro que a Constituição, em si mesma, não tem nada a ver com estes pesadelos venais do "sistema" mas também é verdade que não existe para ser constantemente manipulada.Vem ao caso,é claro, a recente tentativa de aliança do PS com o CDS...assim como o fiasco das sucessivas Comissões de Inquerito.

    E, se no meio do que acabo de dizer, fui politicamente pouco correcto,direi que continuo pertencendo àquele Alentejo...que é a mais profunda (histórica e humanista) nação de esquerda que em Portugal existe.


    Com as melhores saudações para todos,APF

    ANB

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  10. Partilho em grande parte da opinião do Rogério. Gostava de concordar totalmente consigo, mas temo que se esteja a desvalorizar um líder ardiloso que montou uma estratégia que encerrará Sócrates e o PS num labirinto sem saída.
    PPC é um líder perigoso e desvalorizar as suas propostas creio estar dentro da sua estratégia. É mesmo iso que ele quer
    Beijos

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  11. Caríssima amiga Ana Paula Fitas,

    A liderança de Pedro Passos Coelho pretende passar a imagem de um político pragmático, credível, seguidista da cartilha ultra-liberal como a Ana bem o evidencia.

    Concordo inteiramente que o modelo neoliberal instaurado pela "dama de ferro" e pelo "actor" Ronald Reagan, nos seus países desde os anos 80, foi o arquétipo que hoje está plenamente esgotado pelas suas funestas consequências.

    Contudo, se a caríssima amiga Ana me permite, parece-me que a terceira via do socialismo de A. Giddens implementada por vários Governos "trabalhistas" europeus não tem conseguido travar os dramas do desemprego e do autoritarismo. Aliás, o Dr. Mário Soares tem reflectido sobre os impasses enfrentados pelos Governos socialistas europeus para salvarem o Estado Social no momento em que as novas potências mundiais emergentes se afirmam num quadro de valores, muitas vezes, dissociado dos princípios democráticos e do respeito pelos Direitos Humanos.

    Foi nesta conjuntura sócio-política, que se perceberam, claramente, os vários "cartões amarelos" que o Dr. Mário Soares e o Dr. Manuel Alegre ( por exemplo no caso deste último: no Código do Trabalho ou na questão da guerra aos professores ) passaram a algumas medidas do socialismo democrático português de terceira via.

    Há, aliás, um pequeno grande livro que recolhe a colaboração de vários intelectuais de esquerda de vários países da Europa que reflecte sobre estes impasses das esquerdas Europeias, não obstante seja uma reflexão prévia à crise, conjuntural de 2008-2010, mantem toda a actualidade dado que a problemática é-lhe muito anterior e tem a ver com questões estruturais. O livro é: A nova Primavera do político,(org. de Michel Wieviorka), Lisboa, Editora Paz e Guerra, 2007).

    Saudações cordiais, Nuno Sotto Mayor Ferrão
    www.cronicasdoprofessorferrao.blogs.sapo.pt

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  12. Futurologia em política é, de facto, um exercício equivalente a aposta de lotaria - nos dois sentidos possíveis, perder ou ganhar. Eu, como a Ana Paula Fitas, acredito que PPC possa auto-flagelar-se no combate pela liderança neoliberal do país.
    A ânsia de poder, reflectida em inabilidades, pode trair, efectivamente, os seus intentos. Os portugueses, em particular grossa fatia da classe média, não acolhe com agrado genuflexões de desculpas e a prometida destruição dos sistemas públicos de saúde e de ensino.
    O meu único receio é que o PS, com ou sem Sócrates, seja incapaz de demonstrar aos eleitores, com credibilidade, que desta vez é capaz de ser alternativa séria ao neoliberalismo do PSD. Com efeito, mau grado haja socialistas a rejeitar a crítica, Sócrates teve um desempenho governativo afastado daquilo que é a matriz autêntica do ideário do PS - a revisão das leis laborais, o privatizar a eito empresas estratégicas e a incapacidade de restaurar uma economia desindustrailizada desde Cavaco são alguns exemplos. Já nem falo do ensino e das histórias da PT.
    Neste domínio, sim, residem as minhas dúvidas. E tal incapacidade só favorece o PSD. Por muito correctas que sejam as teorias de alguns sectores intelectuais socialistas, a acção literária em colunas de jornais não é só por si condição eficaz para disputar o poder com sucesso. São necessárias políticas autênticas de justiça social no terreno, para que os cidadãos acreditem não se tratar de fogo-fátuo eleitoralista.

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