sábado, 18 de dezembro de 2010

Ciência e Conhecimento, entre a Política e a Generosidade


O Prémio Pessoa 2010 foi atribuído a Maria do Carmo Fonseca, investigadora em Medicina Molecular, a trabalhar o processo de descodificação da informação genética nas células humanas... conhecedora da notícia, a investigadora anunciou a sua decisão em investir o valor total deste Prémio de 60.000 euros na aquisição de um microscópio de alta definição que permite acompanhar, em tempo real, a vida de conjuntos moleculares em cujo decurso se produzem alterações comportamentais que podem explicar ocorrências como o aparecimento de cancro. O Prémio, atribuído pela primeira vez, a título individual, a uma mulher, homenageia, de forma particular, o esforço da persistência no desenvolvimento em Portugal da chamada "investigação básica" e se este texto se justifica só por isso, vale a pena registar o comentário do historiador orientalista José Carlos Calazan, hoje, na rubrica "Revista de Imprensa" do "Jornal das Dez" da SICN, referindo a sua estranheza perante a definição de prioridades representadas, por exemplo, em investimentos centrais direccionados para despesas correntes como são as aquisições de "carros topo de gama", ao invés de se investir em áreas tão meritórias como a dos instrumentos de investigação. O historiador anotava por isso que os 60 mil euros do Prémio Pessoa que deveriam ser um reconhecimento público ao trabalho individual ou da equipa liderada por Maria do Carmo Fonseca, vão ter que ser uma fonte receita para o desenvolvimento do trabalho do Instituto de Medicina Molecular - como se este investimento não devesse ter, ou até já ter tido, uma resposta técnico-política adequada. Falando em "generosidade" na referência que fez à opção de Maria do Carmo Fonseca, José Carlos Calazan, evocou uma outra situação, diferente mas elucidativa para o efeito, que igualmente denota, como, nos tempos que correm e infelizmente para a dinamização social multifactorial, as boas e altruístas decisões decorrem, muitas vezes, da iniciativa desinteressada e individual dos cidadãos, exemplificando o que dissera com a referência ao caso de um homem, agente da polícia, que, ao ver um indivíduo armado para se fazer explodir numa mesquita, se atirou para cima dele, sacrificou a própria vida para evitar a morte de centenas e centenas de pessoas...

2 comentários:

  1. O Progresso Cientifico e o Progresso Moral
    assim desfasados só se alinham por actos de cidadania onde se acusa elevado défice... falta também generosidade... falta quase tudo, né?

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  2. Estimado "Trio" :)
    ... de facto, "falta quase tudo"... e muitos, muitos portugueses assim...
    Abraço.

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