segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

WikiLeaks - A Contra-Informação




A polémica suscitada a propósito do WikiLeaks, traz à ribalta um debate interessante que, ao contrário do que pode parecer e dada a dimensão do inflamado debate que percorre as sociedades contemporâneas, a escrita de diversos visionários e pensadores anunciou, há muito... para além de toda a ficção literária e cinematográfica que explorou o tema da informação e da contra-informação, foi George Orwell quem, de forma mundialmente reconhecida no seu "1984", colocou o problema que a existência real do WikiLeaks tornou incontornável. De facto, não se percebe a surpresa provocada pela divulgação de inéditos adquiridos de forma informática, numa sociedade globalizada que se afirmou pela necessidade e utilidade da partilha da informação e da opinião e que tem vivido sem preocupações "de maior" no que se refere à exigência de segurança de alguns dos conteúdos acessíveis na rede, de modo mais ou menos sofisticado. O problema é, de facto, outro: o que está em causa é o grau de segurança da rede e a respectiva fiabilidade. Para além do facto fundador de, onde quer que esteja um ser humano, ser sempre possível a fuga de informação, a primeira questão que se coloca é a do exponencial aumento do número de possibilidades de ficarem por identificar os autores dessas "fugas"; depois, o problema é o dos critérios éticos na selecção editorial dos materiais a divulgar... Vejamos: por um lado, o eventual anonimato das "fontes" que a rede potencia, mais não é do que a actualização tecnológica do tradicional problema dos "gargantas fundas" que o caso Watergate de Nixon tornou conhecido. Por outro lado, não podemos imaginar que, num mundo diverso como este em que coexistimos, haja unanimidade em termos de critérios editoriais selectivos não só porque estamos perante o problema da diversidade ideológica como também porque, dada a correlação de forças contrárias que, por definição, subjaz à democracia e à gestão política internacional de cada país, manifesta interesses não apenas partilhados mas, antagónicos e até exclusórios. Por isso, se, por um lado, a consolidação e actualização dos códigos deontológicos do trabalho público que significa a circulação da informação podem ser melhorados, o que está em causa é a insuficiência dos sistemas informáticos de informação das instituições! Ora é aqui que reside a essência do problema: diaboliza-se o WikiLeaks para se não assumir que os sistemas informáticos presumivelmente seguros são, afinal, vulneráveis e frágeis (veja-se o que hoje a APF noticiou Aqui)... e é daqui que decorre o grande debate que é preciso fazer para desmistificar o problema e permitir a continuidade democrática: a dinâmica entre informação e contra-informação é uma das estruturas em que assenta o trabalho de construção e manipulação das representações sociais quer das forças em confronto, quer da opinião pública e dela têm resultado sucessos e fracassos de guerras e diplomacias com efeitos políticos, económicos e sociais. Sendo assim o que hoje se pede à racionalidade democrática de instituições e cidadãos é que não utilizem o WikiLeaks para reduzir as potencialidades da circulação informativa e de opinião que a globalização e a rede permitem porque isso seria o maior exemplo do retrocesso democrático no mundo com evidentes reflexos em matérias de importância crucial como é o caso da promoção da defesa e do respeito pelos Direitos Humanos.

6 comentários:

  1. Pena, sincera, tenho que não apareçam mais e mais informações "secretas". Gosto de me RIR... e acho que sítios como o Wikileaks são tão ou mais importantes que sítios de suposta "informação oficial", pois nelas a MENTIRA/OCULTAÇÃO é o prato do dia.
    Nos dia de hoje se quisermos realmente saber algo sobre um qualquer tema, não nos podemos apoiar nos tradicionais meios de comunicação social.
    De resto se continuamos a pensar que Democracia é o actual sistema em que vivemos... então merecemos realmente tudo o que nos tem acontecido.

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  2. Assunto muito importante, este.


    [E não participa no concurso de A Barbearia do Senhor Luís? Não acredito! Olhe que também é coisa seriíssima. :)))]

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  3. Certeiro.
    Vou fazer link lá na minha rua.
    Abraço grande,
    JA

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  4. Caro Voz a 0 DB,
    ... obrigado!...
    Abraço :)

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  5. MDSOL,
    Fez-me rir... obrigado por isso :)))
    Beijinho :)

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  6. Caro José Albergaria,
    Já lá fui, ao excelso Mainstreet, agradecer de coração a referência no excelente texto que escreveu.
    Bem-haja, meu amigo.
    Grande abraço.

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