terça-feira, 28 de dezembro de 2010

O Perigoso Jogo Europeu - Demagogia e Combate à Pobreza


Estamos a cumprir os últimos dias de 2010, Ano Europeu de Combate à Pobreza e à Exclusão Social... Ironia? Não! Destino? Não! Paradoxo? Sim! A Comissão Europeia, por Decisão conjunta do Parlamento Europeu e do Conselho (ler Aqui), instruiu todos os Estados-membros no sentido de promoverem iniciativas de luta contra a pobreza e a exclusão social - iniciativas, diga-se em abono da verdade!, que se pretendiam eficazes e que se não esgotassem na divulgação necessária à visibilidade e compreensão do fenómeno que o respectivo Manifesto enfatiza, reconheça-se!, em jeito de desresponsabilização "a priori" (ler Aqui). Aparentemente irónica, a realidade económico-social da União Europeia eclodiu na maior crise de que há memória desde a institucionalização deste modelo pró-federal de organização socio-política, a pobreza "disparou" desmedidamente por toda a Europa, manifestando-se de forma inequívoca a partir da perseguição à etnia cigana e, progressiva mas vertiginosamente, a toda a sociedade, ferindo "de morte" a própria classe média que parecia consolidada no espaço europeu enquanto aumentava astronomicamente o número de pessoas pobres, sem-abrigo e em risco grave de empobrecimento súbito (consultem-se aqui os dados do Eurobarómetro sobre a pobreza e a exclusão social). A confiança dos cidadãos e dos consumidores no projecto europeu que se prestigiara e ganhara a adesão da opinião pública dos Estados-membros sob a mensagem da construção de uma Europa Social, foi, por isso, justa e seriamente abalada, devolvendo as populações à descrença política a que tinham sido conduzidas pelas economias nacionais, face à constatação das assimetrias de desenvolvimento de países vizinhos coexistentes no espaço, agora comunitário. O sentimento de fatalidade a que a gestão política vai, repetidamente, conduzindo as sociedades defronta-se actualmente com o evidente "abandonar do barco" das economias alemão, francesa, eslovena e de outras tantas que, por ora, guardam silêncio processual no que à resolução da crise respeita, nomeadamente quando se pensa em economias com dívidas públicas descontroladas do ponto de vista dos mercados... Não é por isso de estranhar e, bem pelo contrário, é de louvar a coragem, a assertividade e a frontalidade de Carvalho da Silva que, hoje mesmo, declarou o Ano Europeu de Combate à Pobreza e à Exclusão Social, um "falhanço total" (ler Aqui). O paradoxo interno da União Europeia está à vista, entre a expressão de projectos de intenção demagógicos e propagandisticos e uma lógica de mercados financeiros a que a Europa política cede, preferindo a falência do seu pretenso modelo de desenvolvimento, à reforma efectiva e eficaz da sua organização económico-financeira. Quem paga os custos deste perigoso jogo? Os cidadãos, claro!... e, provavelmente, num futuro não muito longínquo, a qualidade de uma democracia que já exibe, sem pudor, a desregulação e a exclusão social como frutos do seu exercício.

4 comentários:

  1. Quem diria, heim!!!! Combate à pobreza!!!!! Prvavelmente sou eu que vivo noutro planeta.

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  2. Ana Paula,
    Não é o projecto de União que está errado. O que está errado são as pessoas que lá foram colocadas para dirigir os destinos da Europa e que de estadistas só têm a alcunha.
    E aqui, continuo a bater nesta tecla, os povos da Europa só têm de se queixar de si próprios.
    É claro que, como sempre, tem toda a razão no que respeita à farsa do discurso dos dirigentes europeus. O que é necessário é dar a volta, não condenar à falência o objectivo, procurar o fim a que nos propuzemos. E se for necessário fazer cair a Comissão, não com manifestaçõezinhas de relevância paroquial e local mas com manifestações de consenso europeu, numa união pública dos povos dos diferentes Estados, capazes de dizer a esse e qualquer outro directório que não é esse o destino.
    Mas será que todos os povos aderem ? Aí está, na incógnita, o grande problema duma Europa sem líderes nem estadistas.
    Um abraço.

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  3. Caro Zéparafuso :))
    ... fez-me rir!... de facto, se não fosse trágico, todo este paradoxo seria hilariante!
    Abraço

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  4. Miguel,
    ... como escrevi há pouco num comentário dirigido ao blogger e amigo Folha Seca , o que se verifica não é a inexistência de competências científicas, técnicas, humanas e políticas para o bom exercício do poder e a gestão, justa e adequada, da "res publica"... do que se trata é da nossa República estar inquinada pela lógica monárquica do clientelismo que conduz ao poder a incompetência e a ignorância pela prevalência dos favores e de uma pretensa lealdade e confiança que mais não é do que um procedimento de garantia para a continuidade do controle político e económico... A mesma lógica, Miguel, se aplica ao funcionamento europeu cujo projecto não está, de facto, errado mas cujos protagonistas o pervertem para defesa de interesses próprios, sem lideranças sérias que contenham este "tráfico de influências" do mercado... enfim, meu amigo... esperemos que 2011 acrescente qualquer coisa de bom e saudável ao nosso mundo e ao nosso país.
    Um grande abraço.

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