Foi hoje notícia o registo de um aumento significativo da procura de emprego nas Forças Armadas... o facto não surpreende. Apesar do drama que, para todos nós, representou a Guerra Colonial, os portugueses continuam a integrar forças internacionais sem nunca se saber, ao certo, se uma paz precária não resulta, subitamente, numa guerra sangrenta... Mas, a crise justifica o esforço -justificou-o sempre!- de se tentar alcançar trabalho em qualquer área ou sector que se não encontre fechado ao recrutamento... e as Forças Armadas têm procura porque dispõem de oferta. O fenómeno, em tempos de valores que apelam à paz, é sintomático e nem sequer é novo. Em 1952, Gilbert Cesbron escreveu Les Saints vont en Enfer de que aqui se pode ler uma breve recensão... Li o livro há muito tempo, teria, se me não engano, 14 anos e impressionou-me, para além da tristeza, uma certa incoerência entre o momento histórico, os valores e as práticas que aí ficavam a nu. Hoje, depois de três décadas de observação e vivência, compreendo melhor o drama aí subjacente e a puerilidade inefável do seu fundamento. É que a coerência é, na maioria das vezes, uma aproximação ao desejo da não-contrariedade que as circunstâncias enformam, à revelia da vontade de realização... Tempos de crise, tempos de guerra... guerra de tudo contra tudo e contra si próprio... guerras latentes, mal-contidas, sufocadas... tempos de crise, tempos de medo... tempos incertos!
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