A irresponsabilidade cívica e política, de que tanto se fala, a propósito de tudo e de nada, recorrendo-se à já sistemática argumentação da "crise dos valores", atingiu o seu ponto alto com as declarações de Bento XVI que, em pleno continente africano, onde a fome e a morte ceifam vidas de todas as idades e a sida produz gerações de crianças condenadas pela doença, teve a aleivosia de proclamar que o uso de preservativos não só não resolve nada, como -pasme-se!- ainda complica mais o problema clínico de natureza epidemiológica mais grave da actualidade! E, se pouco já me espanta no que à instituição da Igreja Católica diz respeito, considero contudo, insustentável, que um líder religioso, com responsabilidades acrescidas no que à formação da opinião pública diz respeito, recorra a tais afirmações em nome de dogmas hipócritas que gritaram a condenação do aborto ao ponto de terem recentemente acedido à condenação da violação de uma criança de 9 anos, simbolicamente castigada por ter engravidado e abortado... Ao proclamar em África a condenação do preservativo, forma acessível de prevenção da sida em sociedades de tradição oral onde já é tão difícil passar a mensagem da protecção de toda a população, Bento XVI enfrenta a ciência, as organizações internacionais e todo o esforço de promoção de cidadania, indispensável à paz e à vida. Com mais este gravissimo dislate, Bento XVI arrisca-se a ficar na História como o Papa que descredibilizou a Igreja e a remeteu para o estatuto de instituição fundamentalista porque dogmática... condenar esta actuação deveria hoje ser uma prioridade de todos os políticos, todas as ONG's, da OMS e da ONU... se verdadeiramente reconhecem alguma validade a um mínimo sentido de bom-senso, aos mais elementares valores de defesa da vida humana e à imperiosa necessidade de exercício de uma pedagogia colectiva que deveria, em pleno século XXI, unir todos os homens de boa-vontade... ah! já agora: a Igreja perdeu hoje toda a autoridade moral para falar em "crise de valores".
Ana Paula,
ResponderEliminardesculpe a desconexão com o post mas precisava com urgência de resposta a um mail que lhe enviei.
Obrigado. Um abraço,
Carlos Santos
Ana Paula
ResponderEliminarSe tivesse lido seu post, já não teria escrito o meu. O essencial já cá estava dito. Valha-nos a convicção de que a amplificação do protesto poderá produzir alguns resultados!Obrigado.
JMC Pinto
Carlos,
ResponderEliminarJá respondi ao seu mail. Obrigado.
Um abraço
Estimado JM Correia Pinto,
ResponderEliminarObrigado pelas suas palavras mas, na verdade, a dimensão civilizacional em que enquadrou a abordagem do problema é uma vertente fundamental desta problemática.
É recíproca a expectativa de que a amplificação do protesto produza alguns resultados.
De novo, o meu sincero agradecimento.
Bem-haja! Um abraço amigo.
Ana Paula Fitas