A América do Sul é um extraordinário cadinho do universo humano, resíduo de memórias ancestrais, colonialismos, ditaduras senhoriais e militares, revoluções, indigenismo, catolicismo, animismo, economias rurais, urbanizações metropolitanas, comércio, narcotráfico, corrupção, património natural e edificado... um espaço onde os fenómenos socio-económicos interagem de forma complexa, deixando sempre por explicar ou compreender alguma dimensão da realidade, retrato de todas as sociedades. Hoje, num excelente documentário do National Geographic sobre a América do Sul, nomeadamente, Bolívia, Chile, Colômbia, México e Perú, um cientista social enunciou, enquadrado na metrópole de lata que envolve as grandes cidades, dois factos perturbadores: um, atribuindo à má gestão da agricultura e da posse da terra, a responsabilidade pelo êxodo rural das populações para as cidades; e outro, demonstrando que a defesa do sector e da actividade privada, bem como do mercado e da livre concorrência, é, não um princípio de organização económica reconhecido pela maioria das pessoas em função da sua utilidade, mas, apenas, uma estratégia dos mais pobres que, destituídos de bens, procuram uma oportunidade de fazer negócio para ascenderem na escala social... neste contexto, o mercado emerge como a solução de recurso da economia informal, éncarada enquanto meio de sobrevivência, favorável à multiplicação de estratagemas propiciadores da corrupção, da exploração e da dependência. Assim, ao contrário do que geralmente se supõe, o mercado representa, nesta perspectiva, a possibilidade de legitimação do próprio exercício da fuga ao controle e da livre concorrência que não garante a estabilidade mas, apenas, a circulação de capitais... O discurso não é novo... mas, a perspectiva denota o quão manipulados temos sido pela repetição das inverdades que conduziram à crise que hoje se vive em todo o mundo e cuja resolução Paul Krugman acredita ser muito demorada...
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