quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Do sentido e dos objectivos da "crise"...

No jardim que atravesso de manhã, reparei um dia que aparecera uma pessoa sem-abrigo!... Foi este jardim pequeno e tranquilo, o espaço que a pessoa que evidenciava estar há pouco tempo desabrigada, escolheu - provavelmente ainda preocupada com a sua segurança ao longo do passar dos dias e das noites!... uns meses depois, apareceu outra pessoa e depois outra! Impressionantes, as suas atitudes não deixavam de me espantar: ainda cedo, sentavam-se, tão arranjados quanto podiam!, a ler os jornais gratuitos, resistindo à lassidão do corpo, inevitável perante a passagem das horas. Recentemente, apareceram mais duas, três, quatro, cinco pessoas... mas, tantos meses depois, quem lia o jornal de manhã (e nem sequer ia às manifestações de protesto na esperança que se adivinhava vã mas que procuraram iludir até ao limite), deixou de ler, de se preocupar com a imagem, de olhar para quem passava e... abandonou-se à sua sorte! Hoje, uma ou outra pessoa pode ainda ver-se por ali... as outras foram devoradas pelo submundo da pobreza triste e multifacetada mas sempre violenta que corrói e consome a alma, o pensamento e o corpo... até não sobrar senão uma sombra do que somos, um invólucro do que fomos! É por isso que a crise é tão profunda e é, também, uma crise da democracia! Porque, além da política, das finanças, dos economistas e dos cidadãos que iludem as ambições e as convicções inventando uma autoridade e uma austeridade estéreis, há o medo que tolhe a acção reivindicativa e o risco de exclusão que acentua as condições de exclusão... Os contornos desta teia que nos torna "carne para canhão" dos mercados e da especulação bolsista, só irão abrandar a pressão socio-económica quando os povos ditos "desenvolvidos" estiverem numa situação de carência tal, que neles seja facilmente recrutada mão-de-obra muito mas, mesmo muito barata... ou então, quando o continente africano estiver em condições de ser por esses mercados explorado como o são, hoje, os povos asiáticos... até lá, seremos nós, europeus e americanos, as vítimas mais adequadas à fome insaciável do lucro dos accionistas, cujos interesses se escondem sob os métodos, os princípios e as lógicas das agências de rating

5 comentários:

  1. POBREZA EXCLUÍDA

    Mote

    Ser pobre e ser mendigo
    Por não ter o que comer
    Ser excluído triste castigo
    Nunca devia acontecer

    Glosas


    Neste mundo tão desigual
    Quem decretou a sentença,
    De haver tanta diferença
    Entre pobre e rico, foi fatal...
    Mas há quem ache normal
    Por só ver o seu umbigo;
    Não desejo ao pior inimigo
    Querer comer e nada ter,
    É penoso assim viver…
    Ser pobre e ser mendigo!


    Dizem que a fome é negra,
    Eu cá nunca lhe vi a cor;
    Acredito que seja um horror…
    Nada disso me alegra,
    Como pode haver tal regra
    Que divide logo ao nascer?
    Nunca hei-de entender:
    Uns têm tudo com fartura,
    Outros cavam a sepultura
    Por não ter o que comer!


    Vive gente ao abandono
    Não sabemos como resiste,
    Tudo isto é muito triste
    Ao poder não tira o sono...
    Viver assim, puro engano,
    Não ter ninguém por amigo
    Sem usufruir de um abrigo
    E não se poder fazer nada,
    Pobre gente abandonada...
    Ser excluído triste castigo!


    A vida teria outro sentido
    Havendo mais igualdade,
    Seria bom de verdade
    Tudo ser mais repartido...
    Ter o essencial garantido!
    Oh!... Como gostaria de ver
    Um diferente amanhecer
    Nesses olhares famintos,
    Perdidos em solidão, aflitos…
    Nunca devia acontecer!!

    POETA

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  2. Gostava de comentar, justamente, esta questão. Mas hoje o dia fez-me pensar: é a segunda vez, este ano que observo, com a respectiva conivência mediática, a um: "celebrar a morte". Este não é o primeiro passo para "democracia" na Líbia, do mesmo modo que, o assassinato de Osama bon Laden não é a "conquista de paz" para os USA…
    (E para terminar em beleza: http://www.dn.pt/politica/interior.aspx?content_id=2070541)
    Um abraço, um abraço…

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  3. Devia ter uma errata de virgulas - risos: NYX.

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  4. Obrigado, Camões... obrigado pelas verdadeiras e genuínas décimas aqui partilhadas! É uma honra!
    Um beijinho.

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  5. Olá NYX :))
    ... obrigada pela, como sempre!, boa sugestão!... entretanto, escrevi o "nosso" desabafo sobre Khadafi e só o fiz hoje para nem sequer integrar o volume de disparates e brutalidades que já por aí se leu e ouviu... Um abraço, minha amiga, um grande abraço.

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