"Sobre um Poema
Um poema cresce inseguramente
na confusão da carne,
sobe ainda sem palavras, só ferocidade e gosto,
talvez como sangue
ou sombra de sangue pelos canais do ser.
Fora existe o mundo. Fora, a esplêndida violência
ou os bagos de uva de onde nascem
as raízes minúsculas do sol.
Fora, os corpos genuínos e inalteráveis
do nosso amor,
os rios, a grande paz exterior das coisas,
as folhas dormindo o silêncio,
as sementes à beira do vento,
- a hora teatral da posse.
E o poema cresce tomando tudo em seu regaço.
E já nenhum poder destrói o poema.
Insustentável, único,
invade as órbitas, a face amorfa das paredes,
a miséria dos minutos,
a força sustida das coisas,
a redonda e livre harmonia do mundo.
- Em baixo o instrumento perplexo ignora
a espinha do mistério.
- E o poema faz-se contra o tempo e a carne."
Herberto Helder
Cara Ana Paula Fitas
ResponderEliminarPodem roubar-nos tudo! até o papel e o lápis. Mas "não há machado que corte a raís ao pensamento".
Abraço
Caro Rodrigo :))
ResponderEliminar... porque a dignidade não tem preço e se não pode roubar, restará sempre o pensamento, essa arma maior da resistência!
Abraço.
Muito bonito, Ana Paula! também ando às voltas com o Herberto Helder
ResponderEliminar... vale bem a pena, meu amigo! Obrigado pela partilha :)
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