"A guerra dos mercados eclodiu e o rosto mais visível desta guerra tem sido, desde 2008, a União Europeia, enquanto bloco regional da macro-economia mundial, aparentemente liderada até há pouco, pelos EUA. O ritmo vertiginoso a que as mudanças e as clivagens reveladoras de rupturas das economias nacionais se têm sucedido, deflagrou com a declaração de incumprimento e o pedido de intervenção externa das instituições financeiras internacionais, na Grécia, na Irlanda e em Portugal, cujas realidades sócio-económicas se têm vindo a agravar, nomeadamente no que se refere às taxas de desemprego e de endividamento. Contudo, o problema não se confina às dívidas soberanas destes Estados-membros da EU e o risco de incumprimento com ameaça de necessidade de intervenção financeira externa ameaça as economias de países como a Itália, a Espanha e a Bélgica, afectando já outras economias até há pouco tempo consideradas “fortes”, como é o caso da França e da Alemanha, onde as medidas de austeridade integram as respectivas orientações políticas. A gravidade e extensão da crise é de tal ordem que, finalmente, após, meses e anos de recomendações e decisões políticas no sentido de reforçar as medidas de austeridade em cada Estado-membro, os órgãos centrais da EU, Conselho e Comissão, decidiram reformular os prazos de pagamento das dívidas soberanas e, consequentemente, baixar as taxas de juros que atingem níveis insustentáveis, dada a especulação promovida pela avaliação do “rating” das agências de notação financeira. Desta vez, depois de muitos avisos de boa parte da sociedade, o fantasma da especulação abateu-se sobre os mercados como uma realidade incontornável, obrigando as economias “fortes” à cooperação com as dos chamados “países periféricos”, de modo a “travarem”, quer ao nível dos próprios mercados, quer dos cidadãos, uma nova e muito empobrecida imagem do estádio de desenvolvimento dos seus países e das suas economias, reveladora de uma situação social deficitária no que se refere à qualidade e condições de vida das populações. O culminar desta crise ficou expresso recentemente com o acordo do Senado norte-americano em que, mais uma vez, foi aprovada uma “subida do tecto” do endividamento da dívida dos EUA, de modo a evitar que a “maior economia do mundo” entrasse, também ela!, em incumprimento relativamente às exigências que os compromissos financeiros internacionais impõem. E se, neste momento, começo por gastar o espaço que me é reservado para escrever neste extraordinário testemunho da realidade social portuguesa que é a revista “Viver”, desta vez dedicada ao tema “A União É a Força”, é para lançar o alerta: quando os blocos económico-políticos “mais poderosos” estão em profunda crise (apesar da resistência dos “lobbies” de cada um dos seus membros), precisam de recorrer à união de esforços para fazer face ao inimigo comum (no caso, as agências de rating, isto é, de notação financeira dos mercados), torna-se óbvia e indispensável a consolidação dos esforços regionais e locais a nível micro-económico, para que as economias locais e regionais não sejam extintas pelo efeito “dominó” causado internamente pela dinâmica de afundamento da economia nacional. Cabe, por isso, aos agentes políticos, económicos, sociais e culturais locais e regionais, a responsabilidade de desencadear mecanismos de sustentabilidade capazes de reforçar as incipientes dinâmicas locais de desenvolvimento, tornando-as muito mais autónomas do que são no presente em relação ao poder central e conseguindo deste poder e do poder europeu (designadamente, pelo recurso aos fundos comunitários) apoio para a consolidação desta autonomia, de que depende, afinal, a sobrevivência das regiões - e, em última análise, a qualidade de vida das populações, cujo nível decorre das taxas de produtividade e de emprego que conseguirmos sustentar local e regionalmente! Por isso, a palavra de ordem, nos tempos que correm, é: Unir Esforços para o Desenvolvimento!"
(Este meu texto foi publicado no mais recente número da Revista Viver, ed. Adraces)
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