domingo, 15 de março de 2009

Das verdades da História...


A verdade histórica é sempre uma aproximação... por isso, gosto de conhecer as versões das partes que a escrevem para delas extrair o que considero relevante para uma compreensão equilibrada, isto é, satisfatória, dos tempos e dos factos. Ciente de que todo o esforço de objectivação implica a múltipla subjectividade de que os autores não puderam ou não quiseram distanciar-se (e digo "múltipla" porque são diversas e coexistentes as facetas desta inesgotável dimensão da produção intelectual, científica e artística: pessoal, psicológica, sociológica, cultural, política e ideológica), resolvi, finalmente, ler "1808" de Laurentino Gomes, cuja primeira edição data de Janeiro de 2008 e cuja 2ªedição, de Fevereiro do mesmo ano, comprei assim que surgiu nos escaparates. À vista, o livro percorreu todo este tempo na minha sala, entre mesas, secretárias e prateleiras, porque sempre outra leitura se lhe sobrepunha, motivada por critérios de vontade ou necessidade... quanto ao "1808" lá resistia ao olhar a sua capa amarelo-acastanhada, a lembrar impérios de um século que estudei demasiado bem para ter paciência para reler repetições que poderiam ser retratos parciais de uma perspectiva que eu construira em leituras cruzadas e plurais... uma destas manhãs peguei-lhe e, já não sei se no autocarro ou no metro, comecei a ler... sinceramente, foi uma agradável surpresa! De leitura escorreita e escrito com a preocupação de tornar os factos descritos numa narrativa coerente e dinâmica, "1808" tem a vantagem de ser uma obra resultante de fontes menos conhecidas e, naturalmente, menos envolvidas na condescendente complacência com que se analisam e relatam os períodos e episódios da história de um país. Trata-se da saída de Lisboa da corte portuguesa com D. João VI a procurar no Brasil um exílio justificado pela premência das invasões napoleónicas a Portugal, enredado num contexto de alianças internacionais, onde o seu peso não equivalia à sua dimensão imperial mas, apenas, à sua vulnerável dimensão nacional. De tudo o que estudara e lera, a impressão que extraira da realidade da época aproximava-se, sem que o tivesse lido, de um contexto e de conjunturas onde faz sentido o relato deste "1808"... Laurentino Gomes escreveu-o e descreveu-o. Vale a pena ler! Do muito que fica por dizer, já que nem foi propósito do autor exceder o âmbito temático do período histórico a que se dedicou, encontram-se outros ecos... se os procurarmos! O século XIX faz luz sobre o que foi e tem vindo a ser Portugal... "1808" é, também por isso, além de interessante, indispensável.

2 comentários:

  1. É, de facto, um excelente fresco da deslocação da Corte para o Brasil, do Portugal em luta(em fuga?) contra as invasões francesas e da criação das condições políticas para que surgisse esse grande país que é o Brasil.

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  2. A expressão é feliz, Sokinus, obrigado!... corroboro inteiramente: "um excelente fresco"!...

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