sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Ciganos - Cidadãos numa União Europeia contrária à Europa Social


A fragilidade da arquitectura europeia tornou-se evidente com a expulsão massiva dos cidadãos de etnia cigana, assumida por Estados-membros de pleno direito na União Europeia... ficam assim comprometidos os princípios da livre circulação de pessoas e da igualdade de oportunidades entre cidadãos do espaço comum europeu e, consequentemente, fica exposta à evidência que a arquitectura institucional das organizações político-económicas e sociais de carácter federativo assenta numa proclamação de valores que não garante a sua efectiva prática e que legitima a consideração demagógica da sua natureza. A Europa que expulsa cidadãos ciganos é o sinal da vigência de uma Europa-fortaleza que remete para o revivalismo dos tempos das ditaduras nacionalistas, o oposto da Europa Social que defendemos e, consequentemente, abre um precedente que dará razão aos que não defendem a supranacionalidade e o primado do Direito Comunitário Europeu que fica lesado na sua essência. Sarkozy, na sua ânsia de protagonismo incapaz de resistir à tentação autoritária do seu perfil ideológico, abriu um caminho perigoso para todos nós e, provavelmente, deu o primeiro golpe mortal no que pensámos ser, até hoje, a União Europeia (ler aqui e aqui). A questão que se nos coloca é a de perceber a dimensão e a extensão desta prática política da direita que se sintetiza na interrogação a que é urgente dar resposta porque dela decorrerá o apoio dos cidadãos ou a resistência massiva à actual organização política dos 27: a Europa Social morreu?

22 comentários:

  1. Se não morreu, está a morrer...

    E eu tenho vergonha... de ser português o homem que preside à Comissão Europeia e que parece um rato a fugir da questão...
    Vou tentar enviar por mensagem algo que me marcou muito...
    Se conseguir encontrar...
    Um bj,minha amiga...

    ResponderEliminar
  2. Cara Ana Paula Fitas

    Há tempos que acompanho "A Nossa Candeia" mas creio que nunca comentei. Faço-o hoje para a felicitar pelo trabalho que tem feito na defesa dos direitos do Povo Cigano.
    A mim mete medo esta xenobia galopante do sarkozy e os que lhe seguem as pisadas.
    Descontando as devidas proporções, há alguma semelhança com a perseguição ao Povo Judeu, cujas consequências conhecemos.
    Cumprimentos

    ResponderEliminar
  3. Ana Paula,
    Uma vez mais em perfeita sintonia.
    Um abraço.

    ResponderEliminar
  4. Ana Paula Fitas

    Lembra-se de termos aqui comentado a questão do véu islâmico ?
    Em França, pois então !
    Lembra-se de eu lhe dizer que essa medida seria a primeira de outras mais ?
    E mais medidas se seguirão, não tenha dúvidas.
    Sei que é uma pessoa atenta e, por isso, não lhe recomendo que releia Bertold Brecht ... " e um dia bateram à minha porta " ...

    Quando olho para esta Europa, mais gosto de Nelson Mandela ...

    Cumprimentos


    Omar I'qbal

    ResponderEliminar
  5. Cara Ana Paula Fitas,

    É isso mesmo, está aberto um caminho perigosissimo. Ainda hoje tive uma tremenda discussão sobre este tema, porque as pessoas não conseguem perceber o que está verdadeiramente em causa, e o estigma do "cigano" deixa as pessoas indiferentes senão mesmo, colaborantes. Isto é dramático e muito muito perigoso...

    Um beijinho.

    ResponderEliminar
  6. Minha Cara Amiga, a tua sensibilidade dá cabo dos meus fracos neurónios, a problemática dos "ciganos" não tem nada de novo.
    Respeitar o seu modo de vida seria o ideal para todos, assim como respeitar os sem abrigo "que não querem mudar de "cultura"...
    Um Estado, por muito tolerante que seja, e a França tem uma longa história de acolhimento dos perseguidos desta vida, também tem os seus limites de tolerância às "culturas marginais".
    Especulação não tão absurda como se possa imaginar: se por mera hipótese os "ciganos" reivindicassem um território, que não é o caso bem sei, é fácil imaginar a aplicação de leis não escritas, o tribalismo no seu esplendor. Mas isso é a Idade Média Baixa.
    Os "ciganos" são capazes mas não querem ser cidadãos.O Soros, como referes, pede a integração social nos seus próprios países. É por aí que se deve ir. Ainda me lembro como foram raríssimos os que fizeram serviço militar obrigatório, o simples Bilhete de Identidade era visto como um confisco da sua própria liberdade. A Espanha foi a sua terra de asilo, quando outros cumpriam as suas obrigações para com a sociedade. Direitos e deveres é a base de toda a sociedade organizada.
    A pastoral dos "ciganos" poderá revelar o seu trabalho e os resultados são fáceis de analisar.
    A Europa social é outra guerra. Quando se mistura tudo sai asneira.
    com muita estima e consideração.

    ResponderEliminar
  7. Em França, o problemas será dos franceses. No meu País, basta lerem os jornais, ouvirem os telejornais e até lerem alguns blogues. Há uns dias atrás, comentava eu, neste mesmo blogue a recessão económica e dizia que os nossos politicos, além de serem politicos, não tinham feito mais nada.....provavelmente teriam sido funcionários do estado e, como tal só tinham mudado de serviço. Desgostava-me que neste País que é meu, houvesse gente a passar fome e gente que tinha vergonha de estar a passar fome, e que eu não conseguia fazer nada para que no meu País, essa gente deixasse de passar fome. Vem isto tudo a propósito de nem sempre ser defensor das minorias, como está na moda. Com os ciganos e sem ser xenófobo, diria que a maioria, mesmo a grande maioria, não quer ser integrada na nossa sociedade. Mesmo aqueles que cá nasceram e já são adultos. Questões culturais ou seja o que fôr, não invalida que vivam em portugal segundo as nossas regras. Há ciganos portugueses ? Claro que há ! Vivem segundo as nossas regras ? Alguns, como digo atrás, a grande maioria, não! Não vive e não é porque não sejam aceites na nossa sociedade é porque querem viver num mundo àparte. Salvo raras excepções, temos ciganos a viverem segundo as nossas regras, portanto generalizar não será a melhor forma de descrever os ciganos, como generalizar não será a melhor forma de definir todas as pessoas não ciganas e que são a maioria dos portugueses. Qundo há uns tempos um cigano me pediu um cigarro eu recusei, a resposta pronta foi "não vale mais pedir que roubar? ", repliquei eu que Valeria mais trabalhar que pedir, a resposta não se fez esperar " Já viu algum cigano a trabalhar? ". Por acaso disse-lhe que sim e é verdade já vi ciganos a trabalharem, esses são os que querem fazer parte da sociedade em que vivemos. O comentário não era para ser tão longo, mas deixo-vos a pensar nisto: " Há ciganos que nunca trabalharam, que nunca perderam emprego nenhum e recebem o subsidio de reinserção social, quando há outras pessoas que trabalharam perderam os empregos e não recebem subsidio nenhum ". Bfs

    ResponderEliminar
  8. Olá Ana Paula,
    Se me permite, e para alguém que possa estar mais distraído, deixo aqui um excerto (postei-o, no meu blog, com o respectivo link) do que foi determinado pela União Europeia:

    "Uma responsabilidade conjunta.
    As instituições europeias e os Estados-Membros têm a responsabilidade conjunta de melhorar a inclusão social das pessoas de etnia cigana, recorrendo a todos os instrumentos e a todas as políticas da respectiva competência.

    A União Europeia dispõe de um forte quadro jurídico no combate à discriminação das pessoas de etnia cigana com base, entre outros, no artigo 13.º do Tratado da Comunidade Europeia, na Directiva 2000/43/CE, relativa à igualdade racial, e na Directiva 2000/78/CE, que proíbe a discriminação no emprego e na formação profissional. Os Estados-Membros têm o dever de transpor estas directivas para as suas legislações nacionais."

    Sem dúvida, a arquitectura europeia está a desmoronar-se.
    Abraço.

    ResponderEliminar
  9. Sempre disse que a União Europeia nunca seria mais do que uma união económica de interesses. Não é que isso me pareça errado,mas não valia a pena andarem a enganar os europeus. Na altura a minha posição era muito criticada mas o episódio dos ciganos creio que me vem dar razão. A verdade, porém, é que Sarkozy não é o mau da fita. Ângela Merkl e Berlusconni, por exemplo, também têm culpas no cartório.

    ResponderEliminar
  10. O Sarkozy é o que é, o Durão Barroso não é o que parece e, nós (portugueses), somos como somos. Falo da minha experiência(mais uma vez), as escolas onde existem ciganos, por norma, dão problemas, porque os próprios, segundo dizem, também são crianças problemáticas. Acontece que,os pais retiram os seus filhos das escolas onde esta etnia estuda e por norma, estas escolas são potenciais estabelecimentos de ensino com os dias contados. O problema continua, quando se fecha a escola e os ciganos seguem para outra...

    ResponderEliminar
  11. Tina, obrigado! ... aguardo ansiosa a sua mensagem e espero que encontre o que pensou enviar... e sim, Tina, também eu me sinto envergonhada por ser um português a presidir à Comissão Europeia sem tomar uma atitude e afirmar a verdade dos factos... como se nós, cidadãos europeus, não percebessemos que estão a atentar contra os direitos cívicos de todos nós... como dizia Brecht... agora eles, depois outros e em seguida, nós...
    Um beijo, minha amiga.

    ResponderEliminar
  12. Caro Folha Seca,
    Obrigado pelas suas palavras... sim, mete medo este autoritarismo descarado que viola o próprio Direito Comunitário Europeu e que só a voz da sociedade pode refrear... e saiba, meu caro amigo, que o seu comentário foi importante para eu decidir publicar o post seguinte de que, estou certa!, vai gostar.
    Com estima e consideração, receba o meu abraço solidário.

    ResponderEliminar
  13. Miguel,
    De novo, o meu profundo agradecimento... não só pelo registo de sintonia mas, pelas generosas palavras com que introduziu, lá, no Vermelho Cor de Alface, o link para este post.
    Um grande abraço.

    ResponderEliminar
  14. Caro Omar I'qbal,
    Obrigado por ter vindo até aqui, ainda antes de Setembro... sim, Omar, tem toda a razão quando alerta para os precedentes que abrem as perseguições contra as comunidades, os povos e as culturas, a pretexto de penalização pelas acções desumanas de alguns... Agradeço-lhe ainda a pequena citação de Brecht porque a expressão "bateram à minha porta" evocou em mim uma das histórias que conto no post seguinte...
    Com estima e consideração solidária, receba, Omar, um abraço amigo e... Bem-haja!

    ResponderEliminar
  15. Ariel,
    ... é tão verdade o que diz!... as pessoas avaliam o todo pela parte e são profundamente injustas... por isso, se tornam ainda mais perigosos estes precedentes que ninguém parece interessante em perceber e analisar...
    Obrigado também pelo que tem escrito lá no Cirandando onde gosto de também ir cirandar :))
    Um beijinho

    ResponderEliminar
  16. Caro A.R.,
    ... os problemas prolongam-se no tempo porque lhes adiamos a reflexão justa, devida e merecida de que podem resultar sugestões de melhoramento, no caso, relacional, para todos... e, como sabemos, a reprodução geracional dos problemas relacionados com a pobreza e a exclusão social são, talvez, uma das mais graves dimensões a pensar em termos de políticas sociais... aliás, quando ouvimos dizer: "ah, eles foram sempre assim..." ocorre-me sempre a anedota do lobo e do cordeiro em que o lobo para justificar o seu ataque ao cordeirinho, depois deste lhe perguntar a razão de lhe ir fazer mal uma vez que ele nada fizera contra ele, responde:"se não foste tu, foi o teu pai"... Não podemos pactuar com este tipo de senso-comum, meu amigo... a nossa obrigação como cidadãos é a de contribuir para atenuar as tensões sociais e procurar, sempre!, ser justos... e é por isso que a questão da população cigana e da Europa Social é uma e a mesma coisa - como o é sempre que um cidadão estiver a ser vítima de uma discriminação!
    Com estima e consideração, se me permite, gostaria de lhe sugerir a leitura do post seguinte.
    Obrigado :)

    ResponderEliminar
  17. Cara Ana Paula Fitas
    Uma curta ausência minha...um hiato na nossa comunicação...
    Subscrevo, integralmente, o seu post.
    Há que preservar a etnia cigana como parcela integral da civilização europeia e combater a discriminação e a exclusão social, salvaguardando o risco que enfrentam relacionado com os problemas da pobreza, do desemprego e, ainda, porque são alvo de estereótipos e preconceitos que não têm cabimento no séc.XXI e face aos Direitos Humanos.
    Assim, cabe às instituições europeias e aos Estados-Membros a responsabilidade conjunta de melhorar a inclusão social das pessoas de etnia cigana, recorrendo a todos os instrumentos e a todas as políticas da respectiva competência.
    Um abraço amigo e solidário :) e atrasado :)
    Ana Brito

    ResponderEliminar
  18. Caro ZéParafuso,
    Eu percebo o que diz e sei que não é fácil desmontar e descodificar a aparência do que parece evidente... mas, também neste caso, a realidade não é o que parece nem se esgota no juízo de senso comum que somos levados a adoptar, se atendermos apenas ao que afirma a vox populi confirmada por alguns exemplos... se me permite a opinião, penso que a resposta que lhe deram a propósito do cigarro que aqui nos conta foi uma brincadeira e uma ligeira provocação em reacção à sua negação... finalmente, meu caro amigo, como tão bem sabe e sei que pensa, as injustiças não devem ser motivo para se criarem ainda mais injustiças (refiro-me aos casos de subsídio de reinserção que regista)... Bom fim-de-semana e, se tiver paciência, gostaria que lesse o post seguinte :)
    Um abraço fraterno.

    ResponderEliminar
  19. Teresa,
    Obrigado pela importância do contributo que significa a referência legislativa da UE contra a discriminação. Obrigado também pelas suas palavras e pela lúcida constatação de que a arquitectura europeia dá sinais de desmoronamento - lamentavelmente ainda antes de estar verdadeiramente consolidada...
    Um grande abraço.

    ResponderEliminar
  20. Carlos,
    ... a previsibilidade face à experiência é de facto fonte de sabedoria... e tem toda a razão: Sarkozy é agora o rosto mais visível do problema mas, além de Berlusconi e Merkel, a dimensão política do problema confere-lhe natureza europeia e confronta o Direito com as representações e as práticas que, no interior de cada país, cada cidadão conhece...
    ... moral da história: continua por construir a Europa em que queremos viver...
    Abraço.

    ResponderEliminar
  21. Relógio de Corda :)
    Obrigado por colocar o dedo na ferida central do problema: o adiar, o deslocar, o empurrar, o discriminar, o excluir, o condenar e o deportar do que não é de fácil e gratuita resolução... é caso para dizer: queixam-se de quê? ... nada se resolve sem intervenção eficaz e se a solução é a reprodução dos estereotipos e a violência autoritária não podem esperar mais do que o reforço da exclusão e do paralelismo das suas consequências.
    Um grande abraço fraterno e solidário com votos de bom fim-de-semana :)

    ResponderEliminar
  22. Cara Ana Brito,
    ... que poderei acrescentar a não ser que subscrevo as suas palavras? :)
    Obrigado, minha amiga.
    Um grande abraço solidário e um beijinho.

    ResponderEliminar