sábado, 7 de agosto de 2010

Violência Contra as Mulheres - os casos de Portugal e da Europa

Inspirada no blogue de Osvaldo Castro A Carta a Garcia, ocorreu-me que seria interessante evocar aqui o problema da violência, através da fabulosa analogia que a trilogia literária de Stieg Larsson evoca e retrata, mostrando como, através da vida de uma personagem, constatamos a forma multifacetada dos percursos da violência que, estruturalmente, percorrem a vida nas sociedades contemporâneas ditas desenvolvidas, ainda e sempre de forma particular, no que às mulheres diz respeito. O problema da violência doméstica que começa a ter visibilidade (inclusivé na sociedade portuguesa onde só no 1º semestre do ano em curso fez já 14 vítimas mortais - vale a pena ler AQUI), é parte de um problema mais grave onde se oculta a história da construção cultural de uma civilização assente na lógica do exercício violento do poder e que hoje se designa já por "violência de género". O problema requer, de facto e antes de mais, uma intervencão assistencial imediata às vítimas que vão da violência familiar à vulnerabilidade face às redes de tráfico de seres humanos mas, implica também, indiscutivelmente, uma compreensão transversal das relações interpessoais e sociais configuradas culturalmente que, para serem coerentes e se poderem assumir como parte integrante da pretendida coesão social das sociedades democráticas, devem ser vividas de modo a permitir a construção de representações mentais do mundo humano onde a violência física e psicológica não seja encarada com naturalidade ou negligência mas, isso sim, como patologia, desvio e crime. É neste contexto que a trilogia de Stieg Larsson é exemplar... pela forma crua, interessante e complexa de exposição de um problema que toca a todos, através de uma narrativa policial contemporânea de excelente qualidade de que podemos ter uma amostra nos vídeos que se seguem e que correspondem a excertos de cada um dos 3 volumes desta obra - sobre a qual importa reflectir, para além da sua dimensão de entretenimento que tanto prazer proporciona aos leitores e que tão bem se adequa ao período estival.
Millenium - 1 - OS Homens Que Odeiam as Mulheres:

Millenium 2 - A Rapariga que Sonhava com uma Lata de Gasolina e um Fósforo:

Millenium 3 - A Rainha no Palácio das Correntes de Ar:

12 comentários:

  1. Ana Paula Fitas,

    Obrigado pela referência ao meu post sobre a violência de género, à mistura com o sucesso dos ebooks,de que Stieg Larsson é um destacado exemplo.
    A minha Cara Amiga mencionou que o meu post lhe serviu de inspiração, mas c'os diabos, Ana Paula,V/ fez em meia dúzia de linhas uma verdadeira tese...Claro,sei que é especialista em matérias de igualdade de género e que é uma fervorosa defensora dos direitos humanos e dos direitos fundamentais também nessa área.
    O meu forte abraço por ter transformado um apontamento ligeiro,-o meu post- num documento de informação precioso-o seu post- na Candeia.

    Osvaldo Castro

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  2. Caro Osvaldo Castro...
    ... deixa-me sem palavras... obrigado!... mas não deve esquecer que a inspiração resultou da leitura do seu post e da associação de ideias que daí resultou, ao evocar a fascinante obra de Stieg Larsson em paralelo com a realidade portuguesa e com a contestação que tantos ainda fazem sobre a relatividade cultural dos rostos da violência...
    Um grande abraço amigo :)

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  3. Ainda bem que gostou, Miguel :)
    Um abraço.

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  4. Cara Ana Paula Fitas
    Vou ser muito rápida, porque estou de partida e não disponho de muito tempo, mas não quero deixar de tecer uma ou duas pinceladas sobre este magnífico post.A violência exclui o lugar dos afectos e da expressividade, tornou-se um problema social e só há relativamente pouco tempo consta da agenda política nacional. Actualmente existe uma maior sensibilidade em torno dos comportamentos violentos e são mais aqueles que chamam a defesa dos Direitos Humanos conjugando esforços em várias áreas disciplinares através da intervenção estratégica e por forma a dar maior visibilidade à violência e à sensibilização pública da questão. As ONG’s têm ajudado a vislumbrar a ponta do iceberg, mas em Portugal, só a partir dos anos 90 foi produzida legislação específica para as vítimas de violência doméstica. A sua raiz latina – “vis” – significa "força" e a ela se associam conceitos como profanar, violar, transgredir – expressões que condensam a agressividade patente que pode ser física ou psicológica, privada, carnal ou sexual, moral e psíquica, comportando o instinto da destruição humana em biologicamente conveniente, ou benigna, e maligna. Mas há ainda a violência cultural de pensamento, a comum violência reactiva e, ainda, em algumas relações interpessoais funciona como adesivo que mantém viva a relação tal como acontece nas situações sadomasoquistas em que é o canal privilegiado de comunicação e de gestão da realidade. Outro aspecto emerge de certas formas de misticismo e/ou ainda como acto de auto-punição nos indivíduos capacitados para um uso teatral da dor. Devido a um certo atavismo da hostilidade do homem contra o homem a sociedade civil está constantemente ameaçada pela destruição e o mal-estar da civilização resulta da escolha humana de trocar uma parte da sua felicidade por um punhado de segurança. Se é verdade que o sadismo se relaciona com a vida sexual e se é verdade que o jogo da crueldade pode substituir o da ternura, então teremos que evocar a pulsão da morte, que anexo à libido, orienta a questão para o mais profundo bipolarismo da psique humana. Nas sociedades ocidentais do nosso tempo não podem ser toleradas formas explícitas de violência, embora reconheçamos a presença subterrânea de uma violência psicológica – na origem – que cada um exerce sobre si próprio e sobre os outros, talvez em sinal do esforço de se adequar a uma cultura que pretende prestações mais complexas e timbradas pela omnipotência, remetendo para o timing da indiferença e da falta de sensibilidade, mas também para o do chamamento do proibido, vivendo, em simultâneo, numa cultura em que reconhecemos os instintos destrutivos e que até nos concedeu os apetrechos para os elaborar.
    Para finalizar não posso deixar de sublinhar o exponencial de violência e indisciplina que se vive nas escolas, desenvolvidos a partir de pequenas situações do quotidiano, entre as pessoas, no contexto da família, e que requer uma aprendizagem dos educadores para tentarem resolver conflitos através de meios não violentos, tendo em consideração o meio ambiente e o cuidado de preservar o lugar em que se vive. Não estou neste momento em condições de ser exacta na expressão que vou utilizar, mas como diria Antoine Garapon só é possível enganar a violência se tivermos uma reparação para lhe propor.
    Falar de violência significa, acima de tudo, reclamar Afecto.
    Um Grande Abraço, Grato e Amigo e votos de boas melhoras :)
    Ana Brito

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  5. Cara Doutora:
    O nosso comum amigo, Dr António Berbem, escreveu estas memórias no meu blogue, o Al Tejo donde há muito é colaborador.
    Vou publicar o texto ainda hoje.
    Solicitou-me entretanto que lhe o reenviasse via mail.
    Como não sei o seu mail, copio-o para a caixa de comentários da Nossa Candeia do qual sou frequentador diário.
    Recorda um seu familiar, que também eu tive o privilégio de conviver não só nos tempos do E.D.L.S., como mais tarde em vários locais que em Lisboa ambos frequentávamos e do qual guardo grandes recordações.
    Espero que goste desta recordação do tio João.

    Aqui vai:
    "GENTE DA NOSSA TERRA":

    Meus caros Chico Manel, Amadeus S, estimado Sean:
    Creio que é, no filme “ Casino”que o Al Pacino diz mais ou menos isto:"só há três maneiras de fazer as coisas: bem feitas mal feitas ,à nossa maneira.

    Ora bem, fazer as coisas bem e à maneira do Al tejo, leva-me a pedir-vos para recordámos sem mais demora o papel que teve no Alandroal o João Fitas no banco por onde passou, o BES onde se tornou um Agitador político de primeira qualidade.
    Como sabem convivi muito de perto com o J.F. durante vários anos em Lisboa, e sem estar aqui a precisar de destacar-lhe uma das suas mais variadas, profundas e inteligentes qualidades, conto-vos só isto:
    Na noite do passamento de Salazar fomos para a Portugália beber uma imperial à memória de extinto ditador... clericalizado.
    Bebemos várias.
    Após as imperiais,surgiu inevitável,o desafio do João Fitas.
    Vamos ao Jerónimos prestar-lhe a última Homenagem.Estávamos cinco comparsas.Fomos Dois.Eu e ELe.Entrámos,observámos o ferétro (eram para umas três da manhã e não estava quase ninguém)e Eu mais baixo em altura, apenas me lembra de ver o nariz adunco de S. dormindo,dormindo.
    Isto com o João, a dizer-me que este facto ficaria para a nossa história.Anote-se que eu tremia que nem varas verdes...enquanto o J.Fitas estava na maior.Exactamente porque sempre foi um dos maiores da nossa geração,para não estar aqui a lembrar outras coisas.

    É claro, que mesmo à saída... estava alinhada uma carrinha da PIDE que "gentilmente"nos encaminhou para a Rua António Maria Cardoso.Estão a ver a cena?
    O J.Fitas sempre bem disposto (e com que coragem) enquanto eu,meu Deus,temia definitivamente pelo meu emprego de funcionário publico na manhã seguinte.
    Como é que a coisa acabou?...
    Ainda não será desta que o contarei o lastro da aventura na totalidade.Adianto, no entanto, que anos mais tarde se soube por um historiador que Marcelo Caetano, deu ordens par soltarem toda a gente detida nessa noite.
    Com superior visão politica, penso eu agora.

    Aqui têm meus dilectos Amigos,a razão porque continuo a pensar que andamos todos um bocado esquecidos de trazer o João Fitas para o Altejo.Trazê-lo para mostrar a sua personalidade.Lembrar a sua liderança.Demonstrar a sua criatividade.Pôr a claro o seu belo trajecto politico.Identificar a sua formação literária e os seus conceitos e perfil de cidadania,com hoje já se diz.

    Acho em suma,que o Alandroal deve muito ao que o João era e foi para quem com Ele pôde jogar à bola (era defesa central) Viver e conviver.
    E para que conste:tenho infinitas saudades dele!


    António Neves Berbem

    (espero que tenha gostado)
    Um abraço
    Do
    Chico Manel
    Ainda fomos vizinhos lá no nosso Alandroal

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  6. Vim aqui por sugestão de Osvaldo Castro e fiz bem.

    De maneira sucinta e clara, tocou mum tema importantíssimo: a violência,particulatmente a que se exerce sobre as mulheres.

    Desejo-lhe boa semana.

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  7. Car Chico Manel :)
    ... já fui ao AL TEJO comentar o texto do Dr. António Berbem e agradecer-vos a lindissima ideia de me fazerem chegar este episódio e este excepcional tributo de amizade que nos causa indizível orgulho. Obrigado, meu amigo!... claro que agora vou fazer chegar o texto à João e à Sandra, filhas do Tio João e agradeço antecipadamente por elas, a emoção que nos permite a todas :)
    Receba, com admiração e muita amizade, o meu sincero e sentido abraço amigo e volte sempre!... eu vou já passar a seguir o Al Tejo :)
    Um beijinho e muitas saudades :)

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  8. Cara São,
    Obrigado por ter aqui vindo e pelas palavras que aqui regista... temos muito caminho pela frente e tod@s somos necessários à defesa das causas que dignificam o ser-se humano e que alimentam a esperança de um mundo melhor para todos.
    Votos de bom domingo e... volte sempre!

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  9. …há as/os que arriscam tudo pela vida, saltando vinte metros para o mar, sinónimo de liberdade, e os/as que arriscam no conformismo, quem sabe á espera da morte… e de mão beijada…talvez , influenciadas (os) pelo provérbio mentiroso «quanto mais me bates mais eu gosto de ti»?… ou atormentados (as) pelo império do medo?…masoquismo, sadismo, impotência ou….e, mais grave são os seguidores do adágio ou sentença máxima «entre marido e mulher ninguém mete a colher»… :(

    Vou ter que ler triologia…

    Uma onda de abraços

    Saravah

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  10. Vais ter que ler, sim, querida Amiga :)
    ... e, se não estou enganada :) , vais adorar :)
    ... é brilhante!
    O autor, sueco, estudou os movimentos de extrema-direita e nazi e era jornalista na área da Economia... promete, não promete?... porque que melhor modo para se falar da verdade do que através da ficção? :)
    Beijos... com saudades

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  11. Cara Ana Brito,
    Desculpe só agora responder a este seu comentário mas, a verdade é que os restantes vieram em "catadupa" e ao tentar responder a todos, escapou-me o primeiro... dei por isso agora porque, como tento ir responder a todos, reparei que neste post havia apenas 11 e, como tal, faltaria alguma coisa... antes de mais, agradeço o tempo de que dispôs apesar da pressa com que estava para enviar este texto... depois, se me permite, quero apenas fazer uma observação sobre um dado que refere e que, na minha opinião, não coincide com a realidade... de facto, não considero que, de forma absoluta, a violência exclua os afectos... de forma breve, anoto: 1- a sociedade dos afectos é relativamente recente, acentua-se com o final da IIª GGM e a proclamação dos Direitos Humanos, da Criança e com o desenvolvimento das Ciências Sociais e Médicas; 2- a violência e a austeridade nomeadamente nos contextos familiares e sociais anteriores ao referido em 1 não implicava a anulação dos afectos, se pensarmos que estes e as suas formas de expressão decorrem de auto-representações configuradas socio-culturalmente; 3- é a questão das representações sociais de afectos e violências que configura o quadro mental contemporâneo no âmbito do conhecimento público sobre o desenvolvimento dos indivíduos e a problemática da coexistência social numa sociedade e numa cultura valorizadora dos direitos; 4- a dinâmica socio-cultural da mudança que o referido anteriormente implica, torna emergente a problemática da coexistência de micro-realidades distintas em que é necessário intervir adequadamente; 5- há uma pedagogia cívica configurada politicamente que urge desenvolver, assente na articulação concertada da Educação, da Justiça, da comunicação social e do apoio médico especializado contextualizado interdisciplinarmente e que implica mais trabalho no terreno do que a simples divulgação de slogans e dados estatísticos.
    ... acabou de me ocorrer a possibilidade de publicar estas observações sem post... talvez o faça :)
    Um grande abraço amigo e solidário :)

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