Portugal é o 2º país da Zona Euro com mais elevada taxa de precariedade e o 3º se considerarmos a totalidade da União Europeia, segundo os dados do Eurostat (ler Aqui). Apesar de relativizados pelas autoridades portuguesa, os dados revelados merecem a nossa reflexão designadamente porque o problema que subjaz a esta realidade é, como em toda a Europa, o do desemprego (ler Aqui), cuja análise objectiva e distanciada se resume à constatação da incapacidade de criação de postos de trabalho nas sociedades contemporâneas consideradas desenvolvidas mas, cujo futuro se encontra, por esta razão, seriamente ameaçado. As consequências da coexistência de elevadas taxas de desemprego, precariedade laboral, envelhecimento populacional e alterações de consumo configuram, neste momento, os eixos sobre os quais se desenha o futuro europeu das populações dos países que integram a União Europeia, onde os conflitos tendem já a reflectir-se em sérias dificuldades económicas para famílias e cidadãos e a agravar-se sobremaneira, quando associadas à questão das migrações e do acentuar político dos limites das competências do Estado Social . Neste contexto, é fácil prever o endurecimento das medidas políticas justificadas pela necessidade de gerar receitas capazes de anular os custos do apoio social que vai sendo, progressivamente, diminuído. Com este panorama não é difícil compreender que estão em efectivo desenvolvimento dinâmicas socio-políticas alimentadas pelo descontentamento, que irão condicionar e sustentar reacções politicas significativas, de sinal contrário às que assentam na defesa dos direitos das pessoas e realtivamente às quais não podemos garantir a continuidade do investimento eleitoral na democracia. Por tudo isto, aflige a inércia política decorrente de um mistificador aguardar por eventuais investidores que, apesar das mudanças ocorridas no mercado de trabalho terem modificado a "olhos vistos" a sua natureza operativa e organizacional, continuarão a sacrificar a lógicas ultrapassadas o problema da contratação de recursos humanos, recusando a inflexão do investimento na criatividade multifacetada a que a sociedade pode aderir (não era esse um dos argumentos da polivalência e da flexibilidade?), apenas porque não reconhece nessa inflexão lucros imediatos acrescidos... e aflige tanto mais que, se a análise científica socio-económica do problema é já conhecida e se, consequentemente, dela podemos deduzir ilacções e construir cenários de previsibilidade, não se compreende a razão da União Europeia não estar já a trabalhar conjuntamente o problema da criatividade e da sustentabilidade do Mercado - ao invés de nos deixarem reféns de uma espécie de "fatalidade", resultante da nossa adesão e dependência tecnológicas criadas por hábitos de consumo induzidos pela oferta e a mediatização, de forma transversal e incontornável na vivência urbana dos quotidianos!?
Cara Ana Paula Fitas
ResponderEliminarPlenamente de acordo…
O desenvolvimento equilibrado pressupõe a existência de muitas solidariedades e é necessário articular a consonância entre funções prestadas e a sua dimensão populacional, entre a riqueza produtiva, entre o emprego que surge e aquele que é visivelmente procurado. Porém, as situações de desequilíbrio, embora possam manifestar-se dinâmicas durante um curto tempo, podem, também, recomendar operações de cirurgia fora da esfera financeira, política e organizativa de quem delas carece. Por isso, há que tratar, integralmente, das situações e, nos países de desenvolvimento intermédio deve ser preventivo o tratamento no sentido de reforçar o patamar económico das zonas de emigração, construindo trabalho onde o trabalhador se encontra e apetrechar de condições favoráveis as tarefas em que se ocupa ou pode vir a ocupar-se. Os países do Sul estão plenos de projectos moribundos, de expoentes negativos face a expectativas, menosprezando-se a capacidade e a auto-confiança dos indivíduos que são capazes de se desenvolverem por si próprios. A atitude face à solidariedade deve ter o respeito como pilar e deve aceitar a diversidade para que todos sejam canalizados no sentido de alargar horizontes pessoais e inter-pessoais e a partir das suas reais capacidades enriquecerem-se com novas experiências e abrirem janelas em que a formação profissional e toda a sapata educativa façam valer níveis de exigência correspondentes a actualizações complexas das tarefas impulsionadas pelas necessidades concretas do(s) paíse(s), porque quando estas não se encontram satisfeitas e os meios não abundam é quando é possível realizar mais, empreender melhor, tomar mais decisões, reclamar conhecimentos e enfrentar desafios.
Os empreendimentos demoram a realizar, a montagem de um programa global depende demasiadamente de subprogramas, a aprovação de documentos e de projectos estratégicos é morosa e depende da força política quando se procede à acomodação dos gastos às receitas, há as políticas nacionais e/ou comunitárias que condicionam a autonomia de decisões locais e, enfim, há muitos soluços no âmbito das solidariedades. O empenhamento do governo na resolução do problema será um longo e difícil processo que não pode nem deve comprometer o desenvolvimento, porque a desarrumação é tão forte que colide com causas e valores naturais e culturais que nos fazem correr o risco de esbanjar factores de qualidade que podem vir a ser, no futuro, algo que nos distinga dos outros. Toda e qualquer capacidade de intervenção será pouca para salvaguardar a sobrevivência Social da Democracia como muito bem justifica no seu texto.
Um Grande Abraço Amigo :)
Ana Brito
Cara Ana Brito,
ResponderEliminarObrigado pelo seu sistémico comentário que toca questões prementes de todo este problema e ao qual acrescento a problemática da urgente reflexão que é indispensável fazer sobre o uso que estamos a dar à dimensão da interdependência aberta e reforçada pela globalização e de que fica o exemplo sobre a possível subida dos preços do pão como consequência da subida do preço do trigo na Rússia cujas culturas estão a ser devastadas pelos incêndios... o drama é de tal modo grave que só a articulação concertada dos Governos lhes poderá dar resposta eficaz... até lá, estamos perante a necessidade de ir gerindo e descobrindo formas de gestão capazes de compatibilizar a realidade evocada com a pluralidade de especificidades nacionais.
Abraço Amigo :)