quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Recessão Económica - Episódios de uma Repetição Incansável

Não surpreendem as mais recentes afirmações de Joseph Sitglitz sobre o risco de recessão na Europa designadamente se tivermos em atenção os avisos que, no passado mês de Abril, o Prémio Nobel da Economia enunciara (ler também aqui) ... em rigor, nem de nova recensão se deveria falar porque o ritmo económico europeu anterior à crise de 2009 não chegou a ser alcançado e, menos ainda, ultrapassado. Os indicadores económicos apurados entre o pico mais baixo da crise e os actuais, denotavam apenas sinais de uma tendência de recuperação que, para efeitos de estímulo da procura através do incentivo à confiança dos consumidores, passou a ser anunciada pelos governantes com o apoio indefectível dos meios de comunicação social... oportunisticamente, as oposições aproveitaram a inconsistente imagem da realidade para passar a acusar as governações nacionais de má gestão das respectivas economias e, entre nós, multiplicaram-se as vozes que, quais velhos do Restelo, proclamavam imponentes do alto da sua ignorância e da intenção manipuladora, estar à vista a responsabilidade de Sócrates e do executivo na débil retoma que o mesmo ia anunciando. Haja seriedade e responsabilidade! Reduzir os factos a interpretações conjunturais e oportunisticas para o mero combate político-partidário é de uma imaturidade chocante quando os ritmos de empobrecimento grassam entre as populações que ouvem, cada vez com menos esperança, os discursos de que toda a gente conhece a "música" e cuja "letra" não interessa nada a quem, preocupado em sobreviver, não está disponível para "cantigas". Apesar da multiplicidade de alternativas que se podem colocar às opções governativas (vejam-se as propostas descabidas e desumanas que o PSD de Passos Coelho apregoa, reforçando sem reservas todas as causas da crise: maior liberalização de despedimentos, redução de apoios sociais, mais privatizações e desmantelamento do sector público, designadamente na saúde e na educação) e da responsabilidade que cada país e cada governo tem de assumir no esforço de minimização do impacto real das estratégias financeiras na vida das pessoas, o problema económico nacional é europeu e global dependendo a sua resolução, em grande parte, da reforma da arquitectura económica europeia que é preciso coragem para activar - já que assenta, indiscutivelmente, numa profunda alteração da sua filosofia de gestão até aqui sustentada por uma ideologia neoliberal que, apesar de comprovadamente fracassada, insiste em se perspectivar como de não-retorno, agravando a frequência da repetição dos sinais de agravamento de uma dinâmica económica que é, antes de mais, paga com a contínua degradação das condições de vida dos cidadãos.

7 comentários:

  1. Há um dito popular " quem se lixa é o mexilhão ". É bem verdade. Sócrates, já não consegue desiludir mais, Passos Coelho vai dando uma no cravo outra na feradura. Ainda nunhum iluminado governativo ( Governo e Oposição - um porque governa mal outro porque não deixa governar ), se lembrou que qualquer pessoa, não deveria ter reforma superior a 10.000€ ( e não se trata de ser merecida ou não, partindo do principio que se têm reformas tão elevadas é porque fizeram descontos que lhes dão o direito de as ter ), fazer um tecto nas reformas, fazer sacrificios sim, mas não a pessoas com reformas de 250€, que nem sequer chegam ao salário minimo nacional, a maioria das vezes não chega para a medicamentação, quanto mais para a renda de casa. É assim que o governo e oposição se propoem a acabar ou reduzir os sem abrigo ? Fala-se em crise económica, pedem-se sacrificios a toda a gente, menos aos causadores da crise. Que sacrificios poderá fazer uma pessoa com 250€ de reforma ? O único que vejo é a morte . Morre o bicho acaba a pessonha. Sócrates, Passos Coelho, Louçã......acabam por ter todos a mesma escola. A culpa é sempre dos outros. Criam-se mais impostos, mas as despesas do estado diminuem ? Será que estes senhores todos vivem noutro pais ? Alguma vez fizeram alguma coisa na vida além de serem politicos ? Alguma vez foram trabalhadortes por conta de outrem antes de serem politicos. Ah ! Alguns foram funcionários do estado. Quadros do estado, a chefiarem qualquer coisa. Se houver algum iluminado que consiga limitar as reformas a , só serve de exemplo, 10.000€, haveria reformados a ganharem 250€, depois de 40 anos de descontos ? Há fome envergonhada neste país que é meu. E por ser meu, desgosta-me não conseguir fazer com que não se passe fome. Desgosta-me ter governantes que só se preocupam com eles próprios. Desgosta-me até que nos comparem aos espanhóis, em termos salariais.....desgosta-me que façam do povo, parvo. Enfim desabafei mais que comentei, mas também só publica o comentário se quizer, é um direito que lhe assiste.
    Cumprts.

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  2. Caro ZéParafuso :)
    Saiba que é com gosto e com orgulho que publico o seu comentário lúcido e verdadeiro... de tal modo que, se me permite!, subscrevo as suas palavras e associo-me, co particular ênfase, a duas das suas afirmações incontornavelmente verdadeiras: "(...) Há fome envergonhada neste país que é meu. E por ser meu, desgosta-me não conseguir fazer com que não se passe fome(...)"
    Bem-haja... é dos desabafos justos que que se faz a consciência crítica de que um país, a aprtir da qual se impulsiona a mudança - mesmo quando ela tarda em chegar...
    Um abraço solidário.

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  3. E para ajudar à festa a Irlanda, apontada pela direita lusa como exemplo a seguir, apresenta agora um risco de falência muito superior ao nosso.
    No entanto "ilustres" economistas como Camilo Lourenço, continuam a defender que só é posível baixar o défic, reduzindo drasticamente os salários dos funcionários públicos e as prestações sociais.

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  4. Carlos,
    ... a sensação com que se fica é de que pensar dá muito trabalho e os "ilustres" limitam-se a reproduzir as piores "receitas", revelando as suas efectivas preocupações: manter o funcionamento do sistema de lucros financeiros, ignorando o carácter basilar da economia que é prover organizadamente às necessidades das populações...
    um grande abraço.

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  5. Olá minha querida Amiga,
    ... pois também a mim me desgosta este país que temos...e que cada vez mais "perdemos" e citando A.Aleixo (que gosto muito, e há tempos me recordaste):
    "Tu, que tanto prometeste
    enquanto nada podias,
    hoje que podes... esqueceste
    tudo o que prometias..." :-)
    Infelizmente, e pelo o que por aí se apresenta, começo a acreditar que nada de melhor se avizinha! Será que quem está em boa posição para decidir, tentar e conseguir fazer melhor anda a dormir? Proponho uma análise exaustiva ao Parlamento, ao Governo e a todos os Orgão deliberativos, Isto só pode ser um virus!!!:-)
    Aquele Grande Abraço Alentejano de sempre
    Beijos

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  6. Beatriz,
    ... tens toda a razão: é um vírus!... o vírus do poder e do dinheiro, corrosivo e maquiavélico: destrói a capacidade humana de pensar e reconhecer o que é comum a todos e provoca lesões cerebrais que só permitem a percepção da gestão do lucro... é um vírus egocêntrico que provoca uma espécie de cegueira e obsessão e incapacita para a percepção limpa e desinteressada da realidade... um vírus esquizóide para o qual se não procura antídoto porque como é típico das doenças não permite o reconhecimento da sua natureza perversa...
    Com Aquele Grande Abraço Alentejano e um beijinho, obrigado, minha amiga! :)

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  7. Cara Ana Paula Fitas
    Uma curta ausência minha...um hiato na nossa comunicação...
    Subscrevo, integralmente, o seu post.
    Portugal integrou-se na Comunidade Económica Europeia sob o signo da hegemonia de uma modernização conservadora e este estado de conservadorismo parece-me que ainda não foi superado, cabendo a tarefa política a uma esquerda socialista que se pretende moderna. O país continua, por paradoxal que pareça, moderno e atrasado e o resultado consubstancia o aumento das desigualdades sociais havendo famílias que vivem abaixo da linha de pobreza, porque a modernização conservadora tem sido, do ponto de vista social, catastrófica, acusando atraso, injustiça e até exclusão social. Urge a correcção do défice orçamental, mas que já se tornou alibi para uma contra reforma social e temos de sair da obscuridade da titularização dos créditos sobre dívidas fiscais e entrar num esquema de orçamento estratégico e mais equilibrado de forma a que as gerações futuras não fiquem hipotecadas e se comece a vislumbrar um papel mais determinante no crescimento do país.
    Um abraço amigo e solidário :) e atrasado :)
    Ana Brito

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