sábado, 14 de agosto de 2010

Um País a Arder entre Diagnósticos e Opções Terapêuticas



Foram 86 mil hectares os que, em Portugal, arderam no ano passado. Este ano, até agora, já arderam 74 mil (ler Aqui)... incompatíveis com a sobrevivência da floresta e do mundo rural, os incêndios vão consumindo o território sem que a política de reflorestação e de preservação da floresta assuma um papel determinante no seu ordenamento. São os Bombeiros quem, no Verão, com as populações, desenvolve uma luta sem tréguas a que os políticos assistem numa espécie de supervisão de controle de danos... Entretanto, a comunicação social informa que o nosso país "dá uso zero" aos fundos comunitários para a floresta e que o Proder (Programa Operacional de Desenvolvimento Regional em que se deveria vir a investir desde há muito de modo a estarem garantidas as condições indispensáveis para a coesão nacional, territorial e social) tem uma taxa de execução tão baixa que o Governo está a pensar alterar as regras de acesso a este programa com o objectivo de agilizar as candidaturas, tendo já solicitado a Bruxelas um aumento dos apoios financeiros nesta área... Tudo isto peca por tardio... muito tardio!... e agora resta-nos esperar que, de facto, se inicie uma política séria de revitalização da floresta e do espaço rural uma vez que o interior está, cada vez mais, desertificado não só pelas razões estruturais conhecidas (decadência da agricultura, êxodo rural, desertificação física e ambiental) mas, também, por razões socio-políticas recentes entre as quais se destaca a persistência no encerramento em unidades de saúde (ler Aqui e, a título de exemplos, Aqui e Aqui), escolas (ler Aqui, Aqui e Aqui) e serviços -sendo que algumas destas estruturas foram criadas há poucas décadas com o objectivo de concretizar, através da descentralização, o combate este flagelo... se a tudo isto somarmos o desemprego (ler Aqui) e o encerramento de fábricas e postos de trabalho, percebemos que o panorama é deprimente e gravoso - de tal modo que se exige uma intervenção política radicalmente diferente da que se concentra, quase exclusivamente, nas metrópoles, nas questões financeiras e nos compromissos políticos com o exterior... não se propõe, naturalmente!, que a viragem no enfoque da estratégia de desenvolvimento implique o incumprimento destas vertentes de acção mas, é indiscutivelmente urgente ter a capacidade de as compatibilizar com o que consolida a real sustentabilidade do país.

10 comentários:

  1. Devagar... mas vamos chegar lá...
    Pena que a crise tenha posto travão na solução para este problema... alcatrão e betão, com fartura! Fora destas áreas, é deixar arder... pois quem precisa de bosques, florestas, planícies... da Natureza? Nós, animais humanos, pelo que tenho observado e constatado, de certeza que não precisamos...

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  2. Olá Voz a 0 DB :)
    Já sentira a sua falta :)
    ... é, de facto, inacreditável como avançamos de degradação em degradação sem remorsos na senda da destruição e do extermínio e como, noticiados os factos sem articulação, não emerge a consciência colectiva ao ponto de ser capaz de ser atendida a sua/nossa razão... até quando - é a pergunta cuja resposta, esperemos!, não fique por gavetas e intenções até ser tarde demais!
    Abraço :)

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  3. Cara Ana Paula Fitas

    Plenamente de acordo... A luta continua. Hoje deixo-lhe um poema de António Ramos Rosa...

    "Cada árvore é um ser para ser em nós"


    "Cada árvore é um ser para ser em nós
    Para ver uma árvore não basta vê-a
    a árvore é uma lenta reverência
    uma presença reminiscente
    uma habitação perdida
    e encontrada
    À sombra de uma árvore
    o tempo já não é o tempo
    mas a magia de um instante que começa sem fim
    a árvore apazigua-nos com a sua atmosfera de folhas
    e de sombras interiores
    nós habitamos a árvore com a nossa respiração
    com a da árvore
    com a árvore nós partilhamos o mundo com os deuses"

    Um abraço amigo e solidário
    Ana Brito

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  4. Cara Ana Brito,
    A poesia é realmente uma forma de excelência maior da linguagem... e mais não digo a não ser que adoro António Ramos Rosa e que o poema que a Ana escolheu para aqui partilhar é de uma sintonia justa ao nosso sentir comum.
    Um abraço amigo e solidário :)

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  5. Olá querida Amiga,
    Concordo plenamente com tudo o que dizes, mais facilmente ainda, porque agora estou por cá, no Alentejo profundo "deixado ao acaso". Já não basta o clima, os incêndios, a desertificação, ainda nos querem, e pelos vistos conseguem, desprover de algo tão essencial como a saúde e a educação (quando apregoam a igualdade de direitos para todos os cidadãos). Por vezes pergunto-me se vale a pena desenvolvermos projectos para melhorar a qualidade de vida e ajudar quem precisa... è um pouco "Remar contra a Maré, mas enquanto tivermos força vamos lutando, na esperança de um mundo melhor ou pelo menos com mais Igualdade :-)
    Aquele Abraço (torrido) Alentejano :-)
    Beijinhos
    Beatriz

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  6. Querida Beatriz,
    Obrigado pelas tuas palavras avisadas e reveladoras da consciência das dificuldades que se colocam, de facto!, a quem luta pela qualidade de vida das populações e pela igualdade de direitos para todos :)
    ... eu bem sei que é, infelizmente!, uma espécie de "luta contra a maré" mas, minha querida amiga, também sei que ambas sabemos que é assim que muitos naufrágios se evitam ou que, pelo menos, se podem minimizar os seus danos... e, como dizia a nossa querida Zézinha, temos que apelar ao "espírito de Bombeiro que há em cada um de nós"... em frente, pois! Não desistir e saber que, dispersos que estejamos, há muitos como nós a tentar lutar por boas causas por esse mundo fora :)
    Espero ir visitar-te um fim-de-semana em Setembro :)
    Aquele abraço tórrido e energético com que o Alentejo nos forjou a alma :)
    Beijinhos

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  7. Ana Paula Fitas,

    Quem bom lê-la, assim (não sendo bom o que aqui se lê).
    Fundamentalmente é bom ver que não estamos sós...

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  8. Caro Rogério :)
    Fico sinceramente feliz com o sentido das suas palavras :)
    - o Rogério sabe que sim, tal como sabe que é esta a nossa profunda e comum consciência e urgência em tentar todos os caminhos porque, como diz a canção, "não podemos ignorar" e de preferência, não só não continue a agravar-se mas, essencialmente que, de forma efectiva, melhore.
    Grande abraço :)

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  9. A campo fraco, lavrador forte:
    Há bastante tempo que não me regulo pelas notícias da comunicação social, escrita e falada, aliás, se fizéssemos uma avaliação, género boletim meteorológico, quem acompanha toda comunicação social teria ao sair de casa de ir ao mesmo tempo prevenido com chapéu-de-chuva, para a chuva e boné para o sol, de sobretudo, para o frio e de calção e camisa de meia manga para o calor e assim sucessivamente, tais as notícias díspares.
    Não há nada como opinar ou dar notícias quando não se tem responsabilidade de nada, aliás, se as notícias ou conselhos tivessem utilidade, os seus fazedores cobravam mais por elas.
    Como era bom ter escolas à porta de casa, quando não dentro, agora ver escolas com meia dúzia de alunos, entendo que têm um melhor rendimento, em turmas que sejam só de uma classe. Hospitais à beira da porta e se possível com um túnel para nos dias de chuva não irmos prevenidos com essa coisa esquisita que é o chapéu-de-chuva. Depois vem os senhores Presidentes de Câmaras dizerem que assim se está a desenvolver a desertificação mas quando há um qualquer investimento a ser feito, regra geral, fazem-no na sede do concelho e não se importando com as restantes freguesias: ai, os votos!
    Se, se tivesse de gerir uma Autarquia, Câmara ou Junta, como se de uma casa nossa se tratasse não havia tanto desperdício e não se candidatavam a tantos investimentos porque o dinheiro tinha de sair do nosso bolso e aí dava que pensar. Agora quando não é nosso e praticamente não se tem de prestar contas a ninguém não custa querer investir.
    O cínico é o que conhece o preço de tudo, mas não sabe o valor de nada. Óscar Wilde

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  10. Caro Manuel Pacheco,
    Obrigado pelo seu comentário.
    Apesar de não partilhar a opinião sobre os serviços de proximidade de escolas e unidades de saúde por razões que resultam do meu efectivo conhecimento do terreno e de considerar, por um lado, que a lógica economicista não deve minimizar os interesses das populações e, por outro, que são de facto os serviços e estruturas que garantem a autarcia indispensável ao combate à desertificação, penso que coloca o dedo na ferida no que se refer à questão dos critérios de selecção dos locais que a generalidade dos autarcas privilegia para a localização de novos investimentos.
    Votos de um bom domingo.

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