domingo, 28 de novembro de 2010

A Crise Económico-Financeira e Política da UE

Surpreende? Não, não surpreende... nem os que sempre apresentaram reservas à integração dos seus países no espaço comum do que hoje é a União Europeia, nem aos que, indefectivelmente, têm defendido (de Jacques Delors aos cidadãos e sindicatos) a construção de uma Europa Social contra a "tese" sempre aqui relembrada, da Europa a Duas Velocidades. Refiro-me, naturalmente, às declarações de Angela Merkel que veio hoje, oportunisticamente e em detrimento do sentido de responsabilidade social que se exige, também!, aos responsáveis políticos da UE , dar a conhecer à opinião pública, afirmando que a Alemanha, a partir de hoje, não irá contribuir para ajudar mais nenhum país (leia-se: Estado-membro da UE) em situação financeira grave pois considera que Berlim atingiu o limite da sua disponibilidade para tal, com a resposta às actuais crises de que a Grécia e a Irlanda são os mais mediaticamente recentes protagonistas. Independentemente das afirmações do Presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, ter, também hoje, afirmado que "a Europa está preparada para enfrentar outra crise", as declarações alemãs revelam: a) sinais de fraqueza da economia alemã considerada até agora como uma espécie de "economia-de-ferro" da UE e, consequentemente, um sintoma alarmante sobre o estado económico-financeiro da própria UE; b) que a retoma económica europeia está muito longe de ser alcançada; c) que se está a instalar a primeira grande crise política da UE com um dos seus mais antigos e estruturais Estados-membros a romper com os princípios do próprio Tratado de Roma (princípios considerados traves-mestras da arquitectura europeia e que não tendo sofrido alteração nas suas revisões ou na formulação dos Tratados seguintes, continuam, felizmente!!!, vigentes na jurisprudência comunitária), a saber, os Princípios da Subsidiariedade e da Solidariedade... Depois de décadas de emissão de mensagens sobre a importância social da integração e da consolidação europeia, veio agora a Senhora Angela Merkel mostrar o rosto do lado negro da UE: o da sua natureza neo-liberal capaz de hipotecar os interesses sociais das populações e os compromissos políticos em nome da defesa dos interesses do grande capital financeiro. Lamentável? Sim! Surpreendente? Não!

6 comentários:

  1. Cara Ana Paula

    Reforço o seu final: Lamentável? Sim! Surpreendente? Não!

    Entretanto, são imprevisiveis as consequências...

    Abraço

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  2. Caro Rogério,
    ... e a imprevisibilidade das consequências, essa sim, é que deveria preocupar Governos, partidos e cidadãos... contudo, continuamos a assistir ao espectáculo mediático que tenta fazer-nos tomar o desejável das aparências pela realidade... a crise não acabou e não vai acabar tão cedo... entretanto, entre o passado recente, o presente e o futuro próximo a curto e médio prazo, vamos registar significativas mudanças que se tornarão de ainda mais difícil gestão para todos...
    Abraço.

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  3. Querida Ana Paula

    Obrigada pelo post, muito esclarecedor!

    Uma vergonha a Srª Merkel, deu o tiro de partida para o salve-se quem puder...

    Beijinho

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  4. Divido-me, mas decido-me neste impasse da Europa. Compreendo que, dado cada país ainda ser um estado soberano é sua a responsabilidade da política que prossegue e respectiva influência na economia do seu território.

    É facto que a moeda única limita a liberdade de acção mas não a tolhe inteiramente. O ponto fraco, oculto, é a inaptidão estratégica dos governantes de cada estado e a aliança espúria e demagógica com o eleitorado ignorante e manipulado.

    A crise capitalista ocidental derivou mesmo da deslocalização mundial das indústrias para os países rurais subdesenvolvidos, compensando-se a diminuição do poder de compra dos assalariados ocidentais com as facilidades de crédito ao consumo e habitação.

    A diminuição da proporção dos salários no rendimento nacional de cada país nos útimos dez a vinte anos foi viabilizada com a ilusão da sustentação do consumo por via do endividamento e fitícia valorização do imobiliário corrente edificado, único tipo de mais-valia que não pôde migrar para ir explorar a mão-de-obra no Oriente...

    Agora, posto que na Europa não há nenhum federalismo responsável que arque com os desequilíbrios domésticos dos estados membros, apenas vejo a alternativa de uma actuação defensiva, enérgica, na forma de tributar pesadamente os bens e serviços com uma componente importada acima de uma dada proporção e subsidiar alguns custos das indústrias exportadoras. Isto, para lá das medidas já planeadas de controlo da despesa pública.

    A estratégia da redução de salários e pensões pode favorecer a competitividade da produção nacional, mas não pode deixar de ser acompanhada de queda quase-proporcional de preços na generalidade dos ditos bens e serviços "não-transaccionáveis" e da racionalização de um novo tipo de consumo de massas, timbre de um novo modo de vida das populações europeias.

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  5. Obrigado, querida Ariel :)
    ... é fundamental estarmos atentas a esta lógica tão pouco empenhada na construção do bem-comum... como a Ariel diz, este foi o "tiro de partida para o salve-se quem puder" - obrigado pela feliz formulação do cerne da questão, minha amiga :)
    Beijinho.

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  6. Caro VBM,
    É uma honra ter aqui este seu texto, lúcido e esclarecedor sobre a dinâmica interna do funcionamento comunitário onde, a par da ainda vigente soberania dos Estados, os mecanimos federalistas não têm a expressão que, no caso, poderia ajudar ao reequilíbrio... ficamos todos, assim, mais sózinhos e expostos, no contexto da fragilidades económicas nacionais a que se responde com uma incontornável redução da despesa pública que, contudo, "pesa" aos cidadãos sem aumentar a produção de forma capaz de justificar o nosso optimismo no futuro próximo... e, como bem diz, VBM, e ainda hoje ouvi população irlandesa comprovar, a única solução é, de facto, convencermos e agirmos de acordo com um novo tipo de "consumo de massas" e "um novo modo de vida"... Obrigado, VBM.
    Um abraço.

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